CAC | Departamento de Artes Cênicas



Revista DESVAIRADA: o rompimento com o tradicionalismo

Edição celebra o centenário da Semana de Arte Moderna com produções de estudantes de Artes Cênicas em diversas linguagens

Vida acadêmica
Pintura representa a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral em 1500, em Porto Seguro.
Representação do desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500. [Imagem: Oscar Pereira da Silva]

A Semana de Arte Moderna foi uma manifestação artístico-cultural ocorrida entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo. Influenciado pelas vanguardas europeias e pela renovação do panorama artístico no Ocidente, o marco oficial do Modernismo brasileiro reuniu diversos escritores, músicos, escultores, intelectuais e pintores e rompeu com o tradicionalismo ao buscar elementos de experimentação, liberdade estética e independência cultural do país.

Para celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna, estudantes do curso de Artes Cênicas, sob orientação do professor Luiz Fernando Ramos, do Departamento de Artes Cênicas (CAC) criaram a Revista DESVAIRADA, que tem como tema central o modernismo no teatro brasileiro. A publicação mostra afinidades e discordâncias dos autores em relação às ideias do passado e apresenta personalidades marcantes do Modernismo no Brasil, como Artur Azevedo, Nelson Rodrigues, Roberto Gomes, Renato Vianna e Oswald de Andrade.


Brasiliano: “Se queres mesmo inovação, volte então, o Tupí a falar”

 

Minha terra é vermelha
como pele de Tainá,
insalubre e perigosa
aos originais donos de lá.

O poema Brasiliano, de Miguel Estevão, analisa o contexto da modernização presente no país e traz lembranças da estrutura, do saudosismo e das rimas utilizadas na obra Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, escritor da primeira geração romântica.

Nem seu nome, nem sua língua,
suas vestes e o andar.
Saiba você, Brasiliano:
tudo que fazes é copiar.

O poeta evidencia a figura do “brasiliano”, que dá nome ao poema: isto é, o nativo que acredita que inovar significa ser adepto às línguas, tradições, atitudes e vestes provenientes da Europa. Menospreza-se a riqueza cultural encontrada no Brasil, a terra vermelha.

Vosmicê por obséquio, 
poderias me emprestar?
Sua pele, suas botas,
em europeu vou me transformar!

Estevão tece críticas ao processo de integração da cultura europeia à brasileira e avalia a “invasão” ao território nacional, destacando a desvalorização e o apagamento da cultura local indígena. Para o autor, há uma depreciação das origens em detrimento de uma imitação do estrangeiro e, consequentemente, existe uma perda identitária.

Errôneo é o seu conceito
de moderno e inovar,
se queres mesmo inovação,
volte então, o Tupí a falar.

Por fim, Estevão destaca a dimensão da violenta invasão estrangeira ao país, defendendo que os povos indígenas e seus costumes sejam valorizados. Enfatiza a necessidade de resgatar a cultura, a história, as tradições e os idiomas locais. Como diz o autor, “se queres mesmo inovação, volte então, o Tupí a falar”.

 

Deglutição Repórter: as falsas representações sociais e raciais
Performado por Guy e Pedro Pagaime, Deglutição Repórter remonta às origens do homem do Pau-Brasil a partir da chegada dos portugueses à Pindorama, a terra com povos e costumes desconhecidos pelos europeus. Por meio de bonecos, os atores buscam representar a visão contemporânea sobre o período colonial, além de dar enfoque às representações sociais e raciais que estiveram presentes no movimento artístico modernista.

 

 
Touro de Ouro com um papel grudado na parte inferior com a palavra "Fome".
O Touro de Ouro foi alvo de protestos em São Paulo. [Imagem: Reprodução/Carta Capital]
Touro Louco do Anhangabaú: a contradição entre luxo e necessidades básicas
O texto, de Matheus Miniguini, critica a escultura do Touro de Ouro, inaugurada em frente ao prédio da  Bolsa de Valores do Brasil, B3, no centro da cidade de São Paulo, em 16 de novembro de 2021. A estátua foi vista de maneira negativa pela população, uma vez que a situação econômica do país mostra-se delicada e está sendo agravada durante o período de pandemia da covid-19. O principal posicionamento do autor em Touro Louco do Anhangabaú diz respeito à contradição existente entre os investidores, sempre atentos para comprar ou vender códigos e índices para lucrar, e a grande parcela da população que já se encontra em índices imensuráveis de fome, sede e morte.
 
Revista DESVAIRADA
A Revista DESVAIRADA apresenta um compilado de textos, imagens, vídeos e músicas produzidas por estudantes do curso de graduação em Artes Cênicas no Laboratório IB: Modernismo no Teatro Brasileiro. A publicação também traz atividades realizadas ao longo do segundo semestre de 2021, dispostas ao longo de 74 páginas. Clique e confira a revista na íntegra.

 

Imagem: Divulgação/Desvairada