Semanas de curso abrem espaço para a prática e o diálogo sobre a profissão

Eventos são organizados por estudantes; confira como foram as semanas de cinco dos cursos da ECA

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Na prática
2024
estudantes de graduação

Uma antiga tradição da Escola de Comunicações e Artes é a realização de eventos temáticos dos cursos de graduação, organizados pelos próprios estudantes, com o objetivo de colocar em prática os conhecimentos apreendidos em sala de aula e adquirir novas experiências. 

Sejam realizadas por estudantes voluntários, empresas juniores ou no âmbito de disciplinas, todas essas atividades têm algo em comum: temas atuais e relevantes, que conectam os estudantes às demandas da sociedade e à realidade das profissões que escolheram.  A presença de egressos dos cursos é outra marca registrada. Isso permite que os graduandos tenham contato com profissionais já formados e inseridos no mercado, criando um espaço de troca e aprendizado mútuos. Outra característica comum nesses eventos é o seu formato: palestras e oficinas buscam unir teoria e prática, refletindo a metodologia de ensino da própria ECA. 

Mercado de trabalho, sustentabilidade, diversidade e tecnologia foram assuntos amplamente discutidos por estudantes, professores e profissionais convidados nos eventos realizados pelos estudantes dos cursos de Relações Públicas, Educomunicação, Biblioteconomia, Jornalismo e Turismo em 2024.


Vamos falar de sexualidade e diversidade?

O curso de Relações Públicas não promove uma semana do curso, e sim, o Encontro de RP, evento organizado há mais de 20 anos pelos estudantes do terceiro semestre da graduação que cursam as disciplinas Eventos, Cerimonial e Protocolo e Práticas Laboratoriais em Eventos, ministradas pelo professor Luiz Alberto Farias. Em 2024, aconteceu a 21ª edição do Encontro, que teve dois eventos: Sexo Com Compromisso, realizado pela turma do matutino, e Fluxos, por alunos do noturno. 

Sexo Com Compromisso aconteceu dia 21 de junho, no Auditório Lupe Cotrim, no Prédio Central da ECA. O evento teve como objetivo promover a educação sexual e falar sobre sexualidade por meio de uma roda de conversa com profissionais e pesquisadoras da área, além de oferecer testes gratuitos para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

 

Foto de três mulheres sentadas em uma mesa de madeira, com microfones e garrafas de água na frente delas. Da esquerda para a direita: uma mulher branca, de cabelos pretos, lisos e curtos, blusa preta e marrom, com grandes brincos pretos, falando ao microfone; uma mulher negra, de cabelos crespos e curtos, colar e brinco grandes e dourados e uma camiseta azul e laranja; uma mulher branca, de cabelos compridos, loiros e lisos e uma blusa preta. As duas últimas mulheres olham para a primeira. Atrás delas, uma projeção em um telão, em azul e vermelho, que diz “Vamos falar de sexo com compromisso?”.
As palestrantes do evento, da esquerda para direita: Gabriela Junqueira Calazans, especialista em Saúde Coletiva pela USP, Andreone Medrado, psicóloga especialista em questões de gênero e raciais, e Marcela McGowan, ginecologista, empresária e influenciadora digital. Foto: Divulgação/Sexo com Compromisso

 

Fluxus aconteceu alguns dias depois, em 29 de junho, na Casa de Cultura Butantã. O evento reuniu mostras, intervenções artísticas e um desfile performático de moda sustentável, a fim de dar visibilidade à cultura Ballroom e de celebrar corpos trans, pretos, originários e periféricos. A organização contou com o apoio de Padduan Lopes, estilista do Capão Redondo, bairro periférico da zona Sul da cidade de São Paulo, que desenhou os modelos apresentados, assim como Nahuel Vera, estilista fundador da marca Cobra Coral

 

