Gaudêncio Torquato recebe título de professor emérito da ECA
Reconhecimento destaca legado acadêmico do docente, pioneiro nos estudos sobre comunicação nas organizações

A Congregação da ECA concedeu, no dia 7 de maio, o título de professor emérito ao jornalista, pesquisador e professor Francisco Gaudêncio Torquato do Rego. Ele é o 22º docente da ECA a receber essa distinção, dedicada a professores que marcaram a trajetória da Escola e contribuíram para o desenvolvimento da sociedade.
A cerimônia foi realizada no Auditório Freitas Nobre, no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) e reuniu docentes, ex-alunos e amigos. O evento contou com a presença da diretora da ECA, Maria Clotilde Perez Rodrigues, do vice-diretor Mário Rodrigues Videira Junior, do chefe do CJE, Wagner Souza e Silva, e de três convidados que acompanharam de perto a trajetória do homenageado: Renato Gasparetto, vice-presidente de relações institucionais e de sustentabilidade da Vivo; o professor aposentado do CJE, José Coelho Sobrinho; e a professora emérita Margarida Maria Krohling Kunsch.
Professor da ECA entre 1969 e 1998, Gaudêncio Torquato teve, durante o período da ditadura militar, papel pioneiro na construção de uma linha de pesquisa sobre comunicação nas organizações, ao lado de docentes como Cândido Teobaldo de Souza Andrade e José Marques de Melo — esse último responsável por seu ingresso na docência. Em 1972, defendeu na ECA a primeira tese de doutorado no Brasil sobre comunicação empresarial.
A professora Margarida Kunsch lembrou esse percurso com admiração. Segundo ela, a produção intelectual de Torquato foi decisiva para estruturar o campo da comunicação nas organizações. “Uma das características marcantes de Gaudêncio Torquato é sua excepcional capacidade intelectual de acompanhar os acontecimentos do mundo político, econômico e social e aplicá-los em seus estudos e práticas profissionais nos campos da comunicação política e da comunicação nas organizações.”
Ela destacou, em especial, os livros Jornalismo Empresarial (1984), um dos primeiros a sistematizar o jornalismo empresarial no Brasil, e Comunicação Empresarial / Comunicação Institucional (1986), obra que lançou as bases do pensamento sobre comunicação organizacional no país. “Além de meu mestre, é também meu amigo. Nossa convivência na ECA e na Intercom, desde os anos 1980, sempre foi prazerosa e afetiva”, disse.
Coelho Sobrinho emocionou o público ao relembrar um episódio vivido em 1976, apenas poucos meses após a morte do professor Vladimir Herzog, também do CJE, em um período marcado por um forte clima de insegurança na universidade. Na ocasião, o professor Coelho foi chamado a depor em um edifício ligado à Secretaria de Segurança Pública, por causa de uma edição do Jornal do Campus. Torquato, sem hesitar, o acompanhou. “O professor Torquato, de pronto, foi até o veículo e se ofereceu para me acompanhar.” Os dois permaneceram no local por cerca de duas horas até serem liberados. “Se hoje torno público esse fato, creio que devo a oportunidade à sua amizade e coragem”, contou.
“O professor Torquato me fez ver a importância do jornalismo para a sociedade. E a importância do docente para formar profissionais com competência técnica e, principalmente, ética.”
José Coelho Sobrinho, professor aposentado do CJE
A diretora Clotilde Perez ressaltou o simbolismo do título de emérito como reconhecimento do mérito e da trajetória exemplar de um docente que formou gerações de profissionais e pesquisadores. “Ser emérito é ser veterano, experiente, conhecedor, mas também é ser vitorioso. Merecedor de honras, prêmios e deferências”, afirmou. “Por tudo isso e ainda mais, por continuar nos brindando com seus ensinamentos e presença, manifesto minha alegria por se tornar você, Gaudêncio Torquato, o 22º professor emérito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.”
Em sua fala de agradecimento, Torquato fez memória de sua formação e trajetória acadêmica. Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pernambuco, iniciou sua carreira jornalística ainda jovem, recebendo, em 1966, o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Científica, por uma série de reportagens sobre a esquistossomose. No mesmo ano, passou a colaborar com a Folha de S.Paulo. Na ECA, onde ingressou aos 22 anos, chegou ao cargo máximo de professor titular. Junto com José Marques de Melo e outros professores, em um momento em que as áreas das humanidades eram perseguidas pelo regime militar, ajudou a criar a Intercom, em 12 de dezembro de 1977, da qual foi presidente entre 1985 e 1987.
Atualmente, é consultor, conferencista e analista político. Citando o jornalista Cláudio Abramo, Torquato afirmou que “o jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, Ao final, agradeceu aos professores José Marques de Melo e Manuel Chaparro e resumiu: “Eu pautei a minha trajetória sobre o compromisso de não desanimar ante eventuais percalços que pudessem atrapalhar meus passos.”