Pesquisadora estuda como vida on e offline são cada vez mais inseparáveis

Issaaf Karhawi, doutora pela ECA, lançou livro sobre o surgimento das influenciadoras de moda e beleza, consideradas as precursoras da profissão do momento
 

Vida acadêmica

No dia 23 de julho, a jornalista, professora e pesquisadora Issaaf Karhawi promoveu uma sessão de autógrafos do seu livro De blogueira a influenciadora: etapas de profissionalização da blogosfera de moda brasileira. O livro foi lançado em 2020, mas devido à pandemia somente agora foi possível realizar um evento presencial. A sessão aconteceu no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

Foto em preto e branco de uma mulher branca, de cabelos pretos e longos. Ela usa um óculos de armação clara de formato ovalado. Olha para a câmera e sorri.
Issaaf Karhawi. Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal 

Issaaf é mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da ECA. Ela é professora no curso de pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (MIDCULT) do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc). Além disso, também é pesquisadora em comunicação digital no Grupo de Pesquisa em Comunicação e Mídias Digitais (COM+). 

A pesquisadora conta que o livro nasceu de sua tese de doutorado, ainda em 2018. A obra procura mapear a profissionalização das blogueiras de moda, que, de acordo com ela, podem ser consideradas as primeiras influenciadoras digitais. “As blogueiras deram origem ao chamado mercado da influência, impactando também outros cenários, como o jornalismo, a publicidade e o audiovisual”, aponta Issaaf. Ao fazer um panorama da ascensão dessas figuras, a autora acaba retratando a evolução recente da internet no Brasil.

Foto da capa do livro, com o título, subtítulo e nome da autora. A capa é azul escuro, com os seguintes desenhos: no canto esquerdo superior uma mulher estilizada com a cor azul claro sentada, apoiando-se nos braços; no canto direito, uma mulher negra com um vestido laranja; já na parte inferior, do lado esquerdo, está uma mulher clara vestindo uma blusa verde e uma calça laranja; por fim, no lado direito inferior está uma mulher branca, de cabelos e sapatos azuis claros e com um macacão marrom. Em meio a essas mulheres, encontram-se outros desenhos, como um óculos, um celular e um computador.
Capa do livro De blogueira a influenciadora. Imagem: Reprodução/Instagram 

Em relação a internet, ela concorda com uma corrente majoritária da comunicação que entende o mundo digital contemporâneo como indissociável de nossas vidas. Para Issaaf, já não se pode mais falar em separação do on-line e do offline – estamos conectados 100% do tempo. "Não existe mais um momento específico do dia para acessar a internet, como acontecia antigamente. Mesmo dormindo, as nossas redes seguem ativas, as mensagens continuam chegando”, diz.

Exatamente por causa dessa importância primordial que a internet tem na vida das pessoas, Issaaf enxerga como essencial uma educação para usufruir desse meio de maneira adequada e justa, pois “é preciso pensar formas de um uso proveitoso para todos”. Por mais que seu livro não pretenda educar os leitores, Issaaf acredita que ele pode revelar a existência de disputas, interesses de mercado e condições sócio-culturais que podem ajudar a entender o cenário dos meios digitais.  

 

Economia da atenção
 

Em suas pesquisas, Issaaf trabalha com o conceito de economia da atenção. De acordo com ele, vivemos em um mundo que possui uma nova ordem econômica, na qual a atenção das pessoas é a principal moeda. Nas mídias, como cinema ou televisão, isso já podia ser observado há muito tempo. Hoje, com a onipresença das redes sociais no cotidiano, tal lógica se intensificou e se manifesta ainda mais claramente. Um dos principais exemplos desse fenômeno é a valorização do número de seguidores, visualizações e engajamento que os influenciadores digitais conseguem obter.  

Segundo a pesquisadora, “a própria organização das redes, pensando-se em arquitetura da informação, está baseada em formas de reunir a atenção dos sujeitos”. Para que isso aconteça, nem chega a ser necessário que o conteúdo seja de qualidade ou mesmo verdadeiro. Basta, apenas, que ele seja capaz de chamar a atenção do público e, depois, consiga mantê-la presa. 

Os influenciadores, que evoluíram a partir dos blogs e fóruns de discussão, são os responsáveis por produzir esses conteúdos para as redes. O surgimento dessas figuras foi possível devido à chamada cultura da participação, que permitiu que amadores e anônimos  produzissem conteúdos antes reservados apenas a profissionais e famosos. A revolução digital possibilitou um cenário mais aberto e democrático, algo que não acontecia na televisão, por exemplo, o que fez com que essas instituições mais tradicionais acabassem perdendo um pouco de legitimidade e relevância diante da internet. 

Issaaf pensa que um dos benefícios desse cenário mais inclusivo é a possibilidade de participação de um setor da população que, sem ele, não teria como projetar sua voz. Isso traz novas pautas, que tratam de temas diferentes, muitas vezes ignorados pelos meios tradicionais de comunicação. No entanto, ela também enxerga alguns problemas no mercado dos influenciadores digitais. 

Um deles se refere à questão da ética e da seriedade nesse meio. “Vemos um cenário de certa irresponsabilidade com aquilo que os influenciadores publicam em suas redes. Uma falta de dimensão em relação ao impacto que o discurso deles tem no debate público”, afirma a pesquisadora. Isso pode ser muito perigoso, pois a partir do momento em que as pessoas tomam como correta e confiável a palavra de um influenciador, elas podem ser levadas a comportamentos questionáveis – desde consumir produtos sem eficácia comprovada até mesmo se engajar em ataques contra internautas ou outros influenciadores.

 

 


Foto de capa: Unsplash/Paul Hanaoka 
 
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