Estudante da ECA vence o Prêmio Jabuti 2022 na categoria Artes
Estudante da pós-graduação é o editor do livro premiado, que aborda a arte política africana e afro-brasileira
O 64º Prêmio Jabuti contemplou o livro Apontamentos da arte africana e afro-brasileira contemporânea: políticas e poéticas, de Célia Maria Antonacci, como vencedor da categoria Artes, no eixo Não-Ficção. Quem assina a edição do texto e o projeto gráfico da obra é o diretor da editora Invisíveis Produções, Daniel Lima. Ele é formado em Artes Visuais pela ECA, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA) e membro do LabArteMídia, grupo de pesquisa do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR).

O discente tem criado, desde 2001, investigações-ações em pesquisas relacionadas a questões raciais, resistências coletivas, presente colonial e análises geopolíticas. Na obra vencedora, são abordados mais de 30 artistas africanos e afro-brasileiros que dialogam entre si e estabelecem uma visão radical sobre representações e concepções do mundo contemporâneo. O livro passa pelas histórias dos museus coloniais e etnográficos e chega até os dias atuais. Dessa forma, o escrito contribui enormemente para a aliança entre a teoria crítica da arte e a produção artística da diáspora negra.
Para Daniel, os sentimentos após a vitória são de euforia e de reconhecimento. A premiação lhe faz relembrar a trajetória da editora Invisíveis Produções, que foi criada em 2010 para publicar livros posicionados na intersecção entre arte política, cidade e coletividades, abrindo espaço para um campo de pesquisa que não estava contemplado nas grandes editoras. Por isso, “é um reconhecimento dentro da categoria de artes, de toda a história da minha formação e a história do trabalho que eu venho desenvolvendo [...]. É um prêmio que vem coroar uma trajetória de muita luta para tornar isso possível”, ele declara.
O editor pontua que o Jabuti não se restringe a ele e à autora, mas também pertence a todos os artistas de uma geração articulada e mobilizada para escrever sobre a perspectiva afro-brasileira dentro do campo da arte contemporânea, que tende a ser um dos mais elitizados e segregados. “Este prêmio vem para dizer ‘estamos aqui e estamos para ficar.’ Nós estamos produzindo não só artisticamente, mas também uma reflexão teórica sistemática sobre essas perspectivas não hegemônicas”, afirma.

O primeiro desafio a ser enfrentado pela editora foi a curadoria das obras a serem reunidas. Daniel conta que, em relação a esse obstáculo, encontrar o trabalho de Célia já amadurecido e com uma organização textual e de imagens foi uma grande felicidade. Além disso, como negro e dono de uma editora, ele acredita que sua tarefa foi “ter o cuidado de olhar a partir da perspectiva de alguém que se construiu nessa objetividade racializada negra e que, portanto, enxerga talvez certas nuances e delicadezas em relação ao texto e ao processo editorial”.

Outro obstáculo pontuado pelo editor é a complexidade do mercado de direitos autorais, que tem sua dinâmica de valores estabelecida a cada contrato de cessão. Justamente por envolver direitos de terceiros, não foi possível que a Invisíveis Produções publicasse o livro pelo sistema copyleft – método de inversão da lei dos direitos autorais (também chamados de copyrights) que assegura a livre circulação de uma produção –, como costuma fazer com algumas obras. Contudo, Daniel ressalta que se mantém o pensamento autônomo da editora. “Ou seja, ter a ousadia e a liberdade de pensar de forma independente, não buscando propriamente a venda como objetivo final – obviamente, ela é importante para sustentar toda a dinâmica editorial –, mas olhando para o aspecto crítico e a necessidade de escrever determinados pensamentos na história editorial brasileira, para servir como referência a esse campo”, explica.
O projeto gráfico também foi elaborado com o objetivo de garantir maior alcance e perenidade ao livro. Para Daniel, esta é uma publicação que tem valor e potencial suficientes para se consolidar entre os escritos de História da Arte. Por isso, o desenvolvimento do projeto gráfico não seguiu uma linha muito inovadora, e manteve certo conservadorismo nas tipografias e na organização de imagens. O editor decidiu apostar nessa tradição para que a obra se colocasse ao lado dos grandes livros do assunto e por acreditar que “ela [a obra] deve estar como referência durante décadas no mercado editorial sem modificações, [...] estando atual por suas opções simples e graficamente elegantes dentro do projeto”.
O livro pode ser comprado online no site da editora.