CCA | Departamento de Comunicações e Artes



Obra inédita da Semiótica da Cultura é traduzida por docente da ECA

No centenário do semioticista Iúri Lotman, Mecanismos Imprevisíveis da Cultura ganha tradução diretamente do russo pela professora Irene Machado

Vida acadêmica
Foto do rosto da professora Irene Machado. A foto está em preto e branco com layout circular. Uma mulher mais velha de expressão séria, cabelos cacheados curtos e grisalhos na altura das orelhas. Ela está usando um colar de várias pedras brancas
Professora Irene Machado. Foto: Acervo pessoal

Mecanismos Imprevisíveis da Cultura é um livro que trata sobre questões da Semiótica da Cultura, campo que estuda a interação entre as culturas, suas transformações, produção de sentidos e processos da linguagem. A autoria é do semioticista russo Iúri Lotman e sua primeira tradução para o português, lançada no centenário do autor (1922-2022), deve-se à professora Irene Machado, do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) da ECA.  A docente possui uma longa trajetória de estudos e trabalhos diversos na área da Semiótica da Cultura, além de manter contato com textos de Lotman desde o início dos anos 90. 

 

O imprevisível na transformação cultural
 

Já no título, o livro atrai a curiosidade. O imprevisível refere-se às diversas variáveis que envolvem o processo de transformação da cultura. A  professora Irene explica: “ a ideia de mecanismo não é simplesmente o funcionamento da cultura do ponto de vista descritivo. Também não é um automatismo de um ponto de vista de uma física (...). É  mecanismo do ponto de vista desses processos de modificação e transformação cultural, que vêm pelos mais variados caminhos.” 

Livro Mecanismos Imprevisíveis da Cultura. A imagem de capa é uma nuvem de fumaça ascendente, densa e vermelha num fundo preto. À direita e acima há uma caixa de texto preta com o nome do livro e estão distribuídos na capa os créditos de autoria e tradução
Livro Mecanismos Imprevisíveis da Cultura. Foto: reprodução/ Instagram da Hucitec Editora

É por esse motivo, diz a docente, que a incapacidade de prever estes mecanismos é um forte elemento da obra.  “A imprevisibilidade é a elaboração daquilo que não é conhecido.” Ela acrescenta que o pensamento do autor ajuda também a compreender como grandes transformações culturais acontecem de modo quase que imperceptível. 

Lotman se propôs a mostrar que dentro do processo histórico, que aparentemente é linear, “formam-se erupções que de repente explodem”, como diz a professora Irene. O livro foi escrito em um período de instabilidade política e grandes reviravoltas sócio-culturais, marcado pelo fim da Guerra Fria,  a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. 

Durante esse importante período de transição histórica, Lotman se recuperava de um AVC sofrido em 1989, que o impossibilitou de ler e escrever, mas manteve sua mente lúcida. Por conta disso, o  processo de escrita só foi possível através de ditados feitos pelo autor para sua esposa Zara Grigoriévna Mints,  e posteriormente para Tatiana Kuzovkina e Vladislava Gekhtman, que tiveram o trabalho de secretariar o autor após a morte de sua companheira. 

 

A importância de se traduzir Iúri Lotman
 

À primeira vista, os textos russos de Semiótica da Cultura podem parecer distantes do contexto latino-americano, mas existem similaridades entre as duas escolas que mostram como o pensamento russo nessa área pode se inserir com familiaridade na perspectiva  brasileira.  Uma das coisas que comprova isso é que muitas das traduções existentes de semioticistas russos são latino-americanas, o que revela uma afinidade  entre processos semióticos de  culturas diferentes. Isso reafirma a importância de Lotman  ganhar uma tradução em português.

A missão de traduzir o autor russo se encaixou bem na  trajetória acadêmica de Irene Machado, que teve seus primeiros contatos com abordagens teóricas sobre Linguagem e Cultura já na graduação, no curso de Letras com habilitação em Russo, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O encontro com essa área de estudo a levou a fazer mestrado em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e a se aprofundar cada vez mais no campo da Semiótica da Cultura ao longo dos anos seguintes. Esse caminho a guiou até os trabalhos de Iúri Lotman no início dos anos 90, o que fez a docente desenvolver grande afinidade com os textos do autor.

Sobre Iúri Lotman
 
Foto do rosto de Iúri Lotman. Foto em preto e branco de layout circular de homem mais velho com olhar sorridente, com bigode grosso, quase totalmente branco e cabelos quase totalmente brancos com comprimento na altura das orelhas.
Iúri Lotman: Foto: reprodução/ Antropofagias

Iúri Lotman foi semioticista, teórico, historiador da cultura e fundador da Escola Semiótica de Tartu-Moscou. Ao longo de sua carreira, realizou trabalhos relacionados à literatura, mitologia, cinema, teatro, artes visuais, moda e culturas pré-colombianas, o que mostra a diversidade de seu pensamento em Semiótica da Cultura.

A partir daí, Lotman se torna uma importante referência para as pesquisas da docente: “o trabalho com os textos do Lotman sempre foi fundamental para mim, então eu sempre estava preocupada com as publicações e traduções de novos textos.” 

O aprofundamento nas leituras do autor russo levou a docente à iniciativa de traduzir a obra: “eu percebi que estava diante de um pensamento bastante atual, então eu pensei que esse livro realmente merecia um bom texto em português.” Após um longo processo de tradução, agora torna possível conhecer em português o  pensamento contemporâneo de Iúri Lotman em Mecanismos Imprevisíveis da Cultura.

 

Para mais informações sobre Mecanismos Imprevisíveis da Cultura, acesse o site da editora Hucitec, onde o livro está disponível para venda.
 

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