Pesquisa na ECA: conheça mais sobre o Programa de Pós-Doutorado

Voltado para o desenvolvimento da pesquisa avançada, o pós-doc é uma oportunidade para explorar temas com mais liberdade e experimentação 

Vida acadêmica

Dizer que você é pós-doutorado em algo, ainda mais no mundo acadêmico, é uma coisa que pode causar certo espanto, pois isso significa um grau de conhecimento realmente elevado. Mas afinal, o que é um pós-doutorado? Muitas vezes, um certo mistério acaba por repousar sobre ele, não só para quem está fora do ambiente universitário, mas também para os menos experientes do meio, como os estudantes de graduação. 

O pós-doutorado é um tipo de pesquisa científica, normalmente voltado para os que adquiriram o título de doutor há um curto intervalo de tempo. Como aqueles que possuem doutorado há mais tempo tendem a já estar inseridos no mercado de trabalho como professores e pesquisadores, a maior parte das bolsas costuma ficar com os recém-doutores.

Não é um título, nem um curso, assim como não é necessário desenvolver uma tese. No pós-doc, o pesquisador pode escolher o tema sobre o qual irá se debruçar, aumentando o escopo dos estudos empreendidos no mestrado ou no doutorado, ou então partindo para uma área completamente nova. Por isso, essa etapa da carreira acadêmica é a mais livre. 

É o momento mais adequado para a realização de novas experiências, jogando luz sobre um assunto específico que é compreendido como relevante pelo pesquisador. Essa maior liberdade também advém do fato de que no pós-doc não há a figura do orientador, mas sim do supervisor. 

 

A figura do supervisor 
Foto em preto e branco de um homem branco segurando um microfone na mão direita. Sua mão esquerda está erguida em um gesto de afirmação. Ele tem cabelos pretos e curtos e veste um casaco de moletom nas cores preta e cinza.
Professor Luciano Maluly. Imagem: Reprodução/Marcos Santos - USP Imagens.

Conversamos com o professor do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA, Luciano Maluly, que atualmente é supervisor de um trabalho de pós-doc. Ele conta que seu papel é “trabalhar o planejamento da pesquisa junto com o pós-doutorando, bem como seu desenvolvimento e as publicações que vão sendo geradas dentro dela.” Essa, aliás, é uma característica da pesquisa acadêmica em geral: a produção de muitos textos no decorrer do processo, que vão sendo publicados em revistas especializadas ou livros. 

Os resultados que vão sendo obtidos devem ser inseridos no relatório de pesquisa, que junto com o relatório das atividades paralelas realizadas pelo pesquisador, compõem o  relatório final. O preenchimento desses documentos é acompanhado de perto pelo supervisor o tempo todo. 

Segundo o guia para o Programa de Pós-Doutorado na USP, o docente escolhido como supervisor “deverá possuir título de doutor e competência reconhecida em área de atuação compatível com a do projeto”, além de um vínculo ativo com a Universidade. Dessa forma, tenta-se garantir que o pesquisador terá uma supervisão adequada. 

Bom, mas e o próprio pós-doutorando? O que ele faz durante as suas pesquisas e como faz?

 
 
O pós-doutorado: aspectos acadêmicos e científicos 

A duração do pós-doutorado varia de acordo com a instituição. Na USP, ele pode ser feito em até cinco anos.  Ainda de acordo com as disposições do Programa de Pós-Doutorado da USP, o pesquisador deve cumprir uma carga horária total de 960 horas e ao término do programa entregar seu relatório final. Apenas depois disso é que ele receberá o atestado de conclusão.  

Edwaldo Costa, que concluiu recentemente seu pós-doutorado sob supervisão do professor Maluly, compartilhou que conciliar a vida profissional com os estudos não é fácil, já que eles exigem muita leitura e uma grande entrega. Ele - que é jornalista da Marinha do Brasil e assina uma coluna no site do Jornalismo Esportivo da ECA - teve Jornalismo e Seleção Brasileira: a relação entre a vitória e a derrota como tema de seu pós-doc. 

Ele conta que decidiu fazer um pós-doc porque “é através das pesquisas que expandimos o conhecimento, mudamos nossas convicções e paradigmas, crenças sobre a vida, a sociedade e a própria ciência. Pesquisar também é contribuir para o desenvolvimento da sociedade.” A ECA, por ser uma referência na sua área, a da comunicação, proporcionou a Costa um intercâmbio intelectual com pesquisadores, discentes e docentes, inclusive vindos de outras universidades. 

