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Estudantes da USP criam materiais paradidáticos que discutem racismo ambiental

Docentes da Rede Municipal de Ensino de São Paulo experimentam jogos desenvolvidos na disciplina Educomunicação Socioambiental

Estudos

Em uma aula sobre justiça climática do curso Educomunicação socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas, parte do projeto Educom & Clima, iniciativa do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA, professoras e professores de 35 escolas da Rede Municipal de Ensino de São Paulo (RME-SP) testaram materiais paradidáticos produzidos por estudantes da USP

Foto de um grupo de pessoas jogando cartas em uma atividade educativa. Quatro pessoas estão sentadas ao redor de uma mesa branca, segurando cartas com textos impressos. A mulher à esquerda usa óculos e uma blusa colorida, enquanto os dois homens à direita vestem roupas escuras. Um deles usa um colar com contas coloridas. Na mesa, há documentos, livros, garrafas de água, um boné com a palavra "Pina" e uma xícara de café. Ao fundo, outras pessoas estão sentadas e em pé, participando da atividade em um ambiente fechado com paredes brancas.
Professores(as) da Rede Municipal de Ensino de São Paulo experimentam o Jogo das Desigualdades, criado por estudantes da USP. Foto: Danilo Restaino.

“Esse é um jogo bem tranquilo, são trinta cartas que apresentam uma situação com quatro possibilidades de resposta e são baseados nos ODSs. É interessante que cada cartinha daria um trabalho independente pra fazer na escola também”, compartilha Heulieda Cristovão de Macedo, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Ruy Barbosa, que testou o Perguntado Socioambiental.

Esse e outros jogos são resultado da disciplina optativa Educomunicação Socioambiental, que faz parte da grade curricular da Licenciatura em Educomunicação e incentivou estudantes a criarem materiais em formato digital, multimídia (sonoro, visual e/ou audiovisual) que discutissem o enfrentamento ao racismo ambiental.

A partir disso, a turma se dispôs a utilizar os aprendizados e experiências em aula, além de sua própria bagagem para criação de jogos, cartilhas, fanzines e podcasts. E muito dessa diversidade é reflexo da própria sala de aula. Em 2024, a turma era composta por estudantes de 13 cursos diferentes, ainda que a maioria fosse da engenharia ambiental da Poli-USP. Além desse curso havia estudantes de Relações Públicas, Educomunicação, Gestão Ambiental, Engenharia de Materiais, Saúde Pública, Jornalismo, Artes Cênicas, Pedagogia, Audiovisual, Geociências, Ciências Sociais e Turismo.

 

Materiais paradidáticos Educomunicação Socioambiental

Foto de uma apresentação em sala de aula.Cinco pessoas estão posicionadas na frente da sala, ao lado de um quadro branco e de uma projeção na parede que exibe uma cartilha educativa. Um homem à esquerda, vestindo roupa esportiva, gesticula enquanto sorri, e outro homem ao seu lado, de camisa branca, parece acompanhar a explicação. Três mulheres, vestindo roupas casuais, observam e aguardam. Há mesas e cadeiras organizadas no ambiente, com alguns objetos sobre a mesa da frente, como uma jarra e um caderno.

Estudantes apresentam seus projetos de material paradidático para a sala e convidados que atuam na área socioambiental. O jogo apresentado, Perguntado Socioambiental, tem como objetivo debater temas de sustentabilidade e problemas ambientais, com foco no racismo ambiental. Foto: Daniely Duarte.

Fotografia de um grupo realizando atividades de escrita e desenho em uma sala de aula. Cinco pessoas estão sentadas em carteiras e ao redor de uma mesa, realizando atividades de escrita e desenho, utilizando materiais como cadernos, canetas e publicações impressas. Participantes estão concentrados em suas tarefas, com destaque para uma pessoa escrevendo "Bem Viver" em um papel.

Alunos realizam oficina de fanzine, com inspiração na fanzine Trilha de Saberes e na Metazine: um zine sobre como fazer zine, criada pelos alunos para pensar o território, realidades e vivências diferentes. Foto: Daniely Duarte

Foto de pessoas jogando em sala de aula.Um grupo de pessoas está reunido ao redor de uma mesa, sobre a qual há um tabuleiro, cartas, dados e outros materiais de jogo espalhados. Alguns participantes seguram cartões escritos "SIM", enquanto outros interagem e sorriem. A sala tem cadeiras escolares e uma lousa ao fundo.