Foto de um grupo de seis pessoas negras, todas de pé. Algumas olham para a câmera e outras não. Três delas estão de roupas pretas, com alguns detalhes em branco, que remetem à arte do grafite de rua. Uma das pessoas usa peças com as cores preto, verde e branco. As outras duas pessoas estão de vermelho.
Padduan (de roupa vermelha e óculos escuro, ao centro) e seus modelos, todos pessoas negras, após o desfile. Foto: Divulgação/Fluxus


O professor Luiz Alberto Farias explica que todos os Encontros de RP seguem uma dinâmica parecida. Primeiro, os estudantes apresentam temas para a turma, que escolhe qual será realizado por meio de uma votação. Em seguida, eles se dividem em comissões que ficam responsáveis por diferentes aspectos da idealização, organização, comunicação e execução do evento. Para o docente, “a prática profissional é um exercício importante para o estudante, podendo vivenciar momentos de pesquisa, fazer contato com palestrantes, com patrocinadores, realizar trabalhos de infraestrutura, de logística etc”.


Educomunicação fora da sala de aula

Entre os dias 23 a 27 de setembro, ocorreu a Semana Educom, reunindo estudantes do curso de Licenciatura em Educomunicação e profissionais da área para tratar do tema Ampliando os horizontes da educomunicação. Foi a sétima edição do evento e a primeira pós-pandemia. A semana foi recheada de palestras, apresentações artísticas, rodas de conversa e oficinas. Na segunda-feira, 18 de setembro, ocorreu a abertura oficial, que foi transmitida ao vivo pelo Youtube, com música ao vivo dos alunos Felipe Fortte e DJ Peralta. Depois, um histórico sobre a semana com ex-alunos que participaram das primeiras edições e uma roda de conversa sobre as experiências comunicativas em jornadas artísticas. Na terça-feira, houve uma oficina com jogos de tabuleiro e uma roda de conversa sobre a educomunicação socioambiental. 

O terceiro dia da semana contou com uma oficina de produção de zines — pequenas revistas independentes — e uma roda de conversa sobre a educomunicação e a juventude. Na quinta-feira, aconteceu uma oficina de desenhos feios: ilustrações que estimulam a criatividade e quebram a estética tradicional ao valorizarem rabiscos, linhas tortas e formas desproporcionais. No mesmo dia, ainda aconteceu o Cine Educom, com mostra e debate dos curtas Trajetos y afetos, de Vitória Guilhermina, Goma, de Vitor Romenior Braz, e SKA - Skate e Arte, de Guilherme Simon. Na sexta-feira, houve um bate-papo sobre grafite com o grupo Cheira Tinta e uma roda de conversa de encerramento sobre o mercado de trabalho na educomunicação.

Egressa de Educomunicação, Denise Teófilo viu a atividade nascer e a escolheu para ser o tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ela acredita que a Semana Educom gera muito conhecimento — não necessariamente sistematizado em artigos acadêmicos — e “impacta a tendência de abrir outros caminhos bibliográficos e epistemológicos [para o curso]”. Para a educomunicadora e palestrante da sétima edição, ver a semana acontecer novamente traz um sentimento de “primavera, de renascimento e de como a gente pode criar vínculos e conhecimentos a partir dessas trocas”.

A Semana Educom é organizada por estudantes, docentes e egressos da Licenciatura em Educomunicação, e conta com apoio do Laboratório de Inovação, Desenvolvimento e Pesquisa em Educomunicação (Labidecom) e da Comissão de Cultura e Extensão Universitária (CCEx).

 

Foto de três mulheres sentadas lado a lado. Da direita para a esquerda: uma mulher negra, de cabelos crespos e castanhos, olhos castanhos, segurando um microfone e vestindo uma camiseta branca estampada, blazer xadrez e óculos de armação preta; uma mulher branca, de cabelos lisos, castanhos e longos, vestindo uma regata preta e usando batom vermelho; uma mulher branca, de cabelos lisos, castanhos e longos, usando um óculos de armação marrom e vestindo uma camiseta estampada e preta. Todas estão sentadas em poltronas azuis. Ao fundo há uma parede branca, com uma projeção.
Roda de conversa sobre educomunicação socioambiental durante a Semana Educom 2024. Foto: Divulgação/ Semana Educom.

