“O ofício das comunicações e das artes é uma aposta no futuro”
Clotilde Perez e Mário Videira tomam posse da direção da ECA; cerimônia foi marcada por apresentações artísticas e pela reafirmação dos valores da Universidade

Os convidados para a cerimônia de posse da nova diretoria da ECA puderam notar algo diferente no ambiente já na chegada à sala do Conselho Universitário, onde o evento foi realizado na quinta-feira, 3 de abril. Com o intuito de apresentar uma pequena amostra da produção da Escola e recriar um pouco da atmosfera frequentemente encontrada por lá, elementos artísticos foram posicionados logo na entrada, guiando o caminho até o auditório: uma exposição de manequins com figurinos da área de Artes Cênicas, um violinista realizando apresentações musicais, esculturas e um telão com produções audiovisuais.
A solenidade teve início com a leitura do termo de posse pela secretária-geral da USP, Marina Gallottini, e a assinatura do documento pelos gestores empossados, Maria Clotilde Perez Rodrigues, como diretora, e Mário Videira Rodrigues Junior, como vice-diretor.
Na sequência, a nova diretora dirigiu suas palavras ao público, destacando, inicialmente, o perfil complementar que existe entre ela e o vice-diretor, o que cria, segundo ela, um cenário de parceria perfeita, direcionada a um propósito comum e extremamente frutífero. Em uma fala contundente, Clotilde enfatizou o papel da Universidade perante a sociedade e como a ECA vem participando, desde a sua constituição, da construção da USP como a melhor Universidade do Brasil e da Iberoamérica:
“Origem, matriz e referência em diversos programas no País nas áreas de artes, comunicação e informação, a ECA configura-se como um centro irradiador de conhecimento, sendo parte destacada da cena científica, cultural e artística do estado de São Paulo e do Brasil, mas queremos mais. Nossos alunos, ex-alunos e docentes estão inseridos nas áreas estruturantes da sociedade e centrais sob o aspecto econômico, político, social e estratégico. Os egressos da ECA fundaram e integram agências de publicidade, equipes executivas de mídia, instituições artísticas e culturais, museus, empresas e serviços digitais e atuam em distintas esferas do governo, participando ativamente do desenvolvimento político e da gestão pública do País. Não é por acaso que cursos como Audiovisual, Jornalismo e Publicidade estão entre os dez mais procurados da Universidade há vários anos. Além da alta empregabilidade, os egressos da ECA destacam-se pela sua capacidade empreendedora, evidenciando o valor de uma formação humanista, com ênfase na teoria, no desenvolvimento do pensamento crítico e na inovação como uma prática naturalizada, uma vez que o conhecimento científico está em crescimento, o que impõe abertura para novas ideias, experimentação constante e visão direcionada ao futuro”, destacou.
A diretora resgatou o discurso de posse do primeiro diretor da ECA, Julio Garcia Morejon, que propôs “aperfeiçoar nossos meios de comunicação, dando-lhes dimensões mais belas e universais, formando melhor a mente e a alma dos que um dia terão nas mãos esses meios de integração social”, e destacou como esta fala apresenta três pilares que considera fundamentais da escola: beleza, universalidade e integração social.
“É de futuro que estão cheios os corações e mentes dos que se dispõem a viver da e pela arte e da e pela comunicação. O ofício da produção sígnica é uma aposta no futuro, um voto de esperança, um gesto de otimismo, um ato prenhe de confiança na continuidade.”
Clotilde Perez, diretora da ECA
Por fim, a professora reafirmou o compromisso da nova gestão com os valores universais democráticos e com os desafios que um gestor público assume ao administrar uma unidade da USP: “Não pode existir democracia onde todos pensam e agem da mesma forma. A democracia é da ordem da liberdade. Não é possível conceber ordem democrática como algo monolítico. A democracia necessária se alimenta de uma pluralidade de pensamentos e ordens diversas, por vezes discordantes. E, por isso mesmo, um dos grandes problemas do Estado de Direito consiste em integrar a universalidade do pensamento no processo democrático, e a Universidade é a expressão mais significativa do convívio divergente, da disputa respeitosa e da unanimidade heterogênea que devemos ter como exemplo para a vida em sociedade em perspectiva mais ampla. A Universidade é parte integrante da sociedade. Mas ela não apenas a compõe. Ela define, indica, sinaliza. Os desafios da grandeza, das dinâmicas de funcionamento da coisa pública, da agilidade, da racionalidade e da competência trazem responsabilidade junto da posição privilegiada e prestígio. Ser USP é ter compromisso com a qualidade, com a pesquisa e o ensino públicos, com a construção coletiva e com a sociedade. Ser USP é ter portas abertas, mas também enfrentar o preconceito que o grande e o melhor podem causar como resposta às inseguranças humanas e enfrentar o desafio de uma mudança de mentalidades”.