Alunos de Educomunicação Socioambiental experimentam o jogo A Fronteira Final, criado por uma colega da turma. Foto: Daniely Duarte

 

“A gente ficou bem entretido, entendemos a lógica de jogo e conseguimos jogar. O jogo tem um ganhador, mas é colaborativo ao mesmo tempo. A lógica é que cada um aqui é de uma comunidade com problemas para serem resolvidos. E a gente tem que achar os problemas e as soluções, mas a solução do meu problema tá com a outra pessoa, então, temos que colaborar”

Marcelo Augusto Pereira dos Santos, professor da EMEF Dilermando Dias dos Santos, sobre o jogo Salve-se quem conseguir

 

Entretanto, por se tratar de uma experiência inicial dos estudantes com a criação de materiais para o ensino básico, algumas adaptações foram sugeridas pelos professores e pelas professoras: “Tem algumas palavras que precisariam de um glossário, mas dá pra trabalhar com as crianças. Apesar de ter algumas coisas que eles ainda não tem acesso, acho que vale a pena levantar as discussões, pode ser até conteúdo pra mais de um dia de aula”, comenta a Aurilene Matias Luz, professora da EMEF Eliane Benute Lessa Ayres Goncalves - Profa. Nany Benute.

Os docentes também apontaram ambiguidades na jogabilidade de alguns deles, mas que poderiam ser contornadas e até mesmo utilizadas como outra ferramenta de ensino: “Tem frases que geram dúvida, o que é verdadeiro ou falso, e aí levanta o debate. Nós optamos por mostrar as cartas, porque aí se discute: porque você acha que isso é bom ou ruim? Entra como uma discussão coletiva”, conta Aurilene.

 

Sobre a disciplina de Educomunicação Socioambiental

“Em 2024 foi a segunda vez em que lecionei Educomunicação Socioambiental. Na primeira, em 2023, a turma construiu materiais paradidáticos sobre Agenda Municipal 2030 de São Paulo, que foram para um curso EaD do Instituto Akatu em parceria com a Umapaz. Deu tão certo que, em 2024, resolvi atualizar a experiência”, conta Thaís Brianezi, docente responsável pela disciplina. 

Ofertada no 2º semestre como matéria optativa para alunos de graduação de todos os cursos da USP, a disciplina em questão busca contribuir para a criação de uma sociedade da informação para combater o aumento das desigualdades, a desregulamentação e o negacionismo climático. Como abordagem metodológica, ela prevê a realização de viagens didáticas, aulas de campo e visitas técnicas, a fim de conhecer in loco políticas públicas concretas e suas interfaces existentes ou potenciais com a educomunicação. 

Em 2024, a produção de materiais paradidáticos de enfrentamento ao racismo ambiental não apenas fez parte da turma experimental do curso Educomunicação socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas, como também integrará a versão EaD do curso, que será disponibilizada gratuitamente a qualquer escola interessada no Ambiente Virtual de Aprendizagem do MEC (AVAMEC).

 

O que é Racismo Ambiental?

É o reconhecimento da questão racial no contexto de crise climática. Entender sobre quem são as pessoas que moram em territórios de risco, que mais são impactados por desastres ambientais, como enchentes, deslizamentos e escassez de alimentos, lembrando que inclui além da população negra, indígenas, ribeirinhos, povos tradicionais e outros grupos marginalizados. É lembrar que em todos os locais e contextos, o racismo irá reforçar as desigualdades.

E o que é Justiça Climática? 

A injusta exposição ao perigo, sofrido pela maioria dos brasileiros não brancos, não deve ser naturalizada. O risco é uma construção social arquitetada pelo Estado capitalista, este que ordena o território e condiciona determinados grupos a áreas marginalizadas. Por isso, é importante destacar que não há justiça climática sem justiça racial.

 

 

 


Imagem de capa: professores(as) da Rede Municipal de Ensino de São Paulo experimentam o jogo Salve-se quem conseguir, criado por universitários para discutir racismo ambiental. Foto: Danilo Restaino.
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