CJE | Departamento de Jornalismo e Editoração



A ECA e o ensino do radiojornalismo

No centenário do rádio no Brasil, saiba mais sobre o pioneirismo e excelência da ECA no estudo dessa mídia e da sua importância para a formação em jornalismo
 

Vida acadêmica

Há 100 anos, no dia 7 de setembro de 1922, ocorria a primeira transmissão radiofônica oficial em terras brasileiras. O evento foi organizado para comemorar o centenário da Independência. O presidente Epitácio Pessoa proferiu um discurso na Praça XV, no Rio de Janeiro, que foi transmitido para apenas 80 aparelhos, todos localizados na capital. Antes dessa data, outras experiências já tinham acontecido, como do pioneirismo do padre Roberto Landell de Moura no final do século XIX e da Rádio Clube de Pernambuco em 1919 - tema da pesquisa de pós-doutorado de Pedro Serico Vaz Filho, da ECA. Por isso, a data inicial da radiodifusão no país ainda é um tema controverso entre os estudiosos.

O fato é que, quando surgiu, ainda no século XIX, o rádio era uma invenção revolucionária, que prometia mudar os rumos da comunicação, o que realmente aconteceu. Completado um século desse marco histórico, o rádio permanece, apesar das novas tecnologias, uma mídia importante para a sociedade.

Foto de dois homens em um rio, dentro de um pequeno barco motorizado. Atrás deles estende-se um rastro na água, deixado pelo movimento das hélices do motor. Ao lado deles encontram-se algumas habitações de palafita.
O rádio AM ainda é o principal meio de comunicação em algumas comunidades da Amazônia. Imagem: Reprodução/Marcelo Camargo - Agência Brasil

Luciano Maluly, docente na área de radiojornalismo no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), aponta que o rádio possui certa facilidade na sua produção e no seu consumo. “Existe a possibilidade de você estar se informando ao mesmo tempo que faz outras coisas. Não há tanta dificuldade em assimilar esse tipo de conteúdo, ao contrário da televisão e da internet, que requerem mais atenção.”

Uma enorme vantagem da radiofonia é sua capacidade de atingir locais fora do alcance de outras redes comunicacionais, realidade ainda presente no Brasil. Lourival Galvão Júnior, que tem doutorado e pós-doutorado em Ciências da Comunicação pela ECA, chama a atenção para esse aspecto.

 

“O rádio tem um papel fundamental no atendimento a essas regiões [isoladas] e também nos centros urbanos. Por mais que as pessoas estejam conectadas, ainda vivemos nos centros urbanos desigualdades midiáticas. Muita gente não tem acesso ao celular e à internet, embora possa parecer que isso não aconteça.”

 

Lourival Galvão Júnior, pesquisador
 
 
O ensino e a pesquisa do rádio na ECA
 

O rádio não está em decadência;  ao contrário, segue como fonte relevante de informação e entretenimento. Por isso, ele é um pilar de extrema importância na formação de futuros comunicadores. A ECA possui, nessa área, um ensino de excelência e tradição reconhecidas, que também se observa na área da pesquisa. 

Exemplo disso é a pesquisa de doutorado que vem sendo desenvolvida por Beatriz Buschel Pasqualino, orientada por Maluly. Beatriz buscará entender como é feito o jornalismo das rádios cubanas, que também completam 100 anos, do ponto de vista da produção de informação e do estado socialista que as controla. 

 

“Resolvi estudar rádio por uma questão de gosto, mas também por fazer questão de mostrar para as pessoas que o rádio não é algo do passado. Apesar de estudar o rádio ter alguma ligação com o passado, não é apenas sobre isso, mas também é uma maneira de compreender melhor a mídia sonora de hoje, como os podcasts.”

 

Beatriz Buschel Pasqualino, pesquisadora

 

Primeira emissora do país foi fundada em Pernambuco

 

Pedro Serico Vaz Filho concluiu recentemente seu pós-doutorado na ECA, com o tema Certidão de Nascimento da Rádio Clube de Pernambuco: apuração de registros impressos sobre a origem da emissora de rádio em 06 de abril de 1919. Sua pesquisa resgata a história da referida rádio, fundada antes da primeira transmissão oficial.