Essa troca é, para Maluly, um ponto importante da experiência de pós-doutorado, que dá a possibilidade de pesquisadores de diferentes origens se encontrarem na USP. “A universidade não pode apenas formar e excluir essa pessoa do seu universo. De certa forma, é uma abertura da USP e é por isso que eu vejo o pós-doutorado como uma das coisas mais importantes da universidade”, comenta o docente. 

 Foto de cinco jogadores da seleção brasileira treinando. Três estão com uma camiseta preta, um está no centro e com a bola, vestindo um colete laranja vivo, ao passo que no fundo da imagem um outro acompanha com o olhar o que acontece no primeiro plano, também ele trajando o mesmo colete laranja. Os cinco participam da chamada rodinha, um treino muito comum, no qual os jogadores se dividem em dois grupos e tentam roubar a bola do grupo que tem a sua posse.
O pesquisador Edwaldo Costa teve a oportunidade de acompanhar, para seu pós-doc, os treinos da Seleção Brasileira de futebol às vésperas da Copa América de 2019. Imagem: Reprodução/Flickr 

A interdisciplinaridade salientada pelo professor é confirmada por Costa. Em seus dois anos junto ao programa, Costa organizou e participou de workshops, congressos, bancas de graduação, mestrado e doutorado, além de ter publicado textos em diversos meios. No ano de 2019, pôde acompanhar a cobertura jornalística durante a concentração da Seleção Brasileira na Granja Comary. 

Tudo isso lhe trouxe um domínio maior sobre seu campo de atuação, conforme ele nos fala: “Pude entrevistar, refletir e discutir o tema da minha pesquisa com pesquisadores e profissionais da área de comunicação que são referências nacionais e internacionais.” Edwaldo afirma que também conseguiu enxergar como é crucial a união entre teoria e prática, algo muito incentivado no Programa de Pós-Doutorado da ECA. 

 

Etapas do processo

O regulamento de Pós-Doutorado da ECA define como objetivo do programa “melhorar o nível da excelência científica e tecnológica da Unidade e da Universidade”. Esse conjunto de regras é  bastante minucioso e serve para guiar o pesquisador nas etapas do pós-doc. De início, é necessário apresentar o plano de trabalho e o projeto de pesquisa. O primeiro deve detalhar as atividades que serão desenvolvidas, com justificativa e cronograma de execução. O intuito é que tais atividades “disseminem os resultados de pesquisa e promovam a interação com os corpos docente e discente da ECA.”

Já o projeto de pesquisa serve para arrematar a organização da proposta de pesquisa, com a formulação do problema, objetivo, justificativa, metodologia e cronograma. Por serem documentos relacionados, esse último deve estar incluído no plano de trabalho. 

Sobre o Programa de Pós-Doutorado
 

O Programa de Pós-Doutorado da USP é vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), que fomenta e organiza os programas e políticas de pesquisa. Nas Unidades, é administrado pelas Comissões de Pesquisa (CPq)

Como as pesquisas acabam gerando despesas, os pós-doutorandos muitas vezes necessitam de bolsas para financiar o trabalho. O auxílio financeiro pode ser oferecido pelas chamadas agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

Ao pesquisador também cabe participar de atividades diversas na Escola, como foi o caso de Costa. Isso inclui desde aulas, seminários e orientação de grupos de estudo, até a aplicação de provas e trabalhos ou preparação de material didático. Por fim, apresenta-se um relatório final, aprovado pelo supervisor, pelo Conselho do Departamento e pela Comissão de Pesquisa. Essa etapa é crucial, pois encerra a participação no programa. Mas vale apontar que a ECA tem o direito de não emitir o atestado de pós-doutorado caso o relatório seja considerado insuficiente. 

Entrar no Programa de Pós-Doc e levá-lo a cabo realmente exige muita dedicação e conhecimento. Mas vale a pena aumentar os aprendizados e ser responsável por fazer avançar a pesquisa em uma área específica, onde ela provavelmente ainda não chegou. Como ressalta Costa, “as práticas vivenciadas no pós-doc foram significativas para a aquisição de conhecimento e para um melhor exercício da minha profissão. Elas, sem dúvida, enriqueceram o meu conhecimento sobre jornalismo e jornalismo esportivo.” 

 

 


Foto de capa: Reprodução/Mariana Chama