CRP | Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo



Como promover educação ambiental através do turismo em unidades de conservação

Artigo da revista Turismo em Análise desenvolve roteiros de visitação e iniciativas de interpretação ambiental na Floresta Nacional de Carajás

Vida acadêmica
Foto de rosto de um homem branco, de olhos castanhos e barba por fazer. Ele usa capacete preto com lanterna pequena acoplada e camisa azul e amarela. Atrás dele há uma parede rochosa.

Heros Augusto Santos Lobo. Foto: reprodução/ Lattes. 
 

O ecoturismo constitui uma forma de lazer muito presente na atualidade, o que traz a necessidade de promover a  educação ambiental como meio de sensibilizar os visitantes perante às áreas naturais. As Unidades de Conservação (UCs) são elementos essenciais para o ecoturismo, uma vez que promovem o envolvimento tanto de turistas como da população tradicional do local, misturando atividades de lazer com geração de empregos e renda. Sobre esse tema foi produzido o artigo Interpretação Ambiental nos Roteiros Ecoturísticos da Floresta Nacional de Carajás – PA, Brasil do mais recente volume da Revista Turismo em Análise. 

Foto de uma mulher jovem, parda de olhos castanhos, cabelos lisos, longos e pretos com as pontas descoloridas. Ela usa blusa branca de mangas longas e brincos grandes dourados. Ela sorri e atrás dela há um portão de ferro.

Ariana Silva Sousa. Foto: reprodução/ Lattes. 
 

Nesse estudo, os pesquisadores Ariana Silva Sousa, Heros Augusto Santos Lobo e Beatriz Veroneze Stigliano, todos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), buscam propor roteiros interpretativos, ou seja, rotas de turismo que busquem promover a educação ambiental, para a visitação da área de Floresta Nacional (Flona) de Carajás. Para levantar os atrativos naturais com potencial ecoturístico existentes na floresta, foi utilizada a ferramenta do Rol de Oportunidades de Visitação. Os roteiros, além de considerar diferentes perfis de público, demonstram o potencial atrativo de cada área e como essa pode ser utilizada publicamente. 

 

Flona de Carajás: uma Unidade de Conservação 

A Flona de Carajás  está inserida em um local com diversas UCs do bioma da Floresta Amazônica. Sua área abrange alguns municípios do estado do Pará: Parauapebas, Canaã dos Carajás e Água Azul do Norte. De acordo com os pesquisadores, nessa floresta está localizada a maior província mineral de ferro do mundo e, em seu interior, são realizadas ações de pesquisa científica, conservação, visitação e proteção. 

Foto de uma mulher branca, de cabelos ondulados, castanhos e na altura dos ombros. Ela sorri e usa óculos de sol, camiseta cinza, calça jeans de lavagem clara, casaco verde e leva bolsa preta nos ombros. Atrás dela há um guarda corpo de ferro e uma praia
Beatriz Veroneze Stigliano. Foto: reprodução/ufscar-br.academia.edu.

As UCs são áreas naturais protegidas por conta de suas características especiais.  Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNuc), consistem em “espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos”. 

O artigo explica que “as UCs são consideradas um espaço que permite a conciliação entre a conservação ambiental, o uso sustentável e a manutenção da economia e dos padrões sociais de diferentes públicos alvos”. Entre seus objetivos estão o favorecimento de condições para a preservação e conservação da natureza a partir do uso sustentável de parcela dos recursos naturais e a promoção para a educação ambiental, recreação em contato com a natureza e o ecoturismo. 

 

A criação dos roteiros 

Para a criação dos roteiros turísticos, foi combinada uma série de métodos de pesquisa. Além de uma análise documental e bibliográfica, os pesquisadores fizeram uma visita in loco, onde puderam realizar o diagnóstico dos principais recursos naturais da Flona com potencial para uso turístico. A escolha dos pontos analisados se deu de acordo com os atrativos naturais disponíveis no plano de manejo da UC.
 

Imagem de satélite com os principais pontos turísticos da FLONA de Carajás. Grande parte da área é verde escura e no lado direito há trechos com menor incidência de mata.  Os pontos turísticos estão numerados e indicados por setas, principalmente na metade superior da imagem. A área de floresta é delimitada por um contorno amarelo, a estrada por uma linha vermelha e os campos ferruginosos por uma linha azul. Ao lado da imagem há uma legenda explicando essas informações juntamente com a escala do mapa.

Mapa elaborado pelos pesquisadores com a localização dos pontos visitados na Flona de Carajás. Mapa: Reprodução/Revista Turismo em Análise.

