Projetos da ECA para periferias geram impacto social e reconhecimento de comunidades

Iniciativas coordenadas pelos docentes Mariângela Haswani e Dennis de Oliveira são contempladas em edital de fomento para cultura e extensão na USP

Comunidade

Central Periférica, projeto coordenado pelo professor Dennis de Oliveira, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), e o Admirável Lixo Novo, coordenado pela professora Mariângela Haswani, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) estão entre as propostas selecionadas no  7° Edital Santander / USP / FUSP, que tem a finalidade de fomentar iniciativas de cultura e extensão universitária. Cada projeto foi contemplado com o valor de dez mil reais, que deve ser destinado à produção de materiais que serão utilizados na realização e divulgação das atividades.

O edital é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), junto com a Fundação de Apoio à Universidade (FUSP) e o Banco Santander.

 

“Informação e cultura das periferias para as periferias”

 

Imagem da capa da primeira edição da revista Central Periférica. A capa é em preto e branco, com uma montagem com três fotos. Abaixo e à esquerda a foto de um desenho na parede de um jovem de máscara de proteção, boné e espirrando uma lata de tinha. À direita, uma imagem na parede do rosto de uma pessoa, aparentemente com dreads curtos para cima e óculos escuros na testa. Ao lado dessa imagem na parede está escrito "sabota".  Na foto de cima há aparentemente um jovem, na frente de uma trave de futebol. Atrás da trave uma parede escrito "campinho" com letras grandes e o desenho de uma pessoa com traços indígenas. Do lado direito tem parte da fiação elétrica da rua.  Em uma caixa de texto preta, a esquerda, no topo da revista, está escrito Central Periférica em destaque e no rodapé a frase "informação e cultura das periferias para as periferias"
Primeira edição da revista Central Periférica. Imagem/ Reprodução site do OCCP

A revista Central Periférica é vinculada ao projeto Observatório dos Coletivos Culturais Periféricos de São Paulo (OCCP), que também é coordenado pelo professor Dennis. O observatório atua em conjunto com iniciativas de coletivos culturais periféricos na cidade de São Paulo, monitorando  seus processos de ação e comunicação.

“Resultante de um trabalho integrado e coletivo, a Revista Central Periférica visa à expansão da cultura e informação de periferias para periferias”, segundo o site do Observatório.  O fomento recebido por meio do edital viabilizará a produção da segunda edição da revista, que irá mostrar a atualização do trabalho com os coletivos culturais periféricos parceiros do OCCP.

A primeira edição da revista foi lançada com verba obtida pelo edital Ciência Cidadã, de 2020, da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da USP. A publicação apresentou material jornalístico referente às atividades realizadas junto a coletivos culturais da periferia, com temas como políticas culturais periféricas, comunicação, produção artística periférica e os desafios desses coletivos durante os períodos mais críticos da pandemia. Na ocasião, as atividades aconteceram de forma on-line.

 

O reconhecimento da força das comunidades

 

Conforme explica o professor Dennis no editorial da primeira edição da revista, “as ações de resistência política das periferias não se resumem às clássicas formas de luta dos movimentos sociais tradicionais. Uma geração de jovens mulheres e homens desenvolvem outras formas de organização de forma horizontal (...) contrastando com as hierarquias construídas globalmente”.  

Além disso, é preciso que a comunidade universitária amplie sua compreensão de cultura, avalia o docente do CJE:

 

“Nós tendemos a crer que a cultura é somente o que acontece naquele circuito do mainstream, nesse circuito acadêmico, e a gente não consegue enxergar os bairros periféricos  como lugares de potencialidades culturais e sociais.”

 

Dennis de Oliveira, professor do CJE

 

Foto de uma espécie de mural de dois personagens com traços e adereços indígenas. Eles se debruçam sobre uma paisagem que remete a uma comunidade, com diversas casas amontoadas. O desenho  ocupa grande parte de um muro branco e parece inacabado, com materiais de pintura no chão e escadas pelo local. Ao fundo, o topo de uma construção em tijolos aparentes e um céu azul com nuvens. Um homem, uma mulher e uma criança circulam pelo local
Coletivo cultural Cine Campinho, um dos coletivos retratados na Revista Central Periférica. Foto: Reprodução/Facebook

O docente  destaca ainda a necessidade da USP aprender a se comunicar efetivamente com a população: “essa divisão ensino, pesquisa e extensão é muito estanque. A extensão não é só socializar conhecimento, mas é também produzir conhecimento. É preciso dialogar com a comunidade, porque é no diálogo que se faz conhecimento.” 

