Revista MATRIZes: como melhorar o trabalho por plataforma?

Estudo analisou casos no Brasil, Espanha e França de como cooperativas e mídias sociais podem transformar condições de trabalho dos entregadores de aplicativo

Vida acadêmica

A discussão sobre as condições de trabalho dos entregadores de aplicativos ganhou força durante a pandemia. Em 2020, o Brasil vivenciou a Breque dos Apps, movimento que buscava chamar atenção para a precarização dos direitos trabalhistas da categoria. 


Pensando nisso, um estudo presente na última edição da revista MATRIZes analisou algumas iniciativas capazes de transformar as relações de trabalho por plataforma. Intitulado Plataformas de Propriedade de Trabalhadores: Cooperativas e Coletivos de Entregadores, o artigo tem autoria de Rafael Grohmann, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos),  

 

A plataformização do trabalho 

 

Fotografia da greve dos aplicativos, realizada em 2020. No primeiro plano estão diversas bags (bolsas térmicas dos entregadores), nas cores vermelho, verde, laranja e preto. Cartazes de mobilização da greve estão colados nas bags. Ao centro da imagem, um entregador de camiseta preta e boné preto segura uma bag laranja com um cartaz que diz “Nossas vidas valem mais que o lucro deles!”. Ao fundo se reúnem outras pessoas em frente ao estádio municipal do Pacaembu, em São Paulo.
Entregadores durante o Breque dos Apps, em 2020. Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

A pandemia alavancou a demanda pelo uso de plataformas para a realização de atividades de trabalho, mas também evidenciou as condições precárias dos trabalhadores plataformizados. 

Segundo Rafael, existem similaridades entre esses trabalhadores por todo o mundo, o que reforça “que o enfrentamento à plataformização do trabalho necessita de perspectivas internacionalistas tanto para compreender quanto para atuar junto aos movimentos.”

Assim, entregadores de vários países têm recorrido à criação de coletivos e cooperativas como alternativas às plataformas dominantes. Esses espaços têm se tornado “laboratórios do trabalho por plataformas e das lutas dos trabalhadores”.

 


Cooperativas e mídias sociais

 

O estudo analisou cooperativas existentes no Brasil, Espanha e França. Apesar de cada país ter diferentes condições econômicas e políticas, os dados apontam correspondências nas ações desses grupos em busca de melhores condições de trabalho.

Enquanto na Espanha e na França a base de atuação das cooperativas é mais consolidada, o Brasil caminha para a criação de pequenos coletivos e cooperativas ainda dependentes de plataformas de mídias sociais.

Esses grupos atuam de maneira mais colaborativa e com forte uso das redes sociais, permitindo assim um diálogo horizontal entre os trabalhadores e a escolha por um modelo participativo de governança. Um exemplo disso é a Senõritas Courier, cooperativa formada por mulheres e pessoas LGBTQIA+ que fazem entregas de bicicleta em São Paulo.

Para Rafael, essas experiências apontam para um processo ainda em andamento, mas promissor, “podendo ser o início de um movimento mais amplo de reinvenções de circuitos econômicos locais de produção e consumo envolvendo plataformas digitais para o bem comum”.

 


Revista MATRIZes

 

O volume 16 da revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), coloca em pauta temas que vêm ganhando destaque na área de comunicação, entre eles BIg Data e inteligência artificial. 

Ensaios como IEML: Rumo a uma Mudança de Paradigma na Inteligência Artificial, do filósofo Pierre Lévy, e Retrato do Espectador Interativo como Músico, do pesquisador François Jost, analisam diferentes maneiras de interagir com as mídias através das novas tecnologias. 

A revista traz ainda uma entrevista com o antropólogo argentino Néstor García Canclini, titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

Acesse a nova edição da revista MATRIZes na íntegra.

 

 


Imagem de capa: Rovena Rosa/ Agência Brasil

 


 

Notícias do