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130 anos de Graciliano Ramos: um modernista "antimodernista"

Professor da ECA, Thiago Mio Salla é um dos organizadores de obra que expõe as críticas do escritor alagoano ao movimento modernista

Comunidade
Foto da capa do livro O Antimodernista: Graciliano Ramos e 1922. A capa é uma foto em preto e branco de Graciliano caminhando na direção de quem lê a capa. Ele está de terno claro e gravata escura, aparentemente segura um cigarro entre os dedos. Ao fundo há um cachorro deitado no chão. O Título do livro está destacado na parte superior esquerda, com créditos de organização mais abaixo.
Capa do livro O Antimodernista. Imagem: Reprodução
Na contramão de manifestações que ao longo deste ano celebraram o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o livro O Antimodernista: Graciliano Ramos e 1922 destaca a postura crítica do escritor alagoano em relação ao evento e ao movimento modernista.  
Com organização de Thiago Mio Salla, docente do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), e da pesquisadora Ieda Lebensztayn, o livro recupera cartas, crônicas e entrevistas de Graciliano Ramos à imprensa, tendo sido produzido em estreita relação com outros escritores e com os herdeiros de Graciliano Ramos. 

 

Uma obra dissonante 
 
O centenário da Semana de Arte Moderna, em 2022, ocasionou a publicação de diversos materiais inéditos que ajudam a refletir sobre a importância  do Movimento Modernista.  O Antimodernista entra nesse grupo de publicações: ao mesmo tempo que amplia a dimensão do legado de Graciliano Ramos, o livro apresenta uma perspectiva crítica sobre o movimento de 1922 e o papel dos modernistas.
O professor Thiago conta que o projeto de organizar o livro foi proposto para o editor responsável pela obra de Graciliano Ramos, que abraçou com entusiasmo a ideia.
 
 

“Nossa proposta foi ir na contracorrente e mostrar que os agentes culturais literários históricos vinculados ao evento, não foram unanimidades (...). Havia uma voz crítica a esses autores.” 

 

Thiago Mio Salla, professor do Departamento de Jornalismo e Editoração 

 

Foto de Thiago Mio Salla lendo o livro O Antimodernista. A foto é tirada do lado esquerdo, mas é possível ver os dois olhos do professor. Um homem branco de barba e cabelos curtos castanhos ondulados. Do lado direito há uma fileira de livros posicionados sobre a mesa, uma parede azul com alguns desenhos colados e uma janela com grade ao fundo
Thiago Mio Salla, docente do CJE e um dos organizadores. Foto: Everton da Cruz

Como bem apresenta a sinopse do livro, a obra traz um Graciliano desconfiado e vigilante, que discute o papel do movimento modernista e as escolhas feitas pelos intelectuais daquela época. Para o docente, o fato de Graciliano Ramos ter críticas ao modernismo não o torna um escritor reacionário, mas sim “um moderno por excelência, alguém a quem um moderno não engana, alguém que em vez de entrar nessa corrente triunfalista do moderno  procura (...) representá-lo criticamente”.  

 
 
Um escritor modernista antimoderno

 

A linguagem modernista é um dos alvos da crítica de Graciliano Ramos. Considerada artificiosa, a escrita dos autores modernistas se ligaria excessivamente à forma, afastando-se da oralidade popular. "Os modernistas, ao invés de se debruçarem criticamente sobre a estrutura desigual do país, sobre as misérias do país, se debruçaram sobre a linguagem", explica o professor Thiago. "Eles foram lá e mudaram a colocação pronominal ou a colocação das vírgulas.” 
 

O Antimodernista na ABL

Para celebrar os 130 anos de Graciliano Ramos, completados no dia 27 de outubro, o professor Thiago Mio Salla participou do 7º Ciclo de Conferências "Vozes do Nordeste", organizado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Acesse o link e assista à palestra O antimoderno Graciliano Ramos e o modernismo de 1922 visto a contrapelo.

Outro aspecto problemático do movimento modernista, segundo Graciliano Ramos, é o fato de tentar reler o passado e se colocar numa condição de prevalência, rejeitando tudo o que veio antes sem fazer um questionamento adequado e atento à perspectiva histórica. Ao seguir em direção ao progresso, o modernismo também deixa de lado temas importantes, como as desigualdades sociais do país. Sobre isso, o professor do CJE explica que a própria obra de Graciliano Ramos também sintetiza sua posição crítica: enquanto o modernismo retrata, com frequência, temas relacionados à vida da classe média paulista, o escritor, por sua vez, aborda temas atuais do Brasil a partir de um olhar distinto. “A  proposta dele é colocar em primeiro plano essas mazelas do interior do país, mostrar o quanto que elas são decorrentes de uma estrutura social desigual que ainda é um elemento fundante para se pensar o Brasil de hoje.”

 

Para outras informações sobre o livro e como adquiri-lo, acesse a página da Editora Record.

Foto de chamada: Reprodução Jornal do Campus