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O afrofuturismo nas artes cênicas brasileiras

Iniciação científica sobre elementos afrofuturistas em peças nacionais foi uma das pesquisas apresentadas no evento Olhares Insurgentes, organizado pelo Departamento de Artes Cênicas
 

Vida acadêmica

Desde seu surgimento, em 1994, pelas mãos do autor estadunidense Mark Dery em seu ensaio Black to the Future, o afrofuturismo passou por diferentes transformações e se expandiu, abrangendo muito mais do que a cultura negra norte-americana. 

Dery colocou em debate a construção de um futuro no qual a população negra fosse protagonista e possibilitou que, hoje, o afrofuturismo converse com diferentes realidades e permita variados entendimentos sobre a relação entre futuro e povos negros.

Quais seriam as possibilidades de um afrofuturismo brasileiro? Essa é uma das inquietações da estudante Nairim Liz Bernardo Marques, que baseou-se na ideia do movimento afrofuturista como algo plural e aplicável em diferentes meios artísticos e no conceito dos trajes como representações culturais para analisar os elementos afrofuturistas presentes em três espetáculos.

Na pesquisa de iniciação científica Trajes de Cena Afrofuturistas nas Artes Cênicas Brasileiras Contemporâneas, orientada pelo professor Fausto Viana, do Departamento de Artes Cênicas (CAC), Nairim defende o afrofuturismo como “uma maneira de subverter, reivindicar e conceber futuros” para a população negra, considerando o passado e o atual momento nacional, “em que perspectivas futuras continuam sendo subtraídas das vidas negras de diversas formas”.

 

Fotografia colorida de três atrizes negras olhando para algo fora do palco. As três utilizam roupas em cores rosa e preto metálicos e óculos personalizados com CDs. Atrás delas, caída sobre o palco, está uma quarta atriz, de cabelos grisalhos e vestida com roupas brancas.
Cena do espetáculo Pretoperitamar. Foto: Divulgação 

 

Para definir quais peças seriam analisadas, Nairim utilizou um método criado pelo pesquisador Waldson Souza, da Universidade de Brasília (UnB), em seu mestrado sobre afrofuturismo na literatura brasileira. A ideia foi baseada no teste de Bechdel (desenvolvido pela cartunista Alison Bechdel para analisar a representação de mulheres no cinema) e propõe que se responda a perguntas como “a obra é de autoria negra e possui elementos especulativos (ficção científica, fantasia, horror, mitologias africanas)?” e “a obra possui protagonistas negras?”

Foi assim que ela chegou às três peças finais: Oxum e Pele Negra, Máscaras Brancas, ambas com direção de Fernanda Júlia Onisajé e figurino de Thiago Romero com assistência de Tina Mello; e Pretoperitamar — O Caminho que Vai Dar Aqui, com direção de Grace Passô e figurino de Gustavo Silvestre.

Roupas metalizadas e óculos chamativos e personalizados são alguns dos elementos que se repetem nos figurinos e que marcam o afrofuturismo. Segundo a pesquisa, o uso dos óculos é uma das maneiras que o movimento utiliza para representar um filtro capaz de dar novas perspectivas para o mundo.

 

Fotografia colorida mostra um ator negro no centro do palco, cantando e usando roupa preta com detalhes em tecido branco estampado, que lembra tecidos típicos africanos. À sua direita e esquerda atores vestidos com macacões multicoloridos, brancos e pretos dançam.
Cena do espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas. Foto: Diney Araújo.  

 

Em Pele Negra, Máscaras Brancas, por exemplo, Nairim cita o trabalho manual com crochê como modo de resgate da ancestralidade, além de um jogo entre tecidos brancos e pretos que reflete o percurso político dos personagens. “Quanto mais alienados quanto a sua condição racial e social os personagens estão, mais brancos são os figurinos deles. Quanto mais a pessoa vai adquirindo consciência racial, o figurino vai ganhando elementos de cor preta”, explica a aluna.

Nairim afirma que sua pesquisa busca entender melhor a estética cultural do afrofuturismo em um cenário nacional, além de propor a criação de um figurino e uma performance, que ainda estão em desenvolvimento. 

 

Olhares Insurgentes
 

Entre os meses de outubro e novembro, o Departamento de Artes Cênicas (CAC) organizou o evento virtual Olhares Insurgentes – Iniciação Científica e Pesquisa em Artes com o intuito de reunir investigações realizadas por estudantes de graduação.

Os encontros ocorreram ao longo de quatro dias e colocaram em perspectiva questões como Cuiridades (sinônimo de Queerness, uma forma de identidade de gênero não binária), Práticas Feministas, Afrofuturismos e Arte Pandêmica. Cada reunião contou com a apresentação de duas pesquisas de iniciação científica realizadas pelo corpo discente do departamento.

Olhares Insurgentes foi organizado por Alessandra Montagner, Antonio Araújo e Verônica Veloso, docentes do CAC. A Comissão Executiva foi composta por Keila Maschio, Mireille Antunes e Pedro Bueno. 

Para conhecer as pesquisas sobre Artes que estão sendo desenvolvidas você pode assistir os encontros pelo canal do YouTube da ECA.

 

Imagem de capa: Espetáculo Oxum. Fonte: Divulgação