CAC | Departamento de Artes Cênicas



Carta a Paulo Freire, por Ingrid Dormien Koudela

Docente do Departamento de Artes Cênicas celebra o centenário do pensador pernambucano e destaca a urgência de sua obra na atualidade

Comunidade

Filósofo e Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire faria 100 anos no último domingo, 19 de setembro. O pensador pernambucano transformou o ensino no Brasil e no mundo ao propor uma abordagem radicalmente dialética do processo educativo, na qual “quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender”. 

Freire é considerado um dos mais importantes nomes da Pedagogia e o brasileiro mais homenageado da história, com pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por universidades da América e da Europa, além do prêmio da Unesco de Educação para a Paz, recebido em 1986. Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, é o terceiro livro mais citado em trabalhos acadêmicos de Ciências Sociais em todo o mundo.

As diversas celebrações nacionais e internacionais de seu centenário, que vão de um doodle do Google à Iniciativa Paulo Freire na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, confirmam a importância e atualidade de seu legado, cuja influência não se restringe à sala de aula. O pensamento e as práticas pedagógicas de Freire têm contribuído para diversos campos da Comunicação e das Artes, como as Artes Cênicas. 

Um exemplo é o trabalho da escritora, tradutora e professora livre-docente do Departamento de Artes Cênicas (CAC), Ingrid Dormien Koudela, que se dedica à Didática e Prática de Ensino em Artes Cênicas. Aluna de Paulo Freire, ela acaba de publicar uma carta para homenagear a obra do professor e reivindicar que ela ocupe ainda mais espaços, sobretudo nos tempos atuais.

“A importância de Paulo Freire é inegável. Tanto no Brasil como a nível internacional nosso filósofo traz ensinamentos que além de serem marcos na Pedagogia e Didática são urgentes em nossos dias. A comemoração do centenário está propiciando uma ampla divulgação de sua obra entre leigos e especialistas. Viva Paulo Freire!”, ressalta Ingrid.

Confira a carta na íntegra:

"Querido Paulo Freire,

Nós, que aqui estamos, somos cada vez mais isolados, fragmentados, solitários. O exercício do aqui/agora, na parceria de jogo, é virtual. Acertar o cesto com a bola ou marcar gol é no Game! Assistimos pela TV, ouvimos pelo Rádio, o Podcast, no Smartfone ou Desktop temos Podcast, Youtube, E-mail.

Em cada encontro na Internet, experimentamos novos desenlaces. E vamos construindo memórias coletivas nas gravações das Lives.

Já estamos na "Escola Alegre" que o Senhor anunciava, onde há uma relação dialógica entre docentes e discentes.

Acontece aqui a Lustige Arbeit (Trabalho Alegre) – como Bertolt Brecht gostava de denominar o Theaterspiel (Jogo Teatral).

Essa prática de ensino não seria urgente na escola brasileira hoje.

Não, querido Paulo Freire, não! Quanta falta o Senhor nos faz! Entidades burro-cráticas e desgovernos proíbem escolas alegres.

Aonde ficou a gostosura da arte?

Apesar da pandemia, na qual quase morremos todos, por descuido com a Terra, novos espaços de jogo e de teatro foram abertos. São ilhas de desordem no mar de nossa ordem social!

Espero escrever em breve sobre o fim dos tempos obscuros que vivemos.

Até lá com um grande abraço

 

Ingrid Dormien Koudela"

 

Publicado originalmente no site da SP Escola de Teatro.