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Da diplomacia aos shows de K-Pop: o que os eventos dizem sobre a sociedade?

E-book com Trabalhos de Conclusão de Curso de MBA investiga a gestão de diferentes eventos nos setores público e privado

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Em 24 de setembro deste ano,  o curso de MBA em Gestão de Eventos da ECA lançou o e-book Eventos, planejamento e gestão, com artigos selecionados entre os Trabalhos de Conclusão de Curso dos pós-graduandos e com organização dos professores Luiz Alberto de Farias e Ethel Shiraishi Pereira. O livro é dividido em três seções temáticas com três artigos cada, investigando desde eventos diplomáticos até estratégias de engajamento e shows internacionais. 

A ideia de fazer um livro, diz o professor Luiz, surgiu quando o curso foi pensado, para suprir a necessidade de um “elemento que marcasse e consolidasse o projeto do MBA”. Já o formato e-book foi escolhido por ser o mais democrático: “é o que melhor atende à disseminação do conhecimento, levando os conteúdos a todos, sem nenhum custo para o público”.

Os professores consideram o estudo de eventos como um “espelho da sociedade, a partir do qual pode-se pensar sobre o mundo em que vivemos": 

 

"Os temas defendidos nos artigos selecionados refletem preocupações do momento e, se de fato os eventos são o espelho da sociedade, podemos ler os textos com o intuito de compreender elementos que perpassam os mecanismos do planejamento, organização e gestão dos eventos — mas também aspectos sobre o mundo em que estamos vivendo."

Ethel Shiraishi Pereira e Luiz Alberto de Farias, organizadores do e-book
 

 

O que move os eventos diplomáticos do Brasil? 

 

No artigo Eventos nas representações diplomáticas do Brasil no exterior, Ligia Margaret Kosin Jorge e Vânia Penafieri de Farias mostram os tipos de eventos realizados pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) no exterior, o contexto em que são promovidos e seus propósitos estratégicos, com destaque para o papel dos encontros privados, comumente interpretados como meros eventos de socialização.

 

"Muitos diplomatas definem sua profissão como baseada em três funções: representar, informar e negociar."

Ligia Margaret Kosin Jorge e Vânia Penafieri de Farias, especialistas em Gestão de Eventos

 

Foto de homem branco com cabelos curtos, lisos e brancos falando a uma plateia. Ele veste terno preto com camisa azul e gravata amarela. Atrás dele, há uma bandeira do Brasil e uma parede marrom com uma tela com os dizeres município mais seguro em branco com o fundo azul. À sua frente, estão as cabeças de diversas pessoas, a maioria homens, sendo que as mais  próximas à câmera estão desfocadas.
25 dos 30 entrevistados relatam sentir falta de uma instrução formal em cerimonial e protocolo, o que, de acordo com o artigo, não é ofertado no Instituto Rio Branco, responsável pela formação dos diplomatas brasileiros. Foto: reprodução/Fotos Públicas.

As informações,  obtidas pelas autoras por meio de entrevistas remotas com 30 diplomatas de carreira do Serviço Exterior Brasileiro, revelaram que as áreas em que os diplomatas mais participam de eventos são a empresarial (93,3% dos entrevistados já participaram de eventos na área) e artístico/cultural (90% dos entrevistados já participaram). Já entre os objetivos para a realização de eventos no exterior, os mais destacados são representação (96,7%) e promoção cultural (93,3%). Os dados mostram conformidade com a “percepção geral de que diplomacia envolve promover o comércio e fazer negócios, além de levar a cultura do país para o público internacional”.

As pesquisadoras também traçaram um perfil demográfico dos diplomatas entrevistados. Ao todo, foram 30% mulheres e 70% homens. Mais da metade deles (56,7%) têm entre 11 e 20 anos de carreira, 30 % entre 21 e 30 anos e 13,3 % mais de 30 anos. Além disso, dizem Lígia e Vânia, a grande maioria (86,7%) nunca trabalhou no Cerimonial do Itamaraty ou da Presidência da República, mas 76,7% já trabalharam com promoção comercial, o que “confirma a importância do setor econômico para as relações internacionais”. 

Por fim, as pesquisadoras comentam que todos os diplomatas entrevistados destacaram a importância de promover eventos no exterior como ferramenta diplomática: 

 

"A diplomacia é um instrumento para fazer política externa, mas é feita principalmente por conectar pessoas. Somos construtores de pontes e só se consegue conectar com as pessoas quando elas se reúnem."

Fala de um dos diplomatas entrevistados 

 

O que é preciso para trazer shows de K-pop ao Brasil? 

 

No artigo Desafios e perspectivas para o mercado de shows de K-pop no Brasil, Amanda Alves de Medeiros Moraes volta seu olhar para duas empresas brasileiras que organizam shows de K-Pop no país, sendo uma de pequeno/médio e outra de grande porte.

