CJE | Departamento de Jornalismo e Editoração



Jornal da USP apresenta reflexões de docente e doutorandos da ECA sobre os retratos da covid-19 na mídia

Texto é dedicado ao jornalista Marcello Bittencourt, da Rádio USP, que morreu em abril vítima da doença


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Foto em preto e branco de um braço estendido em frente a uma parede. Ao lado, tem-se uma sombra, também de um braço estendido, nessa mesma parede. Cria-se então uma ilusão de ótica como se a mão e a sombra se tocassem.
Foto: Ilenia Tesoro/LNNY Blog

Desde o início da quarentena, o grupo de pesquisa Epistemologia do Diálogo Social, coordenado pela professora Cremilda Medina, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), vem fazendo encontros virtuais e reunindo reflexões sobre as narrativas midiáticas a respeito da pandemia. Esse processo deu origem a uma espécie de caderno coletivo de notas, que acaba de ser publicado no Jornal da USP. O texto traz uma série de inquietações sobre o exercício do jornalismo e da comunicação em meio à crise atual, além de procurar entender como os profissionais da área enxergam o momento.

Escritas em primeira pessoa, as observações são de autoria de Medina e dos doutorandos Gean Gonçalves e Carolina Klautau, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM). A primeira parte apresenta comentários da professora do CJE sobre a tendência hegemônica na cobertura jornalística de retratar a pandemia e suas consequências econômicas e sociais de maneira simplificadora. Ao apontar exceções, a docente chama atenção para a incerteza inerente ao trabalho científico, tão requisitado neste momento:

 

“ao apresentar informações inconclusivas, a ciência atualizada expõe para aqueles que insistem no desejo do conhecimento definitivo e do conforto das certezas, uma dose gradual e muito educativa da natureza complexa dos fatos que nos cercam."

 

No segundo momento do texto, Gean Gonçalves coloca questões sobre a revalorização (ou não) do contato presencial e o “vício da estatística – dos gráficos que informam números em crescimento exponencial e números que não comunicam vidas perdidas. O pesquisador reflete ainda sobre a diferença na condução da crise entre líderes mulheres e homens, com base em dados apresentados pela imprensa.

Carolina Klautau complementa as notas de Medina e Gonçalves trazendo mais inquietações sobre o papel da incerteza na nossa relação com a realidade factual. Citando o antropólogo e filosófo Edgar Morin, a pesquisadora afirma que hoje estamos mais uma vez diante de um momento em que “saber lidar com as incertezas é mais do que uma habilidade, mas uma questão de sobrevivência.” Klautau também aponta o problema dos números que desumanizam as vítimas da pandemia, e defende o contraponto representado pela reportagem baseada no contato presencial.

Na terceira e última parte do texto, Medina comenta tendências identificadas em uma pesquisa on-line realizada pelo portal Jornalistas & Companhia, que colheu depoimentos de 129 profissionais da área. Dentre as impressões que mais chamaram atenção da docente, estão o resgate do jornalismo bem fundamentado e do jornalismo como serviço de interesse público; e a preocupação com o desemprego, o futuro das redações e as condições de trabalho (segundo um dos testemunhos, 64 jornalistas morreram até o dia 15 de maio).

Medina também destaca um movimento que vem ganhando força no atual contexto: o aumento da busca por fontes antes excluídas ou raramente abordadas nas mídias tradicionais. Segundo a professora, “indica-se aí um rumo social da cobertura jornalística já debatido na teoria, mas [que estava] longe da pauta cotidiana.”

Apontamentos do espanto na crise da covid-19 é dedicado ao jornalista Marcello Bittencourt, da Rádio USP, que morreu em abril vítima da doença. Leia na íntegra o texto publicado pelo Jornal da USP. 

 


Imagem de capa: Reprodução/Jornal da USP