Evento premia mural de aluna das Artes Plásticas e celebra o Bloomsday

A estudante foi uma das vencedoras do concurso Ulysses@100 Pelos Olhos Brasileiros, organizado por docentes da ECA e FFLCH com apoio da Embaixada da Irlanda, entre outras entidades

Comunidade

Em comemoração ao centésimo aniversário da obra Ulysses, de James Joyce, a Embaixada da Irlanda no Brasil promoveu o concurso Ulysses@100 Pelos Olhos Brasileiros e convidou universidades brasileiras para produzir murais físicos e digitais inspirados na obra. Nos dias 13, 14 e 15 de junho aconteceu o evento que revelou as criações vencedoras e celebrou o Bloomsday - feriado irlandês instaurado no dia 16 de junho em homenagem ao protagonista do livro, Leopold Bloom.

Em janeiro de 2022, foi divulgado o edital que convidava 18 universidades para participar do projeto e designava um capítulo do livro para ser trabalhado por cada uma delas. O objetivo do concurso era explorar como a juventude brasileira interpreta o romance 100 anos após sua publicação.

À USP foi atribuído o sétimo capítulo, Éolo. Para que os participantes conhecessem melhor esse fragmento da obra e aprendessem mais sobre a criação de murais, os professores da ECA Almir Almas (Departamento de Cinema, Rádio e Televisão - CTR) e Luiz Cláudio Mubarac (Departamento de Artes Plásticas - CAP) se uniram à Cátedra de Estudos Irlandeses da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), representada pela coordenadora Laura Izarra. Os docentes promoveram palestras on-line sobre os temas, além de auxiliar os discentes e gerir o projeto na universidade.

 

 
Os murais vencedores

 

Após receber as prévias das artes, a Comissão Avaliadora utilizou critérios como pertinência ao  tema, criatividade, originalidade e aproveitamento das dimensões do espaço para julgar as criações e indicar os ganhadores que receberiam, além do financiamento dos materiais utilizados, prêmios em dinheiro no valor de 2 mil reais.

O mural físico vencedor foi criado por Raquel de Sá, aluna do Departamento de Artes Plásticas (CAP) da ECA. Já o ganhador da versão digital foi Guilherme Bretas Nascimento Baptista, aluno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Durante sua participação virtual na cerimônia de inauguração, Raquel comentou alguns pontos da obra que lhe chamaram a atenção e nortearam seu processo criativo. Ela diz que, em sua produção, houve “uma busca de amplificar o desejo joyciano de acordar do pesadelo da História, de maneira que o passado pudesse ser concebido como um começo, ao qual a gente pudesse responder ou reagir no presente.” Além disso, a jovem agradeceu a todos que colaboraram com seu trabalho. 

Ulysses@100 Pelos Olhos Brasileiros - Mural físico

Foto de 4 pessoas na frente do mural vencedor. O mural tem fundo preto e os traços são brancos. Ele é dividido em dois quadrados. O da esquerda tem um círculo e o texto “o passado é o começo”; já o da direita tem um arco e o texto “o presente é a origem”. Em pé, está uma mulher, Raquel, que é branca e tem olhos puxados, cabelos escuros e curtos, usa óculos e veste roupas escuras. Na frente dela, estão três homens brancos e de cabelos curtos e escuros agachados. Todos sorriem enquanto posam para a câmera.

A equipe que confeccionou o mural posa diante do resultado. Da esquerda para a direita, agachados, estão Deyvisson Souza da Costa Primo, Claudio Antunes Vieira e Edson Alves da Silva e, em pé, está Raquel de Sá, aluna de Artes Plásticas. Foto: Amanda Ferreira

Foto que mostra o prédio do Espaço das Artes. Da esquerda para a direita, a fachada tem uma parte branca e outra vermelha.. O centro tem vidros reflexivos escuros e uma pequena cobertura cinza sobre a porta. À direita dos vidros, está o mural, que é predominantemente preto. Na frente do prédio, há um gramado, e nele há uma escultura de metal. O céu está branco, nublado, e outros prédios estão ao fundo.

O mural físico está localizado na fachada do prédio do Espaço das Artes (EdA), na Cidade Universitária. Foto: Amanda Ferreira

Foto em que se tem, em primeiro plano, um notebook que exibe um rascunho do mural  na tela ao lado de outros equipamentos. Mais ao fundo, aparecem uma mulher branca de cabelos curtos e escuros e uma mulher branca de cabelos loiros, as duas estão de costas e utilizam linhas e pregos para marcar a parede onde o mural será pintado. No chão, há bastante mato.

Raquel e sua colega trabalhando na demarcação das linhas do mural. Foto: reprodução/Jornal da USP

Foto tirada à noite de duas mulheres, uma morena e uma loira, desenhando na parede branca. Sobre ela, está sendo projetado o rascunho do mural. No chão, atrás delas, há uma escada. Em primeiro plano há  uma mesa com um notebook e garrafas apoiadas. A tela do notebook exibe o rascunho que está sendo projetado sobre a parede.

A produção do mural também aconteceu durante à noite, para que as artistas pudessem enxergar a projeção que guia o desenho na parede. Foto: reprodução/Jornal da USP

Mural físico vencedor, feito por Raquel de Sá

Guilherme, vencedor do mural digital, conta que nunca tinha tido contato com a obra e, por isso, teve seu processo criativo inspirado pelas discussões ministradas pelas professoras Laura Izarra e Sandra Vasconcelos, ambas da FFLCH. Além das palestras, o jovem foi guiado por um esquema criado pelo próprio Joyce em 1921 para auxiliar um amigo a entender a estrutura do livro. Foi esse esquema que forneceu para Guilherme muitas das imagens associadas ao capítulo no vídeo, como a cor vermelha, o horário do meio-dia e o órgão pulmão. 

