Você sabe como atuar na prevenção do suicídio?
Após consultar a comunidade ecana, a CIP-ECA aborda este assunto de grande urgência com a participação da professora e pesquisadora Kelly Vedana
Por Mayza Bendinskas e Rafael Ventuna
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, junto ao Conselho Federal de Medicina, realiza a campanha #SetembroAmarelo. A escolha do mês se deu porque 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
Pela sua grande urgência, falar sobre este assunto não pode se restringir a um único mês. Por isso, recentemente, a Comissão de Inclusão e Pertencimento da Escola de Comunicações e Artes (CIP-ECA) realizou uma consulta pública no mês de setembro à comunidade ecana (discentes, docentes e servidores) para coletar as principais dúvidas em relação ao tema.
As questões foram respondidas pela professora e pesquisadora Kelly Graziani Giacchero Vedana, do Centro de Educação e Prevenção e Posvenção do Suicídio (CEPS), da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Confira as perguntas feitas e suas respectivas respostas abaixo:
- Como a USP está lidando com o tema? Há canais institucionais?
Profª Kelly: Existem diversas iniciativas na USP de grupos que trabalham com promoção da saúde mental e prevenção do suicídio em atividades de ensino, pesquisa e extensão. Quando se trata de canais de promoção à saúde mental para a comunidade USP, é importante destacar o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Programa ECOS, criado pela Diretoria de Saúde Mental da PRIP e trabalha com a escuta, acolhimento e orientação. Vale a pena conhecer o Mapa de Saúde Mental da USP, que reúne informações sobre diversas iniciativas que promovem saúde mental, por meio de diversas vias.
- Como proceder se você é professor de um(a) estudante que lhe comunica pensamentos suicidas mas pede sigilo sobre assunto?
Profª Kelly: É importante escutar o estudante com atenção e acolhimento, demonstrar que é preocupante o fato dele estar com pensamentos suicidas e que a situação pode ser melhor gerida com apoio. É recomendável questionar quais são as pessoas de confiança com as quais poderia dividir essa situação e se ele faz algum acompanhamento profissional ou conhece algum profissional de saúde que poderia ser acionado. É indicado compartilhar a informação apenas com pessoas que efetivamente possam colaborar com a situação e evitar exposições desnecessárias.
- Que atitude adotar quando uma pessoa aborda um boato com minúcias, relacionado a suicídio, em um grupo de WhatsApp institucional?
Profª Kelly: Podem ser tomadas medidas para reduzir a disseminação de informações que possam gerar exposição excessiva, desrespeito à privacidade de pessoas, gatilhos ou favorecer comportamentos imitativos. É importante investir no letramento sobre comunicação segura relacionada ao tema, pois existem recomendações sobre modos adequados e seguros de tratar dessa temática.
- Existe algum estudo relacionando ou cruzando dados entre suicídio e disforia de gênero?
Profª Kelly: O conceito de disforia de gênero é problemático e vem sendo discutido por tratar como inadequação ou problema clínico uma questão que está ligada à identidade de pessoas e que precisa ser respeitada. Há estudos que mostram que pessoas do grupo LGBTQIAPN+ podem estar mais expostas a alguns sofrimentos socialmente infringidos como violências, discriminação, violação de direitos e menores oportunidades de serem quem são na sociedade. É preciso investir em ações preventivas que promovam letramento, respeito, equidade e direitos humanos.
- Como uma pessoa deve agir, quando ela convive com um parente que, no dia-a-dia, tem condutas normais, mas que os familiares sabem que ele(a) tem fragilidades preocupantes e que podem até levá-lo(a) ao suicídio?
Profª Kelly: É importante compreender que não há controle absoluto sobre situações de risco. Assim, é importante buscar manter uma conexão com a pessoa, transmitir o desejo genuíno de ajudá-la, demonstrar abertura para falar sobre qualquer assunto e incentivá-la a ter relações de apoio com pessoas nas quais confia. Há situações nas quais pode ser necessária a ajuda profissional e também apoio para intervir sobre questões sociais que geram sofrimento.
- Quais passos tomar enquanto docente quando nos deparamos com um aluno que está claramente sofrendo mentalmente, potencialmente em risco para suicídio, mas que não tem interesse em dialogar?
Profª Kelly : É importante compreender que expressar uma necessidade de ajuda pode ser difícil em situações nas quais a pessoa tem dificuldade de nomear o que sente, tem receio de falar sobre assuntos delicados ou pouca esperança em ser ajudada. Algumas ações podem ajudar, como:
- manter uma postura acolhedora e não condenatória;
- deixar a pessoa à vontade para falar sobre suas necessidades e como deseja ser apoiada;
- incentivar a pessoa a manter conexão com pessoas que podem apoiá-la;
- favorecer oportunidades de convivência e reflexão que favoreçam conexões mais profundas e marcadas pelo apoio, autenticidade e acolhimento.
A CIP-ECA informa que foi necessário fazer uma seleção dentre as contribuições recebidas para viabilizar a produção desta matéria, que tem o objetivo de abordar a discussão sobre a temática por um viés mais amplo. Importante destacar que, para casos mais específicos, é preciso observar que tendências suicidas envolvem muitos fatores pessoais e o acompanhamento profissional é essencial.
A qualquer tempo, para quem precisar de auxílio para si próprio ou para receber orientações para agir com situações que estão ocorrendo com pessoas próximas, a indicação é entrar em contato com o Programa ECOS da USP, que oferece atendimento pontual e sem agendamento no Favo 22, próximo ao bloco C do CRUSP.
Como adverte a Profª Kelly Vendana, a prevenção do suicídio pode ser realizada por meio de diversas ações, sendo algumas delas mais direcionadas a grupos de maior risco. Mas que, em linhas gerais, estão todas associadas à promoção da qualidade de vida, modos saudáveis de viver e construção de relacionamentos baseados no acolhimento.
Programa de Escuta, Cuidado e Orientação em Saúde Mental (ECOS)
Cidade Universitária: Rua do Anfiteatro, 181- Favo 22, Cidade Universitária / Butantã – São Paulo/SP (em frente à portaria do Bloco C do CRUSP)
Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira, das 08h às 17h
E-mail: ecos.prip@usp.br
Telefone: (11) 3091-8345