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A Entrevista: curta de estudantes da ECA vem sendo premiado nacionalmente

Após vitória no edital Meu Olhar e estreia na Globoplay, o filme tem ganhado espaço em outros festivais pelo Brasil

Comunidade

A Entrevista é um curta-metragem produzido inteiramente por estudantes da ECA e dirigido por Gabriel Almeida, graduando do curso de Audiovisual, no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR). Além de contar com a produção de Gustavo Lacerda e Ricardo Lousada, também do CTR, o filme tem estudantes da Escola de Arte Dramática (EAD) e do curso de Artes Cênicas em seu elenco. Na obra, acompanhamos a história de Jonas, um jovem que deve enfrentar o caos da cidade em sua busca por um novo emprego. 

Foto de um rapaz negro de cabelos curtos, enrolados e castanhos. Ele está de perfil, usa óculos, sorri, segura uma câmera fotográfica e veste camisa azul escura de mangas longas e gravata cor de rosa. Ao fundo, algumas pessoas aparecem desfocadas.
Gabriel Almeida, diretor de A Entrevista e estudante de Audiovisual. Foto: acervo pessoal.

Em 2023, o curta foi um dos 120 contemplados por bolsas do projeto Meu Olhar - Filmes curtos feitos pela Juventude Periférica de São Paulo, que visava capacitar jovens na área do audiovisual e incentivar a produção de curtas que valorizassem a cultura e a criatividade. Nesse período, o filme foi lançado tanto no Youtube do Canal Futura, quanto na plataforma de streaming Globoplay, após a seleção por um júri técnico. Para além do sucesso inicial, A Entrevista foi selecionado para mostras como a Cine Minhocão 2024 e Curta Cuité, festival paraibano onde foi premiado como melhor filme da mostra Primeiro Filme. 

Segundo Gabriel, o curta chama a atenção para a banalização da invisibilidade social, e tem como objetivo causar um impacto,  “um soco no estômago”, com cenas rápidas e um desfecho inusitado. Além disso, o diretor dá um panorama sobre o processo criativo do curta e a dedicação de todos os membros da equipe e  ressalta a necessidade de pensar no público em primeiro lugar. Então, assim como Jonas faz no início do filme, “respire antes de começar a entrevista” e conheça a obra promissora de um jovem cineasta.

 

Uma história daquilo que “já foi”

 

“Ver um filme é muito bom, mas não tem nada mais inspirador do que a vida por si só.”

Gabriel Almeida, diretor de A Entrevista

 

O fio condutor do curta é a invisibilidade, literal, de Jonas, um jovem negro, que passa horas se preparando para uma entrevista cheia de percalços. No filme, Jonas é ignorado pelo ônibus que o levaria à empresa. Atrasado, o jovem chega ao local, mas perde sua chance por conta do “sobrinho do chefe”, personagem que representa os privilégios que Jonas, certamente, não possui. Se fosse possível, diz Gabriel, resumir a entrevista em uma única expressão, seria “já foi”. Afinal, Jonas não teria tirado nada de uma entrevista “com cartas marcadas”, por mais que tentasse. Ou seja, A Entrevista conta uma história que termina, ironicamente, antes que o protagonista perceba que começou.

Foto de homem branco, à esquerda, e homem negro, à direita, com as mãos apoiadas sobre um balcão. O primeiro tem cabelos castanhos, lisos e curtos, barba curta e veste uma camisa preta. O segundo tem cabelos escuros, crespos e longos, veste uma camisa social branca de mangas curtas e gravata vermelha. Atrás deles, portas de vidro.
No filme, Jonas chega ao local da entrevista, mas por algum motivo está invisível para todos no local. Segundo Gabriel, a cena da recepção é a sua favorita e envolveu dedicação total da equipe. Imagem: reprodução/ A Entrevista.

Em uma reviravolta inesperada para o tom que vinha sendo construído no filme, descobrimos outro motivo para a invisibilidade do protagonista. De acordo com Gabriel, é possível dizer que o curta mistura a invisibilidade social com a sobrenatural, ou mesmo que usa a segunda como uma metáfora para a primeira. Além disso, o diretor destaca o viés social que é construído junto com a leitura do público sobre o filme. Afinal, o filme falar sobre um tema não evita que o público faça outras leituras, mostrando que o problema está na sociedade. Nesse sentido, o filme provoca o público a se questionar sobre o quão banalizada  é a invisibilidade social e por que as coisas seguem assim. 

 

Novas premiações e planos para o futuro

A trajetória do curta, que começou com a seleção para o edital Meu Olhar e com a publicação na Globoplay, não parou por aí, já que A Entrevista vem sendo reconhecido em festivais e mostras pelo país. Segundo Gabriel, “o reconhecimento do público e a troca com outros profissionais” são o que mais enriquece a sua experiência como diretor. 

Foto de rapaz jovem negro de cabelos escuros, cacheados e curtos. Ele usa óculos e segura um folder. Ele está de jaqueta jeans sobre blusa verde e de calças escuras. No fundo da imagem, uma projeção sobre a parede de um prédio com o escrito “Cine Minhocão”.
A Entrevista foi um dos filmes selecionados para o Cine Minhocão 2024. “Quando eu comecei o projeto eu [só] queria ter um filme.”, diz Gabriel sobre suas expectativas iniciais. Para o jovem, era impensável o curta ser exibido nas diferentes regiões do Brasil.  Foto: Gabriel Almeida/ acervo pessoal. 

