Não é a última ceia: curta-metragem conta a história da Escola de Arte Dramática

Documentário reúne estudantes do Audiovisual e da EAD para falar do passado e presente da Escola de Arte Dramática 

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No início de 2024, os ingressantes da turma 76 do Curso Técnico de Formação de Atores da Escola de Arte Dramática (EAD) da ECA viviam uma situação desafiadora: a crescente falta de professores, o que ameaçava — e ainda ameaça — a oferta de disciplinas e a própria existência do curso. Diante da ansiedade em relação à continuidade do curso e da necessidade de exercer pressão para a contratação de novos professores, os estudantes buscaram forças em uma tradição da EAD: a sopa que é preparada por e para os estudantes no aniversário da Escola. Segundo eles, “não seria a última ceia”. 

Com a intenção de contar a história da EAD a partir desse momento determinante para a Escola, os estudantes Gabriel Almeida e Gustavo Lacerda, do curso de Audiovisual do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) e Conrado Costa, do curso de Formação de Atores (EAD) produziram o documentário em curta-metragem Não é a Última Ceia. A obra também contou com o trabalho de dezenas de outros estudantes do CTR e da EAD. 

A estreia de Não é a Última Ceia aconteceu no dia 6 de maio, no auditório A do CTR, contando com a presença do elenco, equipe e convidados. Após a exibição do filme, Gabriel mediou um debate sobre a produção do filme e a história da Escola de Arte Dramática.

 

“Não se sai da EAD a mesma pessoa que entrou”

 

"São 77 anos de memórias, experiências e amizades. São centenas de talentos formados no decorrer de décadas de Escola."

Instagram do Não é a Última Ceia

 

Não é a Última Ceia é um documentário que percorre a história da Escola de Arte Dramática através de uma de suas tradições, a sopa que é servida por e para os estudantes em cada aniversário da Escola. A ideia partiu de Conrado, que viu na tradição da sopa um elemento capaz de conectar o passado e o presente da EAD, unindo várias gerações de estudantes. Conforme explicam Gustavo e Conrado, o filme tem duas facetas, nas quais o público acompanha, por um lado, a preparação da sopa para a festa de 76 anos da EAD e por outro, os arquivos históricos da Escola, além de depoimentos e entrevistas concedidos por egressos especialmente para o curta. Por essa característica, eles contam que o processo de montagem do documentário foi uma tarefa desafiadora, já que era preciso contar uma história coerente alternando esse conjunto de imagens.

Foto de homem branco de olhos escuros, cabelos e barba curtos e grisalhos falando e gesticulando com as mãos próximas à cabeça. Ele usa óculos e uma camisa branca com listras  azuis. Atrás dele, há estantes com livros.
Antônio Petrin explica em seu depoimento como a Escola de Arte Dramática o transformou como artista e como pessoa.  Foto: reprodução/Não é a Última Ceia.

Dentre os egressos famosos que deram depoimentos para o filme, o ator Antônio Petrin afirma que “você não sai da EAD a mesma pessoa que entrou” e destaca como ele mesmo mudou em sua passagem pela Escola, transformando-se em alguém mais interessado pela política e por questões sociais. Para ele, a sopa da EAD “é um alimento para o corpo, para a mente e para o espírito”. Maeve Jinkings, atriz e egressa da EAD, fala da importância da Escola para a formação de atores e atrizes que fizeram história no teatro nacional, como o próprio Antônio Petrin, Aracy Balabanian, Caco Ciocler, Lilia Cabral, Marisa Orth, entre vários outros. 

Diferente do último curta de Gabriel, A Entrevista, que venceu um edital que concedia verba para a produção dos filmes, Não é a Última Ceia é, como o diretor explica, um projeto totalmente extracurricular e sem verba. Ou seja, os estudantes tiveram que correr atrás de tudo, dos materiais, equipamentos e pessoas.

O documentário encerra com imagens de uma performance “surpresa” dos estudantes da turma 76, alternadas com fotos de momentos históricos da Escola, fazendo uma síntese entre passado e presente da EAD e assinalando assim a esperança de que a Escola continue viva.

 

"Para pensar o filme, foi preciso dar um mergulho nas tradições da EAD, a história do professor Alfredo Mesquita, da importância da sopa e dos problemas que a escola passou ao longo dos anos. Como foi o passado da EAD e qual é a perspectiva para o futuro dela."

Gabriel Almeida, diretor de Não é a Última Ceia 

 

De contar uma história a fazer parte da história

Do debate que ocorreu após a exibição do filme, participaram Conrado Costa, um dos diretores do filme,  Gustavo Lacerda, diretor de fotografia e montador, Paloma Ângelo, atriz e estudante da turma 76, e Antônio Rogério Toscano, diretor e docente da EAD. Mediados por Gabriel, também diretor do curta, os participantes discutiram sobre as suas experiências na gravação de um filme sobre a EAD, sobre o papel e a importância da Escola e, claro, sobre as perspectivas para o futuro do curso, uma vez que o problema que inspira a obra persiste. 