O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, parabenizou a gestão anterior e agradeceu à ex-diretora, Brasilina Passarelli, pelo período de grande desenvolvimento da ECA e também pela parceria profícua que houve com a Reitoria nos últimos anos. Ao desejar sucesso aos novos administradores, o reitor reforçou os ideais de integração entre academia e sociedade: “A Universidade só tem sentido se fizermos parte da sociedade, colaborando com as comunidades e sendo vetores de desenvolvimento social, de diminuição de desigualdades, de mais sustentabilidade. A USP foi fundada em 1934 e poucas instituições daquela época sobrevivem até os dias de hoje, ainda mais com tanta pujança e com tamanha produção e impacto. Tudo o que fazemos aqui não pode ser pensado tendo em vista somente a formação do aluno e a produção de conhecimento, mas também em como isso vai repercutir na sociedade. A preparação do estudante para o futuro deve incluir a capacidade de transformação e de criação de uma sociedade mais justa e com mais qualidade de vida. É pensando nisso que temos uma visão de excelência dentro da Universidade e temos consciência de sua importância como um farol para que, em momentos difíceis, possamos manter o respeito aos valores que são caros à sociedade brasileira”.
“O ofício das comunicações e das artes é uma aposta no futuro, um voto de esperança e um gesto de otimismo e confiança.”
Clotilde Perez, diretora da ECA
Um recital com o novo vice-diretor ao piano encerrou a cerimônia e, em seguida, na saída do ambiente, os presentes assistiram à cena teatral Polixena, com quatro atrizes da Escola de Arte Dramática da ECA.
A íntegra da cerimônia de posse pode ser acompanhada no seguinte vídeo:
Quem são
Maria Clotilde Perez Rodrigues é professora titular de Publicidade e Semiótica na ECA, onde atua desde 2002. Graduada em Administração com ênfase em Marketing pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1994, obteve o título de mestre em Administração e Marketing em 1998 e de doutora em Comunicação e Semiótica em 2001 pela mesma instituição. Realizou pós-doutorados em Comunicação na Universidad de Murcia, Espanha (2009), em Marketing na Universidade Católica Portuguesa, Portugal (2011), e em Design Thinking na Stanford University, Estados Unidos (2013). Suas pesquisas concentram-se em semiótica, comunicação, consumo, publicidade, criatividade, inovação nas humanidades, brasilidade, tendências e sociedade contemporânea.
Mário Rodrigues Videira Junior é professor livre-docente em Estética Musical pela ECA desde 2019. Graduado em Música (2001) e Filosofia (2008) pela USP, obteve o título de mestre em Musicologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2004 e doutor em Filosofia pela USP em 2009. Suas áreas de pesquisa incluem práticas interpretativas, estética musical, filosofia e literatura alemãs. Professor do Departamento de Música da ECA desde 2012, foi presidente da Comissão de Pós-Graduação (CPG) e vice-chefe de Departamento. Em 2019, recebeu o Prêmio Excelência para Novas Lideranças em Pesquisa na USP, na área de Linguística, Letras e Artes.
Referência em Comunicação, Artes e Informação
A ECA foi criada em 1966, inicialmente como Escola de Comunicações Culturais, e teve seu nome alterado em 1969, quando incorporou a formação em Artes.
Estruturada para atender às demandas emergentes da comunicação e cultura no Brasil, a ECA oferece hoje 17 bacharelados e quatro licenciaturas na graduação, além de seis programas de pós-graduação e uma escola técnica para formação de atores, a Escola de Arte Dramática (EAD). Na graduação, são oferecidas carreiras diferentes nos campos da Informação, Comunicação e Artes: Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Biblioteconomia, Editoração, Educomunicação, Jornalismo, Música, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Turismo. Em seus quase 60 anos, já formou mais de 12.600 profissionais e pesquisadores e mais de 5.800 mestres e doutores.
A unidade conta com cerca de 170 docentes, 180 servidores, cerca de 2.500 alunos de graduação e quase 700 de pós-graduação, além de mais de 2 mil estudantes em cursos de extensão. Entre os alunos, quase 30 intercambistas oriundos de países como Alemanha, Argentina, Bélgica, China, Colômbia, Coreia do Sul, Costa Rica, Espanha, França, Itália, México, Peru, Portugal, Reino Unido, Suécia e Uruguai.
Texto originalmente publicado no Jornal da USP.