Livro de bell hooks é pauta de estudo em grupo na ECA

Iniciativa de estudar a autora feminista negra é da Comissão de Inclusão e Pertencimento da Escola

Comunidade

A Comissão de Inclusão e Pertencimento (CIP) da ECA está conduzindo rodas de conversa sobre o livro Pertencimento: uma cultura do lugar, de bell hooks, ao longo do segundo semestre deste ano. O primeiro encontro, que discutiu dos textos iniciais até o capítulo dois do volume, ocorreu em 20 de agosto e contou com a participação de estudantes de graduação, pós-graduação, funcionárias, pesquisadores e pessoas de outra unidade e sem vínculo atual com a universidade.

Foto em preto e branco de uma mulher negra falando e gesticulando. Ela tem cabelos curtos e crespos, usa óculos redondos e brincos de argola. O fundo é escuro.
bell hooks foi uma grande intelectual feminista e antirracista, professora universitária e autora de diversos livros. Foto reprodução/ Acervo da Universidade de Wisconsin-Madison.

Os encontros são mensais, sempre às 16h30, no Auditório Lupe Cotrim, no Prédio Central da ECA, e estão previstas mais quatro datas, cada uma com indicação de capítulos a serem debatidos:

  •  17 de setembro (capítulos 3, 4 e 5);
  • 15 de outubro (capítulos 6, 7 e 8);
  • 19 de novembro (capítulos 9, 10, 11, 12 e 13);
  • 10 de dezembro (capítulos 14, 15 e 16).

Para participar, basta preencher o formulário de inscrição, não sendo necessário ter ido ao primeiro encontro nem ter lido todo o livro ou todos os capítulos indicados. É recomendável apenas algum contato com o texto.

 

Por que ler bell hooks e por que ler em grupo?

A professora Daniela Osvald Ramos, docente do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) e presidente da CIP, conta que já havia lido alguns livros de bell hooks, como Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade e Ensinando pensamento Crítico: sabedoria prática. A partir do que conhecia sobre a autora, ela considerou que ler em grupo seu livro sobre pertencimento seria uma oportunidade de estudar um tema que pensamos conhecer, mas sobre o qual refletimos pouco. “Por estarmos em uma universidade, é nosso dever estudar e pesquisar e não achar que sabemos de antemão o que significa incluir e pertencer”.

A autora estadunidense é bastante conhecida por seus escritos feministas e antirracistas e também por seus livros sobre educação, nos quais faz sempre muitas referências ao que aprendeu com o educador brasileiro Paulo Freire. Por tratar de temas diversos, o interesse em torno de seus escritos costuma ter motivos variados. Erik Henrique, estudante do curso de Turismo que participou do primeiro encontro, por exemplo, conta que seu interesse por bell hooks tem relação com a capacidade da autora de “expressar ideias complexas de forma simples e acessível, além de sua abordagem sensível e pessoal sobre temas como raça, gênero e classe”. Nesse sentido, Daniela ressalta que  “bell hooks tem uma abordagem interseccional e o livro direciona para o letramento racial, algo [em] que a ECA e a USP, por serem de maioria branca, precisam avançar”. 

Da leitura individual para o estudo em grupo, a motivação para a maioria das pessoas interessadas nas rodas de leitura foi a oportunidade de conhecer novas perspectivas e enriquecer a discussão. Rafael Ventuna, estudante do Programa de pós-graduação em Artes Cênicas (PPGAC) e representante discente na CIP, considera que  “uma bela surpresa é a pluralidade de perfis. Um grupo diverso e interessado, que torna a conversa muito mais enriquecedora.” 

Foto de grupo de nove pessoas posando e sorrindo, em pé, em torno de uma mesa de madeira clara. Do lado direito telas brancas de projeção, do lado esquerdo, cadeiras estofadas vermelhas, e, ao fundo, janelas, persianas e ar condicionado na parede da sala.
Em consonância com as proposições de bell hooks, a conversa se deu entre pessoas que estabelecem diferentes relações com o espaço da universidade. Foto: autoria desconhecida.

Jerônimo Favaretto Ramos, egresso do curso de Ciências Sociais da USP, que também esteve no primeiro encontro, viu a reunião de pessoas de áreas bem diversas como algo “inusitado”, mas considera que “a discussão foi bem coerente com a proposta de bell hooks, que tem uma liberdade para relacionar a teoria com a vivência”. A observação vai ao encontro do que a professora Daniela presumia, que estudar na teoria e colocar em prática, em conversa com pessoas interessadas no tema, pode, efetivamente,  “trazer para a CIP mais da realidade que nos circunda”. Ela ainda acredita que é importante entender o que seria pertencer para pessoas com diferentes tipos de vínculo com a universidade, não apenas  estudantes, mas também pessoas que despendem grande parte de seu dia trabalhando na universidade.

 

 

Pertencer na universidade

 

“A universidade parece um ambiente um tanto árido para o pertencimento. As pessoas estão movidas por objetivos mais profissionais e de estudo e as relações entre pessoas e com o território (essenciais para a construção do pertencimento) acabam um tanto escanteadas. Isso se agrava ainda mais nas pessoas que são atravessadas por outros marcadores que reforçam o não pertencimento delas ao local.”

Jerônimo Favaretto Ramos, professor de Sociologia

 

O professor Ferdinando Martins, docente do CCA e membro da CIP, considera bell hooks muito instigante para pensar a atuação da CIP e a área de Inclusão e Pertencimento da USP como um todo e conta que a autora também está na bibliografia das disciplinas que ministra: Comunicação e Alteridade e Comunicação e Processos de Subjetivação. Ele diz que os textos de bell hooks mostram que “há questões que não podem ser resolvidas sem levar em consideração os afetos e nossas limitações internas”.

Daniela lembra que a USP recebe, cada vez mais, estudantes de outros lugares e que o pertencimento é determinante na inclusão de discentes da graduação e da pós-graduação. Nesse sentido, Ferdinando pensa que a autora traz um enfoque mais humano sobre temas caros  à militância pelos direitos das minorias sociais e avalia que, com isso, “podemos refletir sobre a USP e os múltiplos significados de inclusão para os segmentos que adentraram recentemente: PPIs [pretos, pardos e indígenas] e egressos do ensino público em geral, ou aqueles que só recentemente ganharam visibilidade (pessoas neurodivergentes, trans, PCDs [pessoas com deficiência], entre outros)”.

 

“A partir das leituras, entendi que o pertencimento na universidade vai além da simples inscrição em um curso. É um processo contínuo de construção da nossa identidade e de relações. A universidade é um espaço de encontro com diferentes culturas e histórias, e o desafio é encontrar o nosso lugar nesse mosaico. Pertencer nos ajuda a nos sentir mais motivados e engajados com a comunidade acadêmica.”

Erik Henrique, estudante de Turismo

 

 

Serviço

Roda de conversa literária: bell hooks - Pertencimento: uma cultura do lugar

Datas: 17 de setembro, 15 de outubro, 19 de novembro e 10 de dezembro de 2024

Horário: 16h30 às 18h

Local: Auditório Lupe Cotrim (1º andar, sala 100), Prédio Central, ECA USP. Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, SP

Formulário de inscrição

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Foto de capa: Liza Matthews
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