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Combustíveis fósseis não devem ser a base da economia, afirma docente

Pesquisa mostra como a desinformação climática atua para retardar a transição energética

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No dia 19 de maio, o Auditório Paulo Emílio da ECA recebeu o evento Descubra como a desinformação afeta a transição energética na América Latina e no Caribe, uma parceria do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) com a Climate Tracker, organização internacional sem fins lucrativos que promove o jornalismo sobre mudanças climáticas na América Latina e no Caribe. As principais iniciativas da Climate Tracker são a capacitação de jornalistas, o financiamento de reportagens e a realização de pesquisas sobre a cobertura desse tema na mídia local. 

Nesse evento, foi apresentada a pesquisa Gaslighting: a desinformação sobre a transição energética na América Latina e no Caribe, que analisou a cobertura ambiental de veículos de comunicação da região. Também aconteceu o painel de debate Como a desinformação climática afeta a transição energética no Brasil e quais são os principais desafios?. Ao final do evento, foi lançado ainda um guia para jornalistas e comunicadores com ferramentas para a identificação de notícias falsas e para seu combate. 

A discussão teve a presença de Thaís Brianezi, docente do CCA, e do professor José Roberto Cardoso, assessor da reitoria da USP. Também participaram do evento Marcela Martins, coordenadora de programas da Climate Tracker, Meghie Rodrigues, jornalista e pesquisadora, e Gabriela Feitosa, coordenadora de projetos da More in Common Brasil.

Cartaz nas cores verde e laranja claros com o título Descubra como a desinformação afeta a transição energética na América Latina e no Caribe e a informação Apresentação de pesquisa inédita, com local e data: São Paulo, Brasil, segunda-feira, 19 de maio de 2025, às 19h30 (horário de Brasília). Abaixo, fotos de quatro mulheres e de um homem. No canto inferior esquerdo, uma estrela laranja informa: Acesso livre, mediante inscrição prévia e um link. Na parte inferior estão os logotipos dos organizadores: LABIDECOM, ECA, USP e Climate Tracker.
Foto: Divulgação/Climate Tracker.

 

Do negacionismo à sofisticação: a nova desinformação

Maximiliano Manzoni, jornalista climático que coordenou a pesquisa, explica que o objetivo do estudo foi identificar os discursos, as tendências e os responsáveis pela desinformação em relação à transição energética na América Latina. Para isso, foram analisadas 1.487 notícias de 32 veículos de comunicação em oito países da região — Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Guiana e Suriname — entre junho de 2023 e maio de 2024.  

De acordo com o jornalista, uma em cada cinco notícias analisadas continha pelo menos uma desinformação sobre a transição energética. “Também identificamos que a grande maioria dessas narrativas de desinformação não são negacionistas, mas promovem uma desinformação mais ‘sofisticada’ ”. Essa nova forma de desinformação, segundo Maximiliano, é mais sofisticada já que não nega as mudanças climáticas, mas traz dados enganosos e discursos que buscam retardar a implementação de políticas públicas necessárias para abandonar os combustíveis fósseis. 

Maximiliano também explica o uso do termo gaslighting nesse contexto: na psicologia, esse conceito se refere à manipulação sistemática que visa fazer com que alguém duvide da realidade percebida. “Além do jogo de palavras, o conceito de gaslighting é útil para entender como uma forma sutil, mas poderosa, de desinformação climática persiste: discursos que reconhecem a necessidade de mudança, mas a adiam indefinidamente ou promovem soluções ilusórias”

Uma das principais estratégias de desinformação encontrada na pesquisa foi a defesa de que a exploração de petróleo é necessária para financiar a transição energética para recursos limpos e renováveis, o que, para Maximiliano, corresponde a uma ação midiática para proteger os interesses da indústria de combustíveis fósseis. Um exemplo é a recente polêmica em torno da possível exploração de petróleo da foz do rio Amazonas: enquanto especialistas ambientais alertam para os riscos dessa atividade, a Petrobras promete direcionar os futuros lucros dessa exploração para a transição energética. 

 

“Esta pesquisa é inédita, permitindo-nos começar a entender como a desinformação climática opera na América Latina e no Caribe. Também nos permite identificar como a desinformação ‘evoluiu’ do negacionismo clássico por meio de esforços coordenados ”. 

Maximiliano Manzoni, jornalista e coordenador da pesquisa

 

Transição energética ameaçada pela desinformação

Foto de uma mulher branca sorrindo. Ela tem cabelos lisos e castanhos, que estão presos, veste blusa preta de mangas curtas, usa colar com miçangas amarelas, vermelhas e azuis e óculos de armação redonda e transparente. Ao fundo, à esquerda da foto,  há uma parede de tijolos e, à direita, uma parede  com escritos em tinta azul.
Foto:  Reprodução/ Lattes.

Thaís Brianezi, docente do curso de Educomunicação e doutora em Ciência Ambiental pela USP,  conta que o setor de geração de energia é o que mais emite gases do efeito estufa no mundo, principalmente por meio da utilização de combustíveis fósseis. Por isso, segundo a professora, é fundamental que o Brasil amplie ainda mais a geração de energia por meio de fontes renováveis. Essa transição energética, entretanto, deve ser realizada de uma forma justa: “não podemos colocar em risco os direitos e a sobrevivência de comunidades locais”.

Para a concretização dessa transição energética justa, Thaís explica que o debate público baseado em evidências científicas e em ética democrática é essencial. A desinformação, por sua vez, compromete diretamente a ética e as evidências desse debate, o que caracteriza uma “ameaça” à transição. Segundo a professora, os educomunicadores têm um importante papel nesse cenário: “por meio de práticas de leitura críticas das mídias e da produção coletiva de produtos de comunicação, é possível fortalecer a comunicação pública das ciências e o fazer democrático”

 

“O Brasil não pode atrelar seu desenvolvimento econômico à exploração de petróleo, como a intenção de explorar a foz do rio Amazonas.”

Thaís Brianezi, docente do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) 

 

A pesquisa Gaslighting: a desinformação sobre a transição energética na América Latina e no Caribe já foi lançada em três países desde o início de maio: Equador, Colômbia e Argentina. Para Thaís Brianezi, ter o lançamento no Brasil acontecendo na ECA “fortalece as atividades de ensino, pesquisa e extensão do CCA ligadas à educomunicação socioambiental”

 

 

Atualizado em 21 de maio de 2025.

 

 


Imagem de capa: Unsplash.