 

Por mais 20 anos de história

Também durante os dias 23 a 28 de setembro, aconteceu a Semana do Jornalismo, evento promovido pela Jornalismo Júnior, empresa júnior de jornalismo da ECA, em comemoração ao seu aniversário de 20 anos. Organizada pelos estudantes de Jornalismo que integram a empresa, a semana recebeu egressos do curso em palestras e oficinas que debateram as diversas áreas da profissão. 

No primeiro dia, um Encontro de Gerações reuniu mais de 100 pessoas, entre docentes do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), integrantes atuais e ex-membros da Jornalismo Júnior, que compartilharam suas experiências acadêmicas e profissionais. O nome mais esperado foi o de Leonardo Leomil, fundador da empresa em 2004 e, hoje, editor e roteirista da TV Globo.  Leonardo relembrou, com emoção e orgulho, as origens da sua ideia: “boa parte dos alunos frequentava as aulas e ia embora, faltava integração. Eu queria ter uma experiência prática e profissional aqui dentro, para além dos laboratórios”. Com uma equipe inicial de quatro pessoas, a Júnior prestava serviços de comunicação para outras unidades da USP. Hoje, ainda são feitos alguns serviços externos, mas o foco é a produção de notícias.

 

 Foto de um grupo de nove pessoas, entre homens e mulheres, em sua maioria brancas, todas sorrindo para a câmera.
Egressos ecanos reunidos na Semana do Jornalismo. Foto: Reprodução/ Instagram Semana do Jornalismo.

 

Os demais dias foram marcados por rodas de conversa temáticas, tanto na modalidade presencial quanto online. Elas tiveram como objetivo debater o futuro da profissão e aproximar os estudantes das opções do mercado de trabalho, com mesas sobre jornalismo cultural, esportivo e político, sendo a última em parceria com o portal de notícias Poder360. Áreas muito diferentes com um tema comum: a tecnologia

Como o jornalismo está em constante transformação a partir da chegada de novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), desde a internet até a inteligência artificial, o evento trouxe profissionais da área digital para conversarem com os futuros jornalistas. Para debater os “novos paradigmas do jornalismo”, foram convidadas Laila Mouallem, especialista em podcasts, Gabriella Sales, designer da informação, e Carolina Monteiro, presidente do conselho executivo da Associação de Jornalismo Digital (Ajor).

Também foram oferecidas duas oficinas para os participantes: a primeira foi sobre jornalismo de dados, ministrada por Bianca Muniz, analista da Agência Pública. Já a segunda, uma oficina de fotojornalismo, foi conduzida pelo fotojornalista e freelancer da Agência Reuters, Felipe Iruatã. 

Ao final da semana, em um evento intitulado Por mais 20 anos de história, foi lançado o primeiro episódio de um documentário produzido pelos estudantes sobre a  Jornalismo Júnior. Você pode assistir todas as atividades da Semana de Jornalismo pelo Youtube da empresa.

 

Inclusão social e ambiental 

A 16º Semana de Turismo, organizada por estudantes da graduação em Turismo, com orientação da docente Debora Cordeiro Braga, aconteceu entre os dias 14 e 18 de outubro de 2024 e teve como tema central o Turismo 4.0, explorando sua aplicação em eventos, destinos turísticos e ecoturismo. As atividades contaram com a presença de nomes do setor, como Omnibees, Noctua, Campus B, Chefes e Hoteleiros Sem Fronteiras, além de egressos do curso.

A programação incluiu, dentre outras palestras e oficinas, mesas de bate-papo com a Opá Negra e com a Camaleoa — coletivos de estudantes negros e LGBTQIA+ da ECA, respectivamente —, que abordaram questões raciais e a importância da diversidade e da inclusão no mercado turístico. O projeto de extensão de turismo social da ECA, Rosa dos Ventos, em parceria com a Noctua, conduziu uma oficina focada no desenvolvimento de projetos sociais.

