CTR | Departamento de Cinema, Rádio e Televisão



Docente relata crise e resistência da Cinemateca Brasileira

Artigo de Eduardo Morettin, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão, foi publicado em periódico editado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz

Vida acadêmica

A longa crise atravessada pela Cinemateca Brasileira e as diversas mobilizações em defesa da entidade são tema de artigo assinado por Eduardo Morettin, docente do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da ECA. O texto integra a mais recente edição da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (RECIIS), periódico interdisciplinar editado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

A Cinemateca Brasileira é a instituição federal responsável pela documentação, preservação e difusão da memória audiovisual do país. Seu acervo reúne, entre outros itens, filmes de ficção e documentário, telenovelas e reportagens da extinta TV Tupi, equipamentos cinematográficos e milhares de documentos, como cartazes, roteiros, artigos de jornal, correspondências, livros e fotografias. O arquivo fílmico é um dos maiores da América Latina, com cerca de 30 mil títulos em 250 mil rolos de película armazenados em vinte laboratórios climatizados. 

O acervo da Cinemateca tem contribuído para a produção de inúmeros documentários e pesquisas dentro e fora do Brasil desde sua fundação pelo crítico e professor Paulo Emílio Salles Gomes, em 1946. Além disso, a entidade sempre buscou estimular o interesse pelo cinema e sua preservação por meio da promoção de mostras, cursos e outros eventos abertos ao público. Todas essas atividades não seriam realizadas sem a existência e dedicação de um corpo técnico altamente qualificado e a manutenção dos aportes financeiros pelo governo federal. 

Elegendo como marco a “reintegração de posse” ocorrida em 7 de agosto de 2020, quando as chaves da instituição foram entregues a um representante da Secretaria do Audiovisual sob a vigilância de policiais federais armados com metralhadoras, o artigo de Eduardo parte do atual momento e remonta às origens da crise da Cinemateca, em 2013. O breve panorama reúne um conjunto de ingerências cometidas pelo Planalto, com o afastamento de diretores, alteração de regimento, troca de empresas gestoras e contínuo estrangulamento financeiro, que culmina com a interrupção do repasse de recursos no início do ano passado. 

No canto esquerdo, parte frontal de um caminhão do corpo de bombeiros. Ao fundo, o galpão da Cinemateca Brasileira, um prédio de dois andares, é consumido pelo fogo
Incêndio no galpão da Cinemateca Brasileira, situado no bairro de Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Foto: Arthur Sens

“O quadro crítico da Cinemateca, instaurado em 2020, é exemplo, infelizmente, do modus operandi característico do governo Bolsonaro em relação aos valores culturais, que se pauta pelo esgotamento, destruição e asfixia de cada uma das instituições que estão sob sua alçada”, sintetiza o docente da ECA. Ele também destaca o aparelhamento da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), responsável pela gestão da Cinemateca de 2015 a 2019 e ocupada por militares e políticos conservadores, a exemplo do que vem ocorrendo em diversas outras instituições culturais do governo federal. 

A crise parecia ter atingido seu ápice quando, em abril de 2020, sem poder honrar compromissos financeiros com funcionários e fornecedores, a Cinemateca teve que demitir os sessenta trabalhadores que restavam em seu quadro. Mas a situação ficou ainda mais dramática em julho deste ano, com o incêndio do galpão na Vila Leopoldina, o quinto a atingir a instituição. Até hoje, por conta da ausência de técnicos, não há certeza sobre tudo o que se perdeu, entre produções de estudantes do CTR, documentos da Embrafilme e até documentos de Glauber Rocha, um dos maiores cineastas da história do país. 

Apesar do quadro preocupante, Eduardo afirma que a Cinemateca Brasileira não deixará de existir, e ressalta todas as mobilizações que têm ocorrido em sua defesa. Além de uma ação impulsionada pelo Ministério Público Federal para cobrar responsabilização e medidas do governo federal, merecem destaque diversas campanhas e manifestos favoráveis dentro e fora do Brasil, com a participação de entidades como a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) e a  Federação Internacional de Arquivos de Filme (FIAF), intelectuais, cineastas e artistas, como Cacá Diegues, Mariana Ximenes, Fernanda Montenegro, Paloma Rocha, Arnaldo Jabor, Walter Salles, Tata Amaral e Jefferson De, dentre outros.

Citando a pesquisadora Rosany Bochner, Eduardo Morettin afirma que “o fogo que consome a Amazônia, o Pantanal, o Museu Nacional e a memória audiovisual brasileira demonstra que não estamos diante de coincidências, de fatos isolados, mas de um ataque, projeto articulado de destruição levado a cabo pelas autoridades que governam nosso país.” É preciso, portanto, combater este projeto com todas as forças. A despeito do tamanho das dificuldades, o docente enfatiza a importância de unir todos aqueles que se importam com a defesa do cinema e da cultura brasileira, junto com a sociedade civil, na luta pela sobrevivência da Cinemateca. 

Confira gratuitamente a íntegra do artigo Cinemateca Brasileira: o sequestro e a destruição de nossa memória audiovisual.  

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