Documentário de doutora pela ECA estreia no maior festival de cinema LGBTQIA+

M de Mães, de Lívia Perez, retrata a maternidade lésbica de maneira íntima e comovente

Comunidade

Lívia Perez, doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA, terá seu novo documentário, M de Mães, no maior e mais antigo festival de cinema LGBTQ+ do mundo. O filme estreará em 18 de junho como parte da 47ª edição do Frameline, que acontece anualmente em São Francisco, nos Estados Unidos, e reúne cerca de 60 mil pessoas. A proposta de Lívia é celebrar a diversidade parental das famílias latino-americanas e desmistificar a maternidade, colocando em foco a gravidez e a amamentação.

A visibilidade que o evento traz para o longa-metragem, que ainda não tem previsão de estreia no Brasil, é muito importante para a diretora. “É um festival muito grande, que recebe pessoas do mundo inteiro. É uma grande oportunidade na minha carreira para divulgar esse filme, mas também meus futuros trabalhos”, afirma a pesquisadora. Lívia estuda e produz sobre temas tradicionalmente apagados, além de buscar conectar gerações e imaginar futuros alternativos. Entre as obras que dirigiu, estão Quem Matou Eloá? (2015) e Lampião da Esquina (2016).

Lívia não é a única ecana a integrar a equipe do filme. Giovanni Francischelli, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), foi produtor executivo. Formada em Audiovisual, Lia Kulakauskas ficou responsável pela montagem do longa. A consulta de roteiro foi de Érica Sarmet, estudante do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA).

Neste documentário, as protagonistas da história são Marcela e Melanie, que decidem ter filhos através da fertilização in vitro enquanto o país passa por intensas transformações políticas. Mel fica grávida de gêmeos e Marcela resolve induzir a lactação para que também possa amamentar Bernardo e Iolanda. “Com cenas íntimas de alegrias e desafios de tudo o que precede o nascimento, na casa e no hospital, o público é convidado a questionar com elas o processo de se tornar uma Mãe”, diz a sinopse. 

Assista ao trailer de M de Mães:

 

Cidadãos do futuro

Imagem de um cartaz de divulgação do filme. No fundo, está uma foto de duas mulheres segurando duas crianças, que se abraçam e estão de cabeça para baixo. A família toda olha para a câmera e sorri. As bordas da foto são coloridas em tons de rosa, laranja e roxo. Por cima, estão os textos com as informações do filme em letras brancas. O título “M is for mothers” aparece em destaque, e ao redor dele estão os nomes das protagonistas e da diretora.
Imagem: Divulgação

Lívia conta que as gravações começaram em 2018 e funcionavam quase como um diário da gestação. “Durante o processo de nascimento dessa família LGBTQ+, o Brasil e o mundo enfrentavam uma onda de conservadorismo e de autoritarismo, os discursos de intolerância estavam muito fortes”, relembra a diretora. Para ela, documentar foi uma atitude revolucionária e de resistência, especialmente em um período em que aconteciam ataques de governantes às  mulheres, à comunidade LGBTQ+, à cultura e à arte.

 

“[Nós pensamos] ‘vamos focar no que importa, que é a chegada dessas duas crianças, que serão cidadãos do futuro, filhos de uma família queer, que trarão esperança para um amanhã mais diverso’.”

 

Lívia Perez, cineasta e doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA

 

A obra — que é tanto um registro afetivo quanto uma resposta à corrente homofóbica que acredita que pessoas queers nunca formarão uma família — contribui para aumentar a visibilidade da comunidade LGBTQ+ e mostrar como os tipos de família são muito diversos e plurais.

 

Pesquisa artística

Lívia comenta que a relação entre pesquisa e arte é um traço marcante em suas obras: “Todos os meus filmes têm uma pesquisa muito profunda e todas as pesquisas que eu faço também acabam se manifestando de alguma forma artística”. A cineasta conta que, durante o doutorado, o apoio da ECA e de sua orientadora foram muito importantes. A professora Esther Hamburger, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR), sempre estimulou que Lívia continuasse atuando como diretora durante a pós-graduação.

Sua pesquisa foi sobre o legado de Norma Bahia Pontes, uma teórica brasileira que ajudou a fundamentar as ideias do chamado Cinema Novo. No começo dos anos 1970, ela e a então namorada produziram, em Nova Iorque, um curta-metragem sobre mulheres lésbicas que brigavam na justiça pelo direito de criar seus filhos e que lutavam contra o preconceito. Esse material foi uma grande inspiração para Lívia. 

Durante a pesquisa, eu consegui, através desse processo de olhar para uma cineasta de outra geração, olhar para minha própria trajetória, pensar nos temas que sempre foram importantes para os meus filmes, em como eles são feitos e como são distribuídos”, relata a cineasta.

 

 


Imagem de capa: Reprodução/Frameline