Foto de três homens falando em um auditório. Na esquerda, um homem branco de cabelos e olhos claros vestindo blusa preta e calça clara, no meio, um homem branco de camisa branca com bordados coloridos e calça azul, na direita, homem negro de camisa verde e calça azul. Eles estão sentados em cadeiras com estofados vermelhos ou azuis, o piso tem carpete cinza e atrás deles há um pequeno palco e uma tela de projeção.
No debate, os participantes falaram sobre sobre o processo de produção do filme e responderam perguntas da plateia. Foto: Weslley Andrade/LAC-ECA

Um ponto levantado pelos participantes do debate foi a importância do filme para a história da EAD. Afinal, o filme não apenas reúne uma boa quantidade de arquivos, depoimentos e entrevistas, mas também fica ele mesmo como um registro histórico da “sopa da EAD”. O filme, diz Gabriel, “passou de uma obra que conta a história para uma obra que faz parte da história da EAD”. Gabriel, Gustavo e Antônio também comentam a importância dos funcionários técnicos da Escola e do projeto Ágora ECA — desenvolvido por egressos da ECA — para a realização do filme, que auxiliaram desde o levantamento de arquivos até o contato com egressos conhecidos.

No debate, o diretor da EAD destacou a importância da Escola para o teatro paulista e brasileiro, citando desde artistas conhecidos atualmente até a primeira turma da Escola, responsável pela criação do Teatro de Arena. Para o docente, o trabalho do ator é essencialmente social e o trabalho da Escola como formadora de atores deve se preocupar em trazer as questões atuais da sociedade para o teatro:

 

"[...] Fazer para que essa formação esteja em diálogo com este tempo, com essas sensibilidades, para realizarmos aquilo que é próprio do teatro, que é a capacidade de intervir no mundo como uma ação na dimensão poética e política."

Antônio Rogério Toscano, diretor da EAD
 

 

Gustavo conta que o que o surpreendeu durante a produção do filme foi a permanência da tradição, algo que “não parece ser comum” para as pessoas de sua geração. Ainda sobre a tradição da sopa, Paloma, que foi afetada pela falta de professores em 2024, diz que a sopa “foi uma pausa para enxergar melhor os caminhos que tínhamos a seguir, começar de novo para que não fosse a última ceia”. Para ela, o tempo que a turma passou sem ter aulas na Escola foi um “período tenso” que exigiu uma mobilização, mas também um “tempo de entrega e respiro”, no qual os estudantes pudessem confraternizar.

Perguntado se haveria uma próxima ceia, o diretor da EAD diz que embora a Escola ainda esteja passando por um momento difícil, o diálogo com a direção tem se tornado mais fácil. Por fim, Antônio afirma que a Escola “está trocando de pele” e que por ora “precisa da sopa para sobreviver": 

 

"O caminho ainda é de luta pela sobrevivência, as coisas não estão resolvidas. [...] Independente de qual seja o futuro da EAD, ver a sopa da 77 deste ano acontecer de forma harmônica e generosa como foi, dá fôlego para que a gente siga nessa tentativa de reunir gente, de realizar encontros e promover projetos de pesquisa."

Antônio Rogério Toscano, diretor da EAD

 

Foto de pouco mais de 30 pessoas em plateia de auditório com cadeiras de madeira e estofado azul e carpete cinza. Na frente, há pessoas sentadas e algumas pessoas, em fileiras mais distantes, estão de pé. No fundo há paredes pretas e uma porta de madeira.
Para os participantes de Não é a Última Ceia, o filme não é apenas um registro da história da EAD, mas também é parte dessa história.  Foto: Weslley Andrade/LAC-ECA.
 

Ficha técnica

Roteiro e Direção: Conrado Costa e Gabriel Almeida

Direção de Fotografia e Montagem: Gustavo Lacerda

Assistência de Montagem: Ana Alcântara

Produção: Gabriel Almeida

Assistência de Produção: Davi Medeiros

Edição de Som e Mixagem: Aline Lungov

Colorista: Sthefanni Valleri

Design Gráfico: Vitória Ceccon

Social Media: Sophia Santana

Still: Nathan Garcez

Videomaker: Sthefanni Valleri

Mentoria: Cecília Mello

Apoio Técnico: Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR)

Apoio Institucional: Escola de Arte Dramática e Ágora ECA

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Foto de capa:  divulgação/Não é a Última Ceia.