 

"O mercado de shows de K-pop no Brasil está muito aquecido e traz desafios na mesma medida em que desfruta de boas possibilidades."

Amanda Alves de Medeiros Moraes, especialista em Gestão de Eventos
 

 

Foto de sete homens amarelos com cabelos curtos e lisos entre loiros, e castanhos se apresentando em um palco. Eles vestem jaquetas de couro pretas, calças e sapatos pretos. Todos seguram microfones e o homem mais à esquerda está cantando. A maioria está de pé, sendo dois agachados à direita da imagem. O fundo é escuro com iluminação no alto em  azul e na parte baixa há degraus cor de rosa.
Ainda que esteja longe de alcançar estilos como o funk ou sertanejo, a popularidade do K-pop vem crescendo no Brasil. Foto: Reprodução/K-pop-Stack.

Em entrevista com proprietários e produtores dessas empresas, a autora notou avaliações variadas sobre a popularidade da cultura coreana, indo desde o interesse do público jovem, “que consome bastante conteúdo e promove engajamento” até a “inovação por parte de empresas e artistas”. Além disso, ela percebeu que o principal obstáculo para a realização de shows do gênero no Brasil surge de divergências entre as culturas coreana e brasileira. 

A autora conta que os fãs brasileiros são conhecidos por “demonstrarem seu amor de forma bastante proeminente, valorizando fotos e especialmente contato físico, o que, para a Coreia, não é comum”. “Possibilitar interações artista-público”, diz Amanda, seria “uma tarefa árdua para as empresas brasileiras, no sentido de atender tanto ao desejo do público quanto às exigências das empresas coreanas”. 

 

"As culturas também divergem no que é relativo a negociações, contratos e precificação. Ponto destacado especialmente pela empresa B, as formas de realizar contratos e demonstrar credibilidade são diferentes, o que por vezes gera desconfiança entre as partes e pode tornar as negociações longas."

Amanda Alves de Medeiros Moraes, especialista em Gestão de Eventos
 

As negociações, sempre feitas em dólar, e a resistência em adaptar os valores para a realidade econômica do Brasil, aumentam os custos para as empresas brasileiras. Desse modo, o custo final dos ingressos sobe, dificultando ainda mais o acesso do público aos shows. 

 

"Estes desafios são antigos, conforme observado pelas próprias empresas, e assim não são superáveis, mas são definitivamente manejáveis e podem ser até reduzidos, especialmente com inovação."

Amanda Alves de Medeiros Moraes, especialista em Gestão de Eventos

 

A importância de dar espaço ao trabalho discente

 

"Os MBAs oferecem um perfil mais aplicado, mais conectado às práticas de mercado, a um olhar sobre o ambiente profissional [...] Mas um MBA da USP não pode deixar de lado a essência de nossa Universidade: a marca da reflexão e do aprofundamento do conhecimento." 

Luiz Alberto de Farias, docente do CRP e organizador do e-book. 
 
 Foto de homem branco sorrindo. Ele tem cabelos curtos, lisos e brancos, barba e bigode brancos e olhos castanhos. Ele veste camisa branca e blazer preto. O fundo da imagem é bege.
Luiz Alberto Beserra de Farias é um dos organizadores do e-book. Foto: reprodução/Lattes

Para o professor Luiz Alberto, “o livro é um tipo de celebração ao saber”, mas também uma forma de estimular os estudantes a pensar na continuidade de seus estudos e trabalho como pesquisadores. Luiz explica que a execução e controle de quaisquer “atividades e recursos, a fim de atingir objetivos específicos em consonância com os prazos, orçamento e escopo definidos” se dá por meio da gestão de projetos, ressaltando a importância e caráter interdisciplinar do curso

Foto de mulher amarela sorrindo. Ela tem cabelos ondulados e grisalhos até a altura das orelhas e olhos castanhos. Usa óculos de armação redonda e colorida e veste uma camisa verde escura. O fundo da imagem é amarelo.
Ethel Shiraishi Pereira também é organizadora da publicação. Foto: Reprodução/Escola Aberje de Comunicação. 

O docente comenta que, além das disciplinas, são ofertados seminários durante o MBA. Esses seminários trazem os temas mais "quentes" do momento, com a participação de especialistas em diversas áreas. “Isso acaba por desaguar em trabalhos de disciplinas e trabalhos de conclusão mais criativos, diversos e que abordam temas inovadores”, como os eventos afro-brasileiros, engajamento e produtividade, diplomacia, etc. 

 

"Eventos são pontos de encontro de pessoas que proporcionam diálogo frente às questões que impulsionam e mobilizam a sociedade. O livro espelha um pouco disso, demonstrando a amplitude que os eventos carregam em si, como os movimentos culturais contemporâneos, as disputas simbólicas, as questões de inclusão e diversidade."

Luiz Alberto de Farias, docente do CRP e organizador do e-book 

 

 

 


Foto de capa: reprodução/GameHall.