 

Foto de uma mulher branca em pé falando ao microfone. Ela tem cabelos castanhos claros e usa uma camiseta azul com calça e blazer brancos. No fundo, uma projeção com o título “Panoramas e perspectivas da hotelaria no Brasil”.  À frente da mulher, uma mesa de madeira com um teclado, uma garrafa, um celular e flores.
A Noctua, empresa palestrante no evento, promoveu uma conversa sobre o futuro da hotelaria brasileira, com a necessidade de um mercado turístico que respeite o meio ambiente e as pessoas locais. Foto: Divulgação/ XVI Semana de Turismo.

 

Fundador da graduação em Turismo da USP em 1972, Mário Carlos Beni foi homenageado nesta edição do evento. O professor foi responsável por elaborar o plano da estrutura curricular e do projeto pedagógico do curso. Hoje, é membro do conselho nacional do Ministério do Turismo e da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

 

Conservando a cultura

A Semana de Biblioteconomia, entre os dias 21 a 25 de outubro, marcou a 17ª edição do evento organizado pelos estudantes da graduação, com apoio do Departamento de Informação e Cultura (CBD). Segundo a comissão organizadora, “nosso objetivo é conhecer pesquisadores e novas frentes da categoria, seja em pesquisa, carreira e projetos culturais”

Essa edição recebeu mais de 30 palestrantes, entre docentes, estudantes, pesquisadores e profissionais da ciência da informação. Eles participaram de rodas de conversa e apresentaram suas produções acadêmicas, técnicas e artísticas. Alguns dos temas debatidos foram a importância das bibliotecas escolares, a gestão de acervos e a preservação da cultura e da memória nacional como instrumento político. 

Assim como na Semana Educom, a Semana de Biblioteconomia também ofereceu uma oficina de zines. Foram produzidos e vendidos zines com a personagem Lydia, mascote dessa edição do evento, com atividades para colorir, jogos e enigmas para solucionar.

 

Ilustração de um morcego lilás com uma asa aberta e outra levemente dobrada. Ele olha para cima e está com a boca aberta, onde é possível ver suas quatro presas. O morcego tem uma argola dourada na orelha direita e dois piercings dourados, um em cada bochecha. O fundo é verde claro com algumas formas circulares em roxo e bege.
O nome da mascote da Semana de Biblioteconomia é uma homenagem à Lydia de Queiroz Sambaquy (1913 - 2006), que criou o Serviço de Intercâmbio de Catalogação em 1942 e fez parte da implantação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação em 1954. Imagem: Reprodução/Instagram Semana de Biblioteconomia.

 

Houve ainda atividades voltadas à prática profissional de biblioteconomia, como oficinas sobre diagnóstico, higienização e reparo de materiais, etapas da conservação e gestão de acervos físicos. O evento também promoveu visitas técnicas ao Instituto de Geociências (IGc), ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e ao Centro de Documentação Teatral (CDT)

A Semana de Biblioteconomia também promoveu uma Feira de Livros, que aconteceu todos os dias do evento no saguão de entrada do Prédio Central da ECA e contou com o apoio de editoras como Aleph, Companhia das Letras, Jandaíra e Edições Sesc. A Feira atraiu estudantes de diversos cursos da USP graças aos seus preços acessíveis e a possibilidade de troca, isto é, foi possível adquirir novos livros trocando por usados em bom estado de conservação.

 

Foto de vários livros coloridos empilhados e, em sua maioria, da Editora Sesc. No segundo plano, uma pessoa branca, cuja cabeça não aparece na imagem, está segurando alguns livros.
Os livros da feira de Biblioteconomia foram vendidos por preços fixos entre cinco e 40 reais. Foto: Virgínia Santos/LAC ECA USP.

 

 

 


Imagem de capa: montagem por Lorenzo Souza com fotos de Virginia Santos/LAC ECA USP; Divulgação/Fluxus; Divulgação/Sexo Com Compromisso; Divulgação/Semana Educom; Divulgação/Semana de Turismo; Reprodução/Instagram Semana de Jornalismo.