O estudante também utilizou fotos do autor em seu mural, e trouxe movimento para imagens que até então eram estáticas. Para isso, utilizou uma ferramenta de Inteligência Artificial que havia pesquisado anteriormente, o deepfake, que pode, entre outros usos, trazer vida a retratos. “Costumo classificá-los como exercícios de memória a partir da tecnologia.”

Dentre seus agradecimentos, estão os professores Almir, Sandra, Luiz Cláudio e Laura pela seleção no edital e pela organização da semana de comemorações, o embaixador da Irlanda, pelas palavras elogiosas e seus pais, Rosangela e Oswaldo, que também presenciaram todos os desafios do processo.

Ulysses@100 Pelos Olhos Brasileiros - Mural digital

 Fotomontagem da metade superior de um relógio vermelho. Os números são indicados por numerais romanos pretos e os ponteiros são colunas gregas em tons de cinza com estátuas na ponta.

Por meio de fotomontagens e outras formas de edição digital de imagens, Guilherme Bretas combinou diversas referências ao romance, seus significados e seu autor. Imagem: Guilherme Bretas

Fotomontagem do rosto de James Joyce jovem em preto e branco. Ele é branco, tem bigode escuro e óculos pequenos e redondos. O homem olha diretamente para a câmera. Por cima da imagem, há uma arte branca que simula um desgaste na foto, principalmente na porção esquerda.

Por meio de fotomontagens e outras formas de edição digital de imagens, Guilherme Bretas combinou diversas referências ao romance, seus significados e seu autor. Imagem: Guilherme Bretas

Arte digital que sobrepõe duas imagens. Na parte de cima, em tons de vermelho e branco, um mosaico antigo com pequenos ladrilhos apresenta um homem em trajes militares dentro de um barco à vela com um canhão. Na parte de baixo, há um mapa amarelado que mostra algumas ruas e tem os textos “A Man of the City of Dublin 1811” e “South Division”. As bordas do mapa foram alteradas, de modo a parecerem rasgadas.

Por meio de fotomontagens e outras formas de edição digital de imagens, Guilherme Bretas combinou diversas referências ao romance, seus significados e seu autor. Imagem: Guilherme Bretas

Mural digital vencedor, feito por Guilherme Bretas Nascimento Baptista

 Além das obras vencedoras, o Jornal da USP também divulgou fotos dos murais que ficaram em segundo e terceiro lugar.

 

Outras atrações do evento

 

Na abertura da cerimônia de inauguração e premiação, Seàn Hoy, embaixador da Irlanda, demonstrou sua alegria e satisfação com a realização do projeto. Ele explicou que a ideia do concurso era que os estudantes pudessem conhecer a obra e publicar suas criações nas redes sociais, de modo a instigar mais pessoas a pesquisar sobre o livro. O irlandês acredita que propor uma reinterpretação de Joyce a partir de olhos brasileiros tenha sido uma maneira eficiente de celebrar o autor. “Essa é uma homenagem que podemos fazer para honrá-lo, para trazê-lo de volta à vida."

Foto de 7 pessoas em frente ao mural físico. São 3 mulheres e 4 homens, todos usam máscaras. Guilherme está no centro da foto, segurando um papel. Ele é negro, tem cabelo crespo e veste roupas marrons.
Guilherme, autor do mural virtual, recebeu seu certificado e registrou esse momento ao lado do embaixador, do cônsul-geral, da vice-cônsul e dos outros representantes. Raquel de Sá, autora do mural físico, participou da premiação remotamente. Foto: Edinaldo Arruda

Para essa solenidade, também estiveram presentes o cônsul-geral da Irlanda no Brasil, Eoin Bennis, a vice-cônsul da Irlanda em São Paulo, Rachel Fitzpatrick, e representantes de outras entidades apoiadoras do concurso - como a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão (PRCEU), a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (AUCANI) e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

Além dos murais e do filme Ghost of Baggotonia (2022), outras interpretações artísticas de Ulysses foram exibidas, como uma apresentação do Coral da USP e o espetáculo Ulysses: Éolo do Laboratório de Pesquisa e Estudos em Tanz Theatralidades (LAPETT), vinculado ao Departamento de Artes Cênicas (CAC).

Ao longo de todo o evento, foram realizados debates sobre o livro de Joyce e a produção artística como um todo. As mediações dessas conversas couberam a professores da FFLCH e da ECA - dentre eles, os docentes Luiz Fernando Ramos (Departamento de Artes Cênicas - CAC) e Patrícia Moran (CTR).

 

Comemoração do Bloomsday

 

Ulysses é considerado um dos marcos da literatura contemporânea ocidental. Sua fama é tanta que a obra ganhou uma data comemorativa que é celebrada em todo o mundo. Na Irlanda, o feriado em homenagem ao livro foi instituído no dia 16 de junho - mesmo dia em que se passaram as façanhas de Leopold Bloom nas ruas de Dublin, no ano de 1904.

Para comemorar a data, apreciadores da obra costumam ler Ulysses ou outros títulos de Joyce; assistir a filmes, documentários e peças teatrais sobre o tema e até mesmo se vestir a caráter e refazer o percurso do protagonista ao longo do enredo. 

No Brasil, a celebração do “Dia de Bloom” teve início em 1988, em um bar irlandês no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Essa primeira comemoração do feriado foi liderada pelo poeta concretista Haroldo de Campos e pela professora Munira Mutran, da FFLCH, e desde então tem se espalhado pelo país .

 

 

 

Atualizado em 29 de junho de 2022

 

 


Imagem de capa: Guilherme Bretas
 

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