Projetos da ECA para periferias geram impacto social e reconhecimento de comunidades
Iniciativas coordenadas pelos docentes Mariângela Haswani e Dennis de Oliveira são contempladas em edital de fomento para cultura e extensão na USP
Central Periférica, projeto coordenado pelo professor Dennis de Oliveira, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), e o Admirável Lixo Novo, coordenado pela professora Mariângela Haswani, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) estão entre as propostas selecionadas no 7° Edital Santander / USP / FUSP, que tem a finalidade de fomentar iniciativas de cultura e extensão universitária. Cada projeto foi contemplado com o valor de dez mil reais, que deve ser destinado à produção de materiais que serão utilizados na realização e divulgação das atividades.
O edital é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), junto com a Fundação de Apoio à Universidade (FUSP) e o Banco Santander.
A revista Central Periférica é vinculada ao projeto Observatório dos Coletivos Culturais Periféricos de São Paulo (OCCP), que também é coordenado pelo professor Dennis. O observatório atua em conjunto com iniciativas de coletivos culturais periféricos na cidade de São Paulo, monitorando seus processos de ação e comunicação.
“Resultante de um trabalho integrado e coletivo, a Revista Central Periférica visa à expansão da cultura e informação de periferias para periferias”, segundo o site do Observatório. O fomento recebido por meio do edital viabilizará a produção da segunda edição da revista, que irá mostrar a atualização do trabalho com os coletivos culturais periféricos parceiros do OCCP.
A primeira edição da revista foi lançada com verba obtida pelo edital Ciência Cidadã, de 2020, da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da USP. A publicação apresentou material jornalístico referente às atividades realizadas junto a coletivos culturais da periferia, com temas como políticas culturais periféricas, comunicação, produção artística periférica e os desafios desses coletivos durante os períodos mais críticos da pandemia. Na ocasião, as atividades aconteceram de forma on-line.
Conforme explica o professor Dennis no editorial da primeira edição da revista, “as ações de resistência política das periferias não se resumem às clássicas formas de luta dos movimentos sociais tradicionais. Uma geração de jovens mulheres e homens desenvolvem outras formas de organização de forma horizontal (...) contrastando com as hierarquias construídas globalmente”.
Além disso, é preciso que a comunidade universitária amplie sua compreensão de cultura, avalia o docente do CJE:
“Nós tendemos a crer que a cultura é somente o que acontece naquele circuito do mainstream, nesse circuito acadêmico, e a gente não consegue enxergar os bairros periféricos como lugares de potencialidades culturais e sociais.”
Dennis de Oliveira, professor do CJE
O docente destaca ainda a necessidade da USP aprender a se comunicar efetivamente com a população: “essa divisão ensino, pesquisa e extensão é muito estanque. A extensão não é só socializar conhecimento, mas é também produzir conhecimento. É preciso dialogar com a comunidade, porque é no diálogo que se faz conhecimento.”
Quem participa da execução das ações do projeto são Juliana Sales, aluna do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM-USP), Mariana Caires, mestranda da UFABC, e Tâmara Pacheco, doutoranda da EACH. O projeto também conta com participantes voluntários do primeiro ano do curso de Jornalismo.
Outro projeto da ECA contemplado pelo edital foi o Admirável Lixo Novo, coordenado pela professora Mariângela Haswani, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP). O projeto atua na comunidade São Remo, próxima à USP, onde dá instruções à população sobre os problemas que envolvem o acúmulo de resíduos sólidos nas ruas e indica formas de tratamento desse lixo. Esse trabalho, além de diminuir a proliferação de ratos, baratas e escorpiões, é capaz de gerar novos materiais. “Por que Admirável Lixo Novo? Porque era lixo e de repente vira uma outra coisa. Uma coisa bacana, que tem uma utilidade. Não fica jogado como lixo poluindo a água, poluindo tudo”, fala a professora Mariângela.
O projeto, que já recebia o fomento do edital Inclusão Social e Diversidade na USP e em Municípios de seus Campi, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP (PRCEU), realiza ações diversas para orientar a população sobre como diminuir a produção de lixo, como oficinas de conserto de eletrônicos, compostagem de materiais orgânicos e transformação de aparelhos eletrônicos descartados em novos materiais.
Com o passar do tempo, a professora percebeu que era necessário pensar também uma forma de orientar quem não tivesse a possibilidade de participar das oficinas. Foi quando a professora Mariângela teve a ideia de criar tutoriais em vídeo, o que será feito com o novo fomento recebido pelo projeto.
Além de ser um material que pode ser consultado a qualquer momento, os tutoriais permitem que pessoas que não sabem ler possam seguir as instruções sobre tratamento de lixo. Inicialmente o projeto será aplicado na São Remo, mas, uma vez que os vídeos passem a ser disponibilizados na internet, qualquer pessoa pode acessar.
A docente ressalta também a importância ambiental do projeto:
“As pessoas, de modo geral, principalmente os ‘urbanóides’ - que é aquela pessoa que vive na cidade e não tem muita vivência de interior, de mato, de mata, de córrego - , (...) essas pessoas estão muito distantes da realidade da natureza, só que o lixo produzido na cidade vai parar na água do córrego, depois do rio, depois do mar. (...) Dentro da sua casa o problema é seu. Da rua pra fora o problema é nosso.”
Mariângela Haswani, professora do CRP
Participam também do projeto a professora Sylmara Dias, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), Patrícia Zimmermann, aluna do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da ECA, Camila Sasahara, aluna de pós-graduação do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Danilo Sato, doutorando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador no Instituto de Estudos Avançados (IEA), Jack Magalhães, mestrando da (EACH), Letícia Stevanato, doutoranda do IEE, e as alunas de iniciação científica Renata Frederico Mesquita, do curso de Relações Públicas, Julia Valle, do curso de Gestão de Políticas Públicas (EACH), Heloisa Sousa, do curso de Ciências Sociais (FFLCH) e Danila Rodrigues, do curso de Gestão Ambiental (EACH).