Pedro notou que as referências sobre a emissora eram escassas, mas seus estudos revelaram menções em periódicos da época. Inclusive, Roquette-Pinto, da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, considerada a primeira emissora de rádio brasileira, tinha conhecimento da rádio pernambucana. O pesquisador afirma que “não existia na época disputas por pioneirismos ou primazias. Pelo contrário, as relações eram amistosas entre os gestores das respectivas emissoras.”

Segundo Pedro, as oficializações da transmissão inaugural de 7 de setembro e da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro como emissora pioneira se devem ao fato do Rio ser a então capital do Brasil e a maior repercussão nacional e internacional destes marcos, documentada em diversas fontes. 

No campo do ensino,  Walter Sampaio, importante radialista que iniciou sua carreira nos anos 1950, foi o primeiro professor de Radiojornalismo da ECA. Quando começou a atuar como docente, na década de 1960, o curso de Jornalismo era uma novidade, pois até pouco tempo antes não havia necessidade de diploma para exercer a profissão. Sampaio se torna, ao mesmo tempo, professor e aluno da ECA, pois ele acreditava que o ensino acadêmico era primordial para o exercício jornalístico. 

Depois dele, veio a professora Gisela Swetlana Ortriwano, um marco nos estudos sobre o rádio. A pesquisa de pós-doc de Lourival teve como tema as contribuições metodológicas e pedagógicas da professora, que foram diversas. Um exemplo disso é a base teórica que Gisela estabeleceu no segmento, produzindo uma tese de doutorado pioneira sobre o Radiojornalismo. Até hoje, em muitas universidades, seus livros são usados como referencial. 

Lourival também vê na carreira de Gisela outras contribuições relevantes. Ele afirma que “ela fez uma série de ações envolvendo ensino, pesquisa e extensão durante os quase 30 anos em que esteve junto ao CJE. Nessas três frentes, ela apresentava um conteúdo teórico e o ligava à prática. Um método eficaz e que influenciou a todos os docentes, nos ensinando a aliar teoria e prática”.

 

Foto de uma mulher branca, vestindo cachecol laranja listrado, um casaco verde pesado e gorro branco. Ela está apoiada sobre uma grade. Atrás dela, encontra-se uma grande edificação com torres, que lembra um castelo.
Professora Gisela Swetlana Ortriwano. Imagem: Reprodução/Acervo Rodolfo Ortriwano 
 
ECA e o Radiojornalismo hoje
 

A tradição iniciada com os professores Walter e Gisela persiste ainda hoje. De acordo com Maluly, um dos diferenciais da Escola é o projeto Universidade 93,7, ligado ao CJE. Ele consiste em um programa semanal, veiculado pela Rádio USP, que busca divulgar as produções radiofônicas realizadas por discentes e pesquisadores.

A proposta é extrapolar os limites impostos pela sala de aula, em mais um exemplo da união entre teoria e prática. Os temas fogem daqueles abordados pelas rádios tradicionais, se aproximando e escutando a população, que ganha acesso ao conhecimento e a dados de seu interesse. E tudo isso é feito de maneira profissional pelos alunos, que devem planejar as pautas e respeitar os prazos. 

Maluly, que coordena a iniciativa, afirma que seu objetivo é “criar um espaço mais democrático através do rádio, onde as pessoas possam não apenas ouvir as notícias, mas também ter a possibilidade de solucionar os seus problemas."

 

"Trabalhamos um jornalista que seja voltado à defesa da democracia e capaz de encontrar soluções para as questões do país.”

 

Luciano Maluly, professor do Departamento de Jornalismo e Editoração

 

A pesquisa de Lourival, inclusive, foi exibida na Universidade 93,7 em uma série de programas intitulada Vozes Giselistas: as contribuições de Gisela Swetlana Ortriwano ao radiojornalismo e à comunicação. O pesquisador aponta que esse cuidado que a ECA possui em produzir um radiojornalismo conectado à realidade é um aspecto crucial do ensino. Isso, aliado a uma pedagogia que preza pela constante conexão entre teoria e prática, é o que torna o radiojornalismo da ECA tão forte e respeitado. 

 

 

Imagem de capa: Mariana Chama
 
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