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Comunidade ecana perde Pedro Guilherme Costa, aluno de jornalismo

"Com um sotaque singular, – carioca da gema, como costumava se autodeclarar –, o chiado fluminense nas palavras, agora, se transformou em silêncio"; leia a íntegra da homenagem

Comunidade
Foto de um rapaz sorrindo em uma paisagem do Rio de Janeiro. Ele é branco, tem cabelos lisos escuros, usa barba e óculos. O jovem veste uma camisa verde e uma jaqueta jeans.
Impossível não lembrar do Pedro (Dani, para os amigos) sem o Rio. Imagem: Reprodução/Redes sociais.

Escrever não é uma tarefa fácil. Há quem acha que o trabalho de um jornalista é basicamente informar algo. Não é. Pedro Guilherme Costa, estudante de jornalismo da ECA e mais conhecido entre seus colegas como Dani, nos mostrou isso. Consciente do que a nossa profissão representa na sociedade, ele apontou que não basta produzir jornalismo, é preciso também vivê-lo, sobretudo de forma humana e responsável.

Hoje, a vida do nosso querido amigo nos penetra como palavras-cicatrizes. Na manhã do domingo, 15, Dani faleceu no estado do Rio de Janeiro, em virtude de um acidente automobilístico. Com um sotaque singular, – carioca da gema, como costumava se autodeclarar –, o chiado fluminense nas palavras, agora, se transformou em silêncio. 

Mas não é assim que gostaríamos que fosse lembrado. Dani era uma pessoa nem um pouco silenciosa. Cercados de amigos por todos os lados, ele nos dizia com orgulho trechos de uma canção de Emicida, cantor paulistano. “Sabe, cara, quem tem um amigo tem tudo!”. É assim que a sua existência ficou marcada. Um dos seus amigos te define como o maior símbolo de “carioquês” da ECA.

 

Eram comuns as piadas que funcionavam como pílulas de alegria na cidade cinzenta. O jornalismo perde com o espírito coletivo e tão humano presente nas pautas de alguém que fez da vida uma reportagem de 21 anos. Em meio aos cansaços da rotina jornalística, parávamos no ponto de ônibus, ou nas refeições dos bandejões e vinha você com um belo sorriso que mudava tudo, com uma presença leve, única, insubstituível.

 

Selfie de quatro jovens sorrindo. São três rapazes e uma moça. Todos vestem blusas de frio e se abraçam.
A partir da direita, Cadu, Theo, Dani e Luana. Você fará falta nessa família, amigo. Imagem: Cadu Everton/Arquivo pessoal

 

Amigo, sentiremos tanta falta das suas pílulas de alegria. Adoeceremos com a sua ausência. Já estamos sentindo os efeitos dela. Nos três anos em que esteve nos corredores do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA, Dani atuou em diversas atividades. Escreveu nos jornais laboratórios – Central Periférica, Agência Universitária de Notícias, Jornal do Campus e Claro. Foi repórter nas editorias de cinema e esportes da empresa júnior de jornalismo da USP, a Jornalismo Junior. Em seguida, foi diretor comercial da empresa. Neste ano, completaria a graduação.

Foto de três jovens tirada em frente ao espelho. O rapaz da esquerda está com as mãos nos bolsos e levanta uma das pernas. Ao centro, uma menina segura o celular para a foto. À direita, Pedro faz um sinal de positivo com uma das mãos.
A partir da direita, Theo, Lua e Dani. Ele adorava os rolês com Lua, sua amiga da FEA. Foto: Maria Lua/arquivo pessoal

Cadu Everton, seu colega de turma, sente o peso de comunicar algo incompleto ao passo que também não se reconhece sem você, amigo. “Não seremos nós sem você”, diz em uma foto publicada em sua conta no Instagram. Na foto aparecem Cadu, Dani e Theo. Três vidas vindas de brasis diferentes, mas que se tornariam uma só. A união entre um maranhense, um carioca e um alagoano os fizeram ser apelidados de três mosqueteiros por Danilo Queiroz – eu, que escrevo esta despedida –, um pernambucano perdido em São Paulo aterrissando meses depois na semana de recepção, momento tão desejado pelos recém-ingressantes. 

Dani também não pôde aproveitar tão bem sua estadia na cidade mais populosa do Brasil. Ingressante em 2020, ano em que a pandemia de covid explodiu no País, precisou voltar ao Rio e vivenciar de lá as aulas de jornalismo em formato EAD.

Rodrigo Ratier, professor recém-chegado ao CJE e responsável pela disciplina Projetos em Jornalismo Digital no último semestre, lembra de você, meu amigo, de forma muito cuidadosa.  Ao ler o relato do docente mergulhei num mar de tristeza. Foi o que mais me doeu. Lembrei do mar de alegria que você nos levava. Ele me contou de uma situação vivenciada por você e por Luana Machado, sua tão querida amiga não só nas salas de aula, mas também quase que sua irmã no decurso da vida.

Essa breve mensagem do professor representou o que já disse aqui: não há como te imaginar sem estar junto aos que te amavam, e, permanecem te amando. Ratier conta que as últimas palavras que vocês trocaram lhe relembrou que um professor é também sempre um aluno. “Amarrada por uma cordialidade, a última frase que trocamos, tão necessária ao jornalismo e à vida nos dias de hoje: ‘Muito obrigado pela possibilidade de diálogo!’ “.

É nesse movimento, também pertencente ao jornalismo, que não iremos nos esquecer de você, Dani. Sua reportagem de 21 anos não foi para nós uma editoria de hard news, marcada por notícias divulgadas apenas quando os fatos estão “quentes” e, quando esfria, é esquecida. Dia a dia iremos lembrar de você e da falta que já nos habita. Amigo, como iremos retornar às aulas sem a sua presença? Não saberemos lidar. Não saberemos lidar em ter o Labri, um dos espaços do CJE, sem a sua alegre presença. Foi por conta desse mesmo sentimento que tive o privilégio de te conhecer. Acabei ganhando também a amizade daqueles que também se tornaram meus amigos.

Foto de diversos jovens sorrindo para a câmera. Os estudantes se juntam para posar em uma foto na sala de apoio do estúdio do CJE. Pedro está agachado no centro do grupo. Ele veste uma blusa de manga longa roxa e uma calça cinza.
No grupo, Dani aparece no meio da turma. Foto: Mônica Nunes, professora do CJE

 

Você sempre me ensinou tanto sobre aquela que não é apenas uma profissão, mas uma forma de estabelecer humanidade. Era por meio do diálogo que você fazia o seu instrumento de ensino. Falava, ria, mas também nos ouvia. Sua vida estava unida ao jornalismo.

 

Não sei como encerrar essa despedida, afinal, você sempre fará parte de nós. Peço licença para a querida Elza Soares em “Mulher do Fim do Mundo”, na qual afirma cantar até o fim da vida, mas preciso cumprir a missão, que nós comunicadores, devemos desempenhar no Planeta. Elza, o Dani, permanece comunicando até o fim. 

Sei que estás espalhando alegria por onde estiveres, meu amigo. Aqui nos restam palavras-cicatrizes. Elas também nos lembrarão sempre de você e da marca que você deixou à comunidade ecana e para toda a USP. Hoje, você também nos ensina que nem sempre comunicar é expor o que sente, seja em forma de palavras, sons ou imagens. Agora, nos faltam palavras. No entanto, você segue em diálogo com as nossas vidas, meu querido e tão marcante Dani. Comunicar é também uma forma de reviver.

 


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