Ex-aluno da ECA lança livro sobre peças de Tennessee Williams
Nem Loucas, Nem Reprimidas investiga personagens femininas nas obras menos conhecidas do dramaturgo estadunidense
Com 11 peças na Broadway - muitas adaptadas para o cinema, como Um Bonde Chamado Desejo -, o dramaturgo Tennessee Williams foi consagrado como um autor de grande sucesso nos Estados Unidos. No entanto, ele ainda não tem muito reconhecimento no Brasil, já que poucas peças de sua autoria foram traduzidas para o português. Em especial as chamadas late plays, escritas em seus últimos 21 anos de vida.
Foi pensando nisso que Luis Marcio Arnaut, doutor em Artes Cênicas pela ECA, decidiu desenvolver sua tese, orientada por Maria Sílvia Betti, professora do Departamento de Artes Cênicas (CAC), e lançada agora como livro sob o título Nem Loucas, Nem Reprimidas: O confronto contracultural da mulher com o mainstream nas late plays de Tennessee Williams.
Um novo olhar

Com a proposta central de investigar a presença feminina na obra de Tennessee, Luis desejava repensar a leitura tradicional das peças. Assim, o livro se aprofunda na perspectiva social, histórica e política dos textos e da criação das personagens.
Luis selecionou 6 obras para análise, todas inéditas no Brasil:
- The Mutilated (As Mutiladas, 1966);
- I Can't Imagine Tomorrow (Não Consigo Imaginar o Amanhã, 1966);
- A Cavalier For Milady (Um Cavalheiro para Milady, 1976);
- Kirche, Küche, Kinder – An Outrage For the Stage (Credo, Cozinha, Criança – um Ultraje ao Teatro, 1979);
- Now the Cats With Jeweled Claws (Agora é a Vez das Gatas com suas Garras de Brilhantes, 1981); e
- The One Exception (A Única Exceção, 1983).
Segundo Luis, essas peças são definidas pelo próprio autor como “pop art, uma interação de diversas poéticas, porque apresentam uma rede de intersecções do chamado teatro do absurdo, teatro físico, [Antonin] Artaud, [Théâtre du] Grand Guignol, vaudeville, o então denominado gótico sulista, a black comedy, enviesadas com paródias, ironias, comédias e um aspecto político muito mais claro e objetivo”.
Personagens femininas e a contracultura
As peças refletem transformações sociais que ocorreram no mundo a partir da década de 60, em especial a contracultura - cuja essência era a negação da cultura vigente e esteve associada a pautas do feminismo e do movimento hippie.
“Com essas peças contraculturais, Williams mostra mulheres mais ousadas, que expressam suas subjetividades de forma literal, sem censura, sem simbologias ou impedimentos cênicos”, afirma Luis, que se aprofundou na investigação das críticas sociais reproduzidas nas personagens femininas.
Segundo o pesquisador, essa crítica toma forma no expressionismo e no experimentalismo, “evidenciando uma sociedade incapaz de tratar com as subjetividades femininas, utilizando da doença para silenciar, subestimar e dominar as mulheres”.
“Propus adentrar por este estranho mundo de um Tennessee Williams desconhecido, inexplorado e que ainda tem muito a dizer à contemporaneidade.”
Luis Marcio Arnaut, autor do livro e doutor em Artes Cênicas pela ECA
Luis defende a necessidade de construir uma visão mais política do autor, para assim explorar melhor sua estética. “Eu aconselho o leitor do meu livro a deixar de lado tudo que sabe sobre Tennessee Williams e dar espaço para um novo, desconhecido e inexplorado dramaturgo no Brasil”, conclui o pesquisador.
O livro conta ainda com o prefácio da professora Annette Saddik (City University of New York), pesquisadora de Tennessee Williams, e com texto de orelhas do professor Thomas Keith (Pace University), pesquisador e editor das obras de Williams.
Nem loucas, nem reprimidas está disponível no site da Alameda Editorial por R$ 89,00.