CAC | Departamento de Artes Cênicas



Qual a relação do artista intérprete com a sociedade?

Pós-doutoranda analisa como produções de grupo de pesquisa inovam a arte e se relacionam com questões sociais

Vida acadêmica

 

O Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator (Cepeca), fundado em 2007 pelo professor Armando Sérgio da Silva, do Departamento de Artes Cênicas (CAC),  atua há anos incentivando pesquisas que explorem a arte da interpretação em suas diferentes formas. Em busca de interpretar a história do grupo, a atriz, dançarina e pesquisadora Evinha Sampaio realiza a pesquisa de pós-doutorado Cepeca: um coletivo de individualidades (2007-2017).
 

A jornada de Evinha no Cepeca
 

Evinha se juntou ao Centro durante seu doutorado, Dramaturgia de uma nau de loucos: uma possibilidade cênica. Na época, pesquisava os “movimentos dos corpos outros” — o movimento de pessoas com transtornos mentais que moravam nas ruas da cidade de São Paulo.  A pesquisadora buscava investigar a possibilidade de utilizar esses movimentos em trabalhos cênicos e, a partir disso, trazer a discussão sobre a condição dessas pessoas para novos espaços.

Um dia, integrantes do grupo estavam ensaiando uma cena que apresentariam em um evento da ECA, quando Armando a chamou para uma reunião, em que pediu que Evinha passasse a exercer esse papel mais burocrático, a cuidar da papelada, e ela aceitou. Ainda no seu doutorado, Evinha assumiu o cargo de secretária executiva do Cepeca.

 

Pesquisa prática e baseada na troca de experiências
 

Estimular a colaboração é uma das características do Cepeca. Outra é a junção do teórico e do prático, como conta Evinha:

Foi o Cepeca que inovou o trabalho na pós-graduação na ECA. Os mestrados e os doutorados não tinham a parte prática, só a teoria. O Cepeca tinha esse diferencial. O professor Armando exigia que tivesse uma apresentação cênica; tinha que ter um resultado prático. Nós tínhamos que fazer uma comprovação na prática da teoria que estávamos escrevendo.”

É assim, como um ambiente de troca e construção, onde pessoas interessadas na mesma coisa podem opinar nos trabalhos umas das outras e compartilhar ideias, que a atriz fala sobre o Cepeca. Mas nem sempre há tempo para se falar sobre tudo. A pesquisa de pós-doutorado de Evinha busca responder a algo que acaba escapando das conversas do dia a dia: como as pesquisas do Cepeca se relacionam com os problemas da sociedade?
 

 “Pra mim, o artista deveria ter as antenas, o corpo, o olho, tudo ligado à sociedade, ligado a esse mundo a que ele pertence.”

 

Evinha Sampaio, pós-doutoranda

 


A pergunta dialoga com a ideia de Evinha de um ator que resiste à produção neoliberal
, que ela define como uma produção individualista, egoísta e cega para o que acontece na sociedade. “Pra mim o artista deveria ter as antenas, o corpo, o olho, tudo ligado à sociedade, ligado a esse mundo a que ele pertence”, explica.
 

Interpretar a história do Cepeca
 

O estudo focará no período de 2007 a 2017, correspondente ao tempo em que Armando Sérgio da Silva esteve à frente do grupo. A pesquisadora analisará ao todo 20 mestrados e oito doutorados concluídos, além de três mestrados e dois doutorados em andamento. Serão analisados os conceitos criados em cada um desses trabalhos e que novidade eles trouxeram para o teatro, para a dança e para as outras formas de arte pesquisadas no Cepeca.

A frase título da pesquisa, “um coletivo de individualidades”, foi dita pelo ator e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Renato Ferracini e caiu no gosto de Armando e Evinha. “O Cepeca são vários pesquisadores, vários artistas, cada um com sua pesquisa. É esse conjunto que é o Cepeca”, conclui a atriz.

 

 


Imagem da capa: Pedro Bolle / USP Imagens