Revista DESVAIRADA: o rompimento com o tradicionalismo
Edição celebra o centenário da Semana de Arte Moderna com produções de estudantes de Artes Cênicas em diversas linguagens
A Semana de Arte Moderna foi uma manifestação artístico-cultural ocorrida entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo. Influenciado pelas vanguardas europeias e pela renovação do panorama artístico no Ocidente, o marco oficial do Modernismo brasileiro reuniu diversos escritores, músicos, escultores, intelectuais e pintores e rompeu com o tradicionalismo ao buscar elementos de experimentação, liberdade estética e independência cultural do país.
Para celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna, estudantes do curso de Artes Cênicas, sob orientação do professor Luiz Fernando Ramos, do Departamento de Artes Cênicas (CAC) criaram a Revista DESVAIRADA, que tem como tema central o modernismo no teatro brasileiro. A publicação mostra afinidades e discordâncias dos autores em relação às ideias do passado e apresenta personalidades marcantes do Modernismo no Brasil, como Artur Azevedo, Nelson Rodrigues, Roberto Gomes, Renato Vianna e Oswald de Andrade.
Brasiliano: “Se queres mesmo inovação, volte então, o Tupí a falar”
Minha terra é vermelha
como pele de Tainá,
insalubre e perigosa
aos originais donos de lá.
O poema Brasiliano, de Miguel Estevão, analisa o contexto da modernização presente no país e traz lembranças da estrutura, do saudosismo e das rimas utilizadas na obra Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, escritor da primeira geração romântica.
Nem seu nome, nem sua língua,
suas vestes e o andar.
Saiba você, Brasiliano:
tudo que fazes é copiar.
O poeta evidencia a figura do “brasiliano”, que dá nome ao poema: isto é, o nativo que acredita que inovar significa ser adepto às línguas, tradições, atitudes e vestes provenientes da Europa. Menospreza-se a riqueza cultural encontrada no Brasil, a terra vermelha.
Vosmicê por obséquio,
poderias me emprestar?
Sua pele, suas botas,
em europeu vou me transformar!
Estevão tece críticas ao processo de integração da cultura europeia à brasileira e avalia a “invasão” ao território nacional, destacando a desvalorização e o apagamento da cultura local indígena. Para o autor, há uma depreciação das origens em detrimento de uma imitação do estrangeiro e, consequentemente, existe uma perda identitária.
Errôneo é o seu conceito
de moderno e inovar,
se queres mesmo inovação,
volte então, o Tupí a falar.
Por fim, Estevão destaca a dimensão da violenta invasão estrangeira ao país, defendendo que os povos indígenas e seus costumes sejam valorizados. Enfatiza a necessidade de resgatar a cultura, a história, as tradições e os idiomas locais. Como diz o autor, “se queres mesmo inovação, volte então, o Tupí a falar”.
Imagem: Divulgação/Desvairada