Além da participação premiada no Curta Cuité, o curta integrou as sessões da 2ª EducAção, em Curitiba, mostra que foca em produções realizadas em ambiente escolar, e do Cine Minhocão 2024, um festival organizado por Antônio Linhares, formado em Audiovisual pela ECA. Em agosto deste ano, o curta participou do FAVERA - Festival Audiovisual Vera Cruz, onde recebeu uma menção honrosa. Diante do sucesso do filme, Gabriel lembra do apoio que teve no início do projeto: 

 

“Eu sou muito grato a toda a equipe que [nos] apoiou, o Departamento de Cinema aqui da USP, o pessoal do edital que selecionou, mas tem duas pessoas que eu sou muito grato, que é o Gustavo Lacerda e o Ricardo Lousada, porque eles estiveram comigo desde o primeiro roteiro.”

Gabriel Almeida, diretor de A Entrevista

 

Sobre os planos para o futuro, o estudante comenta que A Entrevista ainda tem algum tempo para festivais, mas que já tem outros projetos em mente. Um deles é fazer um documentário sobre a história da EAD, a partir da tradição de servir sopa nos aniversários da escola e de como esse ato se torna um ato de resistência e ligação entre gerações. Em outro roteiro, que também não teve as gravações iniciadas, Gabriel pretende contar a história de uma mulher que encontra no esporte um caminho para superar o luto. 

 

Não se faz cinema sem pensar no público

Para Gabriel, o profissional de cinema deve ter uma visão técnica da obra, sua decupagem, arco narrativo, iluminação etc, mas sem abrir mão de “comprar a história” e de se envolver com a obra. Usando o curta-metragem A Entrevista como exemplo, o estudante comenta que a dedicação da equipe foi fundamental para o sucesso da obra. “Eu não estava pronto para ser diretor”, diz sobre a sua primeira diária. Conforme a gravação avançava, a equipe teve que lidar com a saída de membros e outros problemas, mas manteve o foco em “fazer aquilo que dava para fazer”. Além disso, Gabriel defende que um bom filme só se faz com uma boa história, isto é, algo que encante as pessoas, e para fazer isso, é preciso antes “se encantar pela própria história”.

 

“Acho que história é tudo em um filme [...]. Um filme que te encanta é um filme que você tá vendo e fica apreensivo, é um filme que sabe te manipular e te fazer pensar ‘nossa, como foi que fizeram isso?’ ”. 

Gabriel Almeida, diretor de A Entrevista

 

Ficha técnica:

Elenco: Arthur França como Jonas, Conrado Costa como Vagner,  Helen Yurika como Roberta, Ari Williams como Evaristo. 

Roteiro e direção: Gabriel Almeida

1º Assistente de direção: Gustavo Lacerda

2º Assistente de direção: Manu Ferraz

Direção de figuração: Juliana Machado

Diretor de produção: Gustavo Lacerda

Continuístas: Anna Grandchamp, Audrey Marinho e Cecília Taguchi

Mentoria: Luis Dantas

Produção de casting: José Cardeal e Manu Ferraz

Produtor de locação: Caio Marques

Produtora executiva: Susane Santos

Produtor de equipe: Rafael Loreto

Produtor de set: José Cardeal e Clara Schadek

Assistente de produção: Ana Carol Caparelli, Cecília Taguchi, Fernando Aquiles, Raul Carneiro e Vinicius Benato

Diretor de fotografia e operador de câmera: Ricardo Lousada

Assistente de câmera: Caio Marques

Logger: Vinicius Benato

Gaffer: Audrey Marinho e Lari Louro 

Assistência de elétrica: Cecília Taguchi e Raul Carneiro

Cenógrafo: Vinicius Pompeu e Daniela Seles 

Figurinista: Nilton Junior e Thailla Pio

Designer gráfico: Ian Salmar

Maquiador: Nilton Junior

Técnica de som: Isabella Dias

Operador de boom: Olavo Trindade

Montador: Gustavo Lacerda e Pedro Tamas

Colorista: Audrey Marinho

Designer de som/Mixagem: Gilberto Walther

Para o diretor, a coesão dos acontecimentos do curta é fundamental para o sucesso do filme. Em A Entrevista, cada ação e circunstância implica novas ações e circunstâncias, que não dão espaço para cenas “soltas”, assim, reproduzindo o ritmo acelerado da cidade. Em seu desfecho, contudo, há uma espécie de “escape”, onde o ritmo diminui e o curta para de fazer barulho porque “dentro da cabeça das pessoas tá fazendo barulho”. 

Por fim, o jovem relembra a importância da seleção para o projeto Meu Olhar na trajetória do filme. Isso porque o foco do projeto era dar oportunidade para as obras de jovens periféricos e, para Gabriel, “[é a partir de] uma pequena oportunidade que o jovem aprende as coisas e descobre contatos, um trabalho, já começa a conseguir outros trabalhos”. Para ele, esse tipo de iniciativa “só traz benefícios para o audiovisual”, além de permitir que o jovem olhe para a área como uma oportunidade de carreira: “vou fazer isso da minha vida e vou viver com dignidade”.

 

 


Foto de capa: reprodução/A Entrevista.
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