Institucional



Centro pioneiro estuda impactos da ficção televisiva na sociedade brasileira

Com 30 anos completados em 2022, Centro de Estudos de Telenovela acumula parcerias nacionais e internacionais e dará início à pesquisa sobre remake de Pantanal
 

Vida acadêmica

Criado em 1992, o Centro de Estudos de Telenovela (CETVN) da ECA foi pioneiro no estudo da ficção televisiva como fator de influência na cultura e na sociedade brasileira. Inicialmente chamado Núcleo de Pesquisa de Telenovela, o projeto tem como objetivos a promoção de pesquisas científicas e atividades acadêmicas que estudem e debatam as telenovelas, a criação de acervos sobre produções de ficção televisiva, o desenvolvimento de parcerias entre os pesquisadores, a universidade e as produtoras do gênero. 

Foto da professora Maria Immacolata. Ela é uma mulher branca, com cabelo loiro, liso e curto. Usa óculos de armação retangular na cor creme, colar branco e blusa com listras pretas e brancas. Na imagem, a professora está sorrindo durante uma apresentação, e um microfone aparece no canto inferior esquerdo.
A professora Maria Immacolata assumiu a coordenação do Centro em 2005. Ela conta que suas novelas favoritas são Roque Santeiro, Vale Tudo e Avenida Brasil. Foto: Susana Narimatsu/LAC

Atualmente, o CETVN é uma referência no estudo das ficções televisivas, possuindo uma extensa base de dados de dissertações e teses que se debruçaram sobre o assunto, produzidas em diversos programas de pós-graduação em Comunicação no Brasil. Todavia, de acordo com a professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes, do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), atual coordenadora do projeto, nos anos iniciais a ideia de estudar telenovelas era ousada, já  que as ficções televisivas não eram vistas pela Academia como um tema relevante de pesquisa. Muitas vezes, eram tratadas até como uma futilidade:  

 

“Há uma resistência da classe média e acadêmica com relação à telenovela, como se ela não fosse objeto significativo. É um grande desafio tornar a telenovela melhor reconhecida entre nós.”

Maria Immacolata Vassalo de Lopes, professora e pesquisadora

 

 

Incêndio em 2001 e recuperação do acervo

Um dos marcos mais significativos da história do Centro foi o incêndio que atingiu, em 20001, as dependências do CCA, no segundo andar do Prédio Central da ECA, e destruiu grande parte do acervo. Pesquisas em andamento, roteiros, arquivos e outras peças raras da história das telenovelas no Brasil que estavam em posse do Centro foram consumidas pelo fogo. A tragédia, fruto de um curto circuito, foi noticiada em diversos jornais do país. A professora relembra esse momento com tristeza, mas destaca a campanha SOS Telenovela, realizada na tentativa de recuperar o acervo e dar seguimento às pesquisas. “Foi um marco muito lamentável,  dramático. Atingiu muito o núcleo e perdemos muito. Depois, por sugestão de várias pessoas, decidimos fazer a campanha SOS Telenovela, pedindo contribuições de memórias e registros. Chegamos a receber até figurinos, na época”. Em 2003, as salas atingidas pelo incêndio foram reinauguradas, porém, os núcleos de pesquisa se mudaram para o Centro de Estudos do Campo da Comunicação, onde o CETVN se encontra atualmente, na sala 17 do CCA.

 

Parcerias nacionais e internacionais

Além dos projetos realizados pelo Centro de forma local, há também parcerias internacionais, como o Observatório Ibero-Americano da Ficção Televisiva (Obitel), que monitora o cenário da produção de ficção televisiva na América Latina e Península Ibérica. Hoje, o Observatório conta com 11 países e realiza todos os anos um seminário de pesquisa, além de publicar um anuário produzido pelos pesquisadores em português, espanhol e inglês.

O Obitel também possui um braço brasileiro, o Obitel-Brasil — Rede Brasileira de Pesquisadores da Ficção Televisiva, criado em 2007, que hoje conta com 80 pesquisadores de sete estados do país. O projeto é fomentado por uma parceria entre universidades públicas e privadas, agências regionais e nacionais de pesquisa e a Rede Globo de Televisão. A cada dois anos, o Obitel-Brasil publica um livro da Coleção Teledramaturgia, com os resultados de pesquisas sobre a relação entre as telenovelas e a comunicação.

 

Ficção televisiva, agora em outras telas

Em 2022, o projeto A Ficção Televisiva Brasileira como Recurso de Promoção da Cidadania, desenvolvido pelo Obitel-Brasil, foi contemplado em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na Chamada Pública Pró-Humanidades. A proposta inclui um estudo de caso do remake da telenovela Pantanal, para entender a influência da ficção televisiva na cultura e no comportamento da sociedade brasileira. Inicialmente, será feita uma meta-investigação sobre os trabalhos e pesquisas já realizados pelo Obitel-Brasil, em seus sete livros publicados até agora, para a criação de uma plataforma que divulgue e disponibilize os seus resultados. Em um segundo momento, será realizada a pesquisa sobre Pantanal, com a realização de seminários e workshops que debatam a concepção da telenovela e seu impacto.

Foto de cena do remake da novela Pantanal. Na imagem, há uma jovem branca, de cabelos longos, castanhos, agachada em cima do tronco de uma árvore, olhando em direção à câmera. Ela veste um vestido estampado, cinza e vermelho. Ao fundo, há um rio e árvores.
A telenovela Pantanal será estudada pelo Centro, em um projeto contemplado pelo CNPq. Imagem: divulgação / Rede Globo

Em seus 30 anos de existência, o CETVN passou por diversas mudanças e estudou as diferentes perspectivas na produção e distribuição das telenovelas, chegando ao atual momento, em que a ficção televisiva tem sido cada vez mais consumida nas plataformas de streaming. Para a professora Maria Immacolata, as mudanças nas telenovelas acompanham mudanças na sociedade, pois elas fazem parte do imaginário popular: “Eu tenho um conceito que eu aplico para a telenovela, de que ela é uma narrativa da nação. Essa nação é  imaginada, mas é exatamente o imaginário que aparece nas novelas, onde todos os brasileiros de todas as classes se encontram. Esse imaginário se torna cada vez mais realista ao falar do que está acontecendo agora, porque existe quase uma exigência de naturalismo, para a gente se identificar. É esse o conceito estudado durante os 30 anos do Centro: o conceito da novela como recurso comunicativo de efeito pedagógico.” 

 

 


  Imagem de capa: divulgação/ Rede Globo