Fapesp seleciona projeto de Educomunicação sobre emergência climática
Em parceria com Ministério do Meio Ambiente, estudo proporá política pública para abordar a mudança climática em escolas
O Programa de Pesquisa em Políticas Públicas (PPPP) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) selecionou 70 propostas em seu último edital. Dentre elas, o projeto Como a educomunicação pode ampliar e qualificar as práticas de educação climática na Educação Básica no Brasil? co-coordenado por Thaís Brianezi e Ismar de Oliveira Soares, docente e professor sênior do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) da ECA respectivamente.
Com duração de dois anos, o projeto receberá cerca de 225 mil reais da Fapesp e seis bolsas de estudo: duas bolsas de doutorado, duas bolsas de mestrado e duas bolsas de jornalismo científico. Além da parceria do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima (MMA), o projeto também contará com a participação do Ministério da Educação (MEC) e da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP).
Ciência e governança
O Programa de Pesquisa em Políticas Públicas (PPPP) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) oferece apoio financeiro a projetos de pesquisa para a criação, aprimoramento e implementação de políticas públicas, em coprodução com instituições de ensino superior e/ou pesquisa e órgãos do setor público, como prefeituras, secretarias estaduais ou municipais e Ministério Público, por exemplo.
Segundo nota publicada pela Agência Fapesp, o programa tem por objetivo “promover o encontro do conhecimento científico com atores e instituições que fazem a gestão das políticas públicas ou são seu público-alvo, visando a aplicação direta do conhecimento científico no aprimoramento das políticas e da gestão pública”.
Os projetos selecionados pelo programa contam com até 350 mil por ano por até quatro anos e cobrem variadas áreas de atuação: saúde, meio ambiente, segurança pública, educação, cultura, lazer, entre outras.
A educação ambiental precisa de mudanças
A emergência climática é um tema ainda pouco abordado nas escolas. Para a equipe do projeto, um dos motivos é a abordagem tímida e prescritiva que a temática recebe nos currículos escolares.
Segundo o texto aprovado pela Fapesp, as práticas de educação climática, além de insuficientes em quantidade e cobertura, tendem a apresentar “uma leitura conteudista com um rol de dicas e sugestões práticas de caráter comportamental, simplista, reducionista e descontextualizada”.
A professora Thaís Brianezi avalia que a educação ambiental praticada nas escolas é muito voltada para a teoria e nem sempre considera a vivência e a relação que as pessoas têm com a região em que vivem. “A emergência climática é uma questão complexa e exige conhecimento das ciências duras, mas também precisa da educação ambiental mais crítica que trabalhe os territórios, as vivências, a participação social”, acredita a docente.
A hipótese a ser testada é a de que as práticas educomunicativas podem contribuir para que o conhecimento sobre a emergência climática seja apropriado de forma crítica e criativa pelas comunidades escolares, mobilizando a população a atuar como co-criadora de soluções para o problema.

Colocando em prática: metas e resultados esperados
O projeto de pesquisa irá identificar e mapear as principais organizações de educação e comunicação que já atuam no Brasil enfrentando a emergência climática. O objetivo é produzir um diagnóstico sobre sua distribuição territorial, público participante, temáticas abordadas, bem como as mídias e didáticas mais recorrentes. “Já tem muita gente usando a educomunicação para mobilização e ativismo, como projetos coletivos e educação popular, para trabalhar a emergência climática Brasil afora”, afirma Thais. O problema é que nem sempre esse trabalho chega às escolas.
Após o mapeamento, a equipe de pesquisa pretende elaborar uma metodologia para incluir, a partir de práticas educomunicativas, o tema da emergência climática na Educação Básica. Em seguida, a ideia é formar e capacitar, por meio de cursos sobre educação ambiental, professores, professoras e outros agentes de educação da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo. Espera-se instruir, pelo menos, 220 profissionais nas 65 escolas que participam do projeto. Com professores qualificados para ajudar a implementar a metodologia, a expectativa dos coordenadores é estimular, monitorar e avaliar os projetos de intervenção que surgirem nas escolas.
A equipe do projeto, educadores e estudantes trabalharão juntos nas ações de intervenção local, priorizando a manutenção de um ambiente que permita e incentive a expressão e autoria dos jovens na criação de reflexões, propostas, recursos didáticos e produções midiáticas.
Desafios e tensões
Não será um percurso fácil. A professora Thaís indica pelo menos três grandes desafios que deverão ser enfrentados durante a pesquisa:
- Enfrentar a ideia, hoje bastante comum, de que a tecnologia é a única ferramenta necessária para o combate à emergência climática. Para a docente, essa valorização dos recursos digitais pode acabar distanciando a população dos problemas que estão acontecendo na vida real.
- A educomunicação adota a ideia de facilitar a linguagem usada com a população. Uma das propostas da pesquisa é criar uma forma de explicar um tema complexo, usando para isso uma linguagem mais simples e lúdica. O desafio, para a pesquisadora, é não “simplificar demais”, correndo o risco de cair em uma discussão superficial.
- A professora Thais vê com preocupação o uso das redes sociais para falar sobre a emergência climática. Por um lado, as redes sociais são capazes de atingir um grande número de pessoas, mas, por outro, elas também podem levar a radicalismos. “Apesar da lógica de uma rede social ser de polarização, que pode levar ao discurso de ódio, eu também consigo usá-la sob uma lógica de ultrapassar barreiras”, afirma a docente. Como usar as ferramentas e tecnologias fornecidas pelas big techs para levar conhecimento e estimular intervenções sociais é um dos desafios que deverão ser enfrentados durante a pesquisa.
Não há resposta pronta. A proposta do projeto é de testar e aplicar hipóteses e, no decorrer do estudo, propor soluções para os desafios que virão pela frente.
Thaís Brianezi: a educação para salvar o planeta

Thaís Brianezi Ng é graduada em Jornalismo pela ECA, mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e doutora em Ciência Ambiental pela USP. Desde julho de 2022, é professora do CCA e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) e do Laboratório de Inovação, Desenvolvimento e Pesquisa em Educomunicação (Labidecom).
“O fato de não ser suficiente não significa que não é necessário”, afirma Thaís sobre a importância da educação ambiental na luta para reduzir o avanço da emergência climática. Ainda que a solução do problema vá além das atitudes cotidianas, a pesquisadora reforça que a contribuição da população é essencial.
“As mudanças estruturais não vão acontecer se não tiver uma pressão. E a pressão vem de indivíduos que estão engajados [...]. Já dizia Paulo Freire: a educação não transforma o mundo, ela transforma as pessoas, que podem transformar o mundo”.
Thaís Brianezi, professora do Departamento de Comunicações e Artes
A coordenadora e idealizadora do projeto tem experiência na área de comunicação e sociedade, jornalismo e educomunicação, com ênfase na problemática socioambiental. Atua principalmente como pesquisadora, professora, analista de projetos e políticas públicas de pesquisa, tendo trabalhado por seis anos na Prefeitura de São Paulo como analista de políticas públicas e gestão governamental.