Quem participa da  execução das ações do projeto são Juliana Sales, aluna do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM-USP), Mariana Caires, mestranda da UFABC, e Tâmara Pacheco,  doutoranda da EACH. O projeto também conta com participantes voluntários do primeiro ano do curso de Jornalismo.

 

A transformação do lixo 

 

Outro projeto da ECA contemplado pelo edital foi o Admirável Lixo Novo, coordenado pela professora Mariângela Haswani, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP). O projeto atua na comunidade São Remo, próxima à USP, onde dá instruções à população sobre os problemas que envolvem o acúmulo de resíduos sólidos nas ruas e indica formas de tratamento desse lixo. Esse trabalho, além de diminuir a proliferação de ratos, baratas e escorpiões, é capaz de gerar novos materiais. “Por que Admirável Lixo Novo? Porque era lixo e de repente vira uma outra coisa. Uma coisa bacana, que tem uma utilidade. Não fica jogado como lixo poluindo a água, poluindo tudo”, fala a professora Mariângela.

Foto de três luminárias acesas feitas com materiais reciclados. Da esquerda para a direita, uma que parece a ducha de um chuveiro em cima de uma caixa preto com um espelho de  interruptor e tomada, com pontos de luz amarela saindo pelos buracos. A segunda  que é uma fita de  VHS com luz roxa saindo pelos buracos redondos da fita e um liquidificador com uma lâmpada amarela. Elas estão ligadas por fios estendidos em uma régua ligadas em uma caixa vermelha.. Atrás há um mural de cortiça apoiado na parede, com várias folhas de papel com textos e imagens diversas  pregadas nele.
Luminárias feitas na comunidade São Remo com materiais retirados do lixo. Foto: Renata Mesquita

O projeto, que já recebia o fomento do edital Inclusão Social e Diversidade na USP e em Municípios de seus Campi, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP (PRCEU), realiza ações diversas para orientar a população sobre como diminuir a produção de lixo, como oficinas de conserto de eletrônicos, compostagem de materiais orgânicos e transformação de aparelhos eletrônicos descartados  em novos materiais.

Com o passar do tempo, a professora percebeu  que era necessário pensar também uma forma de orientar quem não tivesse a possibilidade de participar das oficinas. Foi quando a professora Mariângela teve a ideia de criar tutoriais em vídeo, o que será feito com o novo fomento recebido pelo projeto.

Além de ser um material que pode ser consultado a qualquer momento, os tutoriais permitem que pessoas que não sabem ler possam seguir as instruções sobre tratamento de lixo. Inicialmente o projeto será aplicado na São Remo, mas, uma vez que os vídeos passem a ser disponibilizados na internet, qualquer pessoa pode acessar.

A docente ressalta também a importância ambiental do projeto:  

 

“As pessoas, de modo geral, principalmente os ‘urbanóides’ - que é aquela pessoa que vive na cidade e não tem muita vivência de interior, de mato, de mata, de córrego - , (...) essas pessoas estão muito distantes da realidade da natureza, só que o lixo produzido na cidade vai parar na água do córrego, depois do rio, depois do mar. (...) Dentro da sua casa o problema é seu. Da rua pra fora o problema é nosso.”

 

Mariângela Haswani, professora do CRP

 

Participam também do projeto a professora Sylmara Dias, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), Patrícia Zimmermann, aluna do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da ECA, Camila Sasahara, aluna de pós-graduação do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Danilo Sato, doutorando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador no Instituto de Estudos Avançados (IEA), Jack Magalhães, mestrando da (EACH), Letícia Stevanato, doutoranda do IEE, e as alunas de iniciação científica Renata Frederico Mesquita, do curso de Relações Públicas, Julia Valle, do curso de Gestão de Políticas Públicas (EACH), Heloisa Sousa, do curso de Ciências Sociais (FFLCH) e Danila Rodrigues, do curso de Gestão Ambiental (EACH).

 

 

 


Foto de capa: Oficina de compostagem com crianças da comunidade São Remo. Foto: Danila Rodrigues