Como promover educação ambiental através do turismo em unidades de conservação
Artigo da revista Turismo em Análise desenvolve roteiros de visitação e iniciativas de interpretação ambiental na Floresta Nacional de Carajás
O ecoturismo constitui uma forma de lazer muito presente na atualidade, o que traz a necessidade de promover a educação ambiental como meio de sensibilizar os visitantes perante às áreas naturais. As Unidades de Conservação (UCs) são elementos essenciais para o ecoturismo, uma vez que promovem o envolvimento tanto de turistas como da população tradicional do local, misturando atividades de lazer com geração de empregos e renda. Sobre esse tema foi produzido o artigo Interpretação Ambiental nos Roteiros Ecoturísticos da Floresta Nacional de Carajás – PA, Brasil do mais recente volume da Revista Turismo em Análise.
Nesse estudo, os pesquisadores Ariana Silva Sousa, Heros Augusto Santos Lobo e Beatriz Veroneze Stigliano, todos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), buscam propor roteiros interpretativos, ou seja, rotas de turismo que busquem promover a educação ambiental, para a visitação da área de Floresta Nacional (Flona) de Carajás. Para levantar os atrativos naturais com potencial ecoturístico existentes na floresta, foi utilizada a ferramenta do Rol de Oportunidades de Visitação. Os roteiros, além de considerar diferentes perfis de público, demonstram o potencial atrativo de cada área e como essa pode ser utilizada publicamente.
Flona de Carajás: uma Unidade de Conservação
A Flona de Carajás está inserida em um local com diversas UCs do bioma da Floresta Amazônica. Sua área abrange alguns municípios do estado do Pará: Parauapebas, Canaã dos Carajás e Água Azul do Norte. De acordo com os pesquisadores, nessa floresta está localizada a maior província mineral de ferro do mundo e, em seu interior, são realizadas ações de pesquisa científica, conservação, visitação e proteção.
As UCs são áreas naturais protegidas por conta de suas características especiais. Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNuc), consistem em “espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos”.
O artigo explica que “as UCs são consideradas um espaço que permite a conciliação entre a conservação ambiental, o uso sustentável e a manutenção da economia e dos padrões sociais de diferentes públicos alvos”. Entre seus objetivos estão o favorecimento de condições para a preservação e conservação da natureza a partir do uso sustentável de parcela dos recursos naturais e a promoção para a educação ambiental, recreação em contato com a natureza e o ecoturismo.
A criação dos roteiros
Para a criação dos roteiros turísticos, foi combinada uma série de métodos de pesquisa. Além de uma análise documental e bibliográfica, os pesquisadores fizeram uma visita in loco, onde puderam realizar o diagnóstico dos principais recursos naturais da Flona com potencial para uso turístico. A escolha dos pontos analisados se deu de acordo com os atrativos naturais disponíveis no plano de manejo da UC.
Durante a visita, foi utilizada uma ficha de campo, desenvolvida a partir da ferramenta de interpretação do Rol de Oportunidades de Visitação. Essa ferramenta auxilia no planejamento do uso público das unidades de conservação, sendo utilizada para fazer o levantamento de diversas oportunidades de visitação. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), essa ferramenta “auxilia na diversificação, orientação da implantação e promoção do manejo mais adequado dos ambientes naturais, sendo possível avaliar os perfis de visitação e estratégias de proteção dos recursos naturais”.
Considerando todos os pontos visitados e analisados pelos pesquisadores, foram propostos três roteiros de turismo, divididos em graus de dificuldade, pensados de forma a proporcionar uma visitação mais adequada ao local. O roteiro A seria aquele com menor grau de dificuldade, o B com grau intermediário e o C com um grau mais avançado. Segundo os autores, não há uma padronização, em nível nacional, que classifica o grau de dificuldade em trilhas. “No entanto, alguns elementos são essenciais na elaboração e/ou adaptação de projetos de trilhas, como preocupação com o traçado da trilha; extensão e largura; segurança; tipo de utilidade; público alvo e acessibilidade”, afirmam. Os roteiros são apresentados no artigo em forma de quadros informativos, contendo o ponto turístico, a descrição da atividade e uma imagem.
Educação e Interpretação Ambiental
Juntamente com o roteiro, os pesquisadores levantaram possíveis temas que, durante a visitação, possam trabalhar as noções de educação e interpretação ambiental em cada ponto turístico da Flona. “Considerando que as caminhadas em trilhas são uma das atividades mais procuradas no ecoturismo, a existência de programas educativos por meio da interpretação ambiental torna-se indispensável”. Os autores ainda afirmam que é necessário que as atividades educativas abranjam a valorização e integração cultural dos povos tradicionais que habitam o local.
De forma geral, os pesquisadores concluem que a Flona de Carajás é um local de grande importância para a conservação da biodiversidade. “No entanto, o ecoturismo ainda é incipiente na região e necessita de fortalecimento”, completam. Eles afirmam que há a necessidade de ações de educação ambiental que busquem, além de preservar o meio ambiente, integrar os visitantes com a comunidade local. Essa sintonia é essencial para evitar atividades ilegais e conflitantes que possam prejudicar esses povos.
Revista Turismo em Análise
A Revista Turismo em Análise é o mais antigo periódico científico de turismo do Brasil, sendo editado desde 1990 pelo Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) da ECA USP, com publicação quadrimestral. Seu objetivo é promover o conhecimento científico sobre a área por meio da publicação de artigos e ensaios originais e seu interesse é global, com ênfase especial no Brasil e na América Latina. O 34° volume da Revista foi publicado em dezembro de 2023.
O volume contou com três outras produções de pesquisadores da USP: Orientação ao cliente na hotelaria: mapeamento da produção científica, de Thais Bandinelli Vargas Lopes de Oliveira, que tem por objetivo realizar um mapeamento da produção científica sobre a orientação ao cliente (OC) na hotelaria; Análise da Oferta de Empreendimentos Turísticos Associados ao Veganismo, de Romário Loffredo de Oliveira, que procura entender como o veganismo vem transformando o mercado turístico e PIB do turismo no Brasil: estimativas pelo método do quociente de participação do turismo, de Glauber Eduardo de Oliveira Santos, que busca elaborar estimativas das dimensões econômicas do turismo no Brasil.