 

Durante a visita, foi utilizada uma ficha de campo, desenvolvida a partir da ferramenta  de  interpretação do Rol de Oportunidades de Visitação. Essa ferramenta auxilia no planejamento do uso público das unidades de conservação, sendo utilizada para fazer o levantamento de diversas oportunidades de visitação. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), essa ferramenta “auxilia  na diversificação, orientação da implantação e promoção do manejo mais adequado dos ambientes naturais, sendo possível avaliar os perfis de visitação e estratégias de proteção dos recursos naturais”. 

 

Tabela que lista as atividades possíveis na FLONA de Carajás. O fundo é cinza e ela é dividida em quatro colunas com as atividades em ordem alfabética. Na primeira coluna constam atividades como Alimentação, Balneários, Boiacross, Bote de Navegação, Cachoeirismo, Camping, entre outras. Na segunda coluna Flutuação, Hospedagem, Kitesurf, mergulho, Mirante, entre outros. Na terceira, Piquenique, Rafting, Rapel, Tirolesa, entre outros. E na última, Trilhas, Voo de balão, Turismo rural, entre outros.
Atividades e serviços classificados a partir dos atrativos potenciais existentes na Flona de Carajás. Tabela: reprodução/ Revista Turismo em Análise.

 

Considerando todos os pontos visitados e analisados pelos pesquisadores, foram propostos três roteiros de turismo, divididos em graus de dificuldade, pensados de forma a proporcionar uma visitação mais adequada ao local. O roteiro A seria aquele com menor  grau de dificuldade, o B com grau intermediário e o C com um grau mais avançado. Segundo os autores, não há uma padronização, em nível nacional, que classifica o grau de dificuldade em trilhas. “No entanto, alguns elementos são essenciais na elaboração  e/ou  adaptação  de  projetos  de  trilhas,  como preocupação com o traçado da trilha; extensão e largura; segurança; tipo de utilidade; público alvo e acessibilidade”, afirmam. Os roteiros são apresentados no artigo  em forma de quadros informativos, contendo o ponto turístico, a descrição da atividade e uma imagem. 

 

Educação e Interpretação Ambiental

Juntamente com o roteiro, os pesquisadores levantaram possíveis temas que, durante a visitação, possam trabalhar as noções de educação e interpretação ambiental em cada ponto turístico da Flona. “Considerando que as caminhadas em trilhas são uma das atividades mais procuradas no ecoturismo, a existência de programas educativos por meio da interpretação ambiental torna-se indispensável”. Os autores ainda afirmam que é necessário que as atividades educativas abranjam a valorização e integração cultural dos povos tradicionais que habitam o local. 

De forma geral, os pesquisadores concluem que a Flona de Carajás é um local de grande importância para a conservação da biodiversidade. “No entanto, o ecoturismo ainda é incipiente na região e necessita de fortalecimento”, completam. Eles afirmam que há a necessidade de ações de educação ambiental que busquem, além de preservar o meio ambiente, integrar os visitantes com a comunidade local. Essa sintonia é essencial para evitar atividades ilegais e conflitantes que possam prejudicar esses povos.

 

Revista Turismo em Análise 

 Arte digital da revista. Na metade à esquerda da imagem, há o símbolo da revista, duas setas laranjas e três setas azuis de tamanhos diferentes que formam uma esfera. Na metade do lado direito, há o texto “RTA” em caixa alta e no mesmo tom de azul das setas. Logo abaixo há o texto em cinza “Revista Turismo em Análise”.

Arte digital da Revista Turismo em Análise.
Imagem: Reprodução/ Revistas USP

A Revista Turismo em Análise é o mais antigo periódico científico de turismo do Brasil, sendo editado desde 1990 pelo Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) da ECA USP, com publicação quadrimestral. Seu objetivo é promover o conhecimento científico sobre a área por meio da publicação de artigos e ensaios originais e seu interesse é global, com ênfase especial no Brasil e na América Latina. O 34° volume da Revista foi publicado em dezembro de 2023. 

O volume contou com três outras produções de pesquisadores da USP: Orientação ao cliente na hotelaria: mapeamento da produção científica, de Thais Bandinelli Vargas Lopes de Oliveira, que tem por objetivo realizar um mapeamento da produção científica sobre a orientação ao cliente (OC) na hotelaria;  Análise da Oferta de Empreendimentos Turísticos Associados ao Veganismo, de Romário Loffredo de Oliveira, que procura entender como o veganismo vem transformando o mercado turístico e PIB do turismo no Brasil: estimativas pelo método do quociente de participação do turismo, de Glauber Eduardo de Oliveira Santos, que busca elaborar estimativas das dimensões econômicas do turismo no Brasil.

 

 


Imagem de capa: Reprodução/ Sistema OCB/PA.