CJE | Departamento de Jornalismo e Editoração



Cobertura ambiental não pode se limitar a desastres, afirma jornalista

Andrew Revkin compartilhou histórias e dicas sobre a profissão com estudantes de Jornalismo

Vida acadêmica
Foto de homem branco falando ao microfone  e gesticulando. Ele tem cabelos curtos, lisos e grisalhos e usa óculos. Usa uma camisa xadrez clara e um paletó marrom. Está sentado numa cadeira azul e, à sua frente, uma garrafa de água e uma pequena bandeira dos EUA. Ao fundo, uma tela com uma projeção em inglês.
Aos 68 anos de idade, Revkin está produzindo seu sexto livro, sobre Michael Mary Nolan, freira que lutou por direitos humanos no Brasil.  
Foto: Maria Eduarda Lameza/LAC ECA USP.
 

No dia 28 de agosto, o Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA recebeu a visita de Andrew Revkin. O jornalista estadunidense deu uma palestra sobre mudanças climáticas e desinformação e, ao final, respondeu a perguntas dos estudantes. O evento foi uma parceria entre o departamento e o Consulado dos Estados Unidos da América, em comemoração aos 200 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e os EUA.

Revkin é especialista em jornalismo científico e ambiental, autor de livros e já trabalhou em veículos como The New York Times. Atualmente, tem sua própria newsletter e é diretor-fundador da iniciativa em comunicação e sustentabilidade da Universidade de Columbia. O evento, que aconteceu em inglês, foi aberto ao público e transmitido ao vivo pelo Youtube do CJE com tradução simultânea. Além da palestra realizada na ECA, o jornalista também participou de outras atividades em São Paulo, Rio de Janeiro e Belém. 

 

Além da crise climática

O tema da apresentação foi Beyond the #Climate Crisis: From Hashtags to Impact (Além da #Crise Climática: das Hashtags ao Impacto, em tradução livre) e, nela, o jornalista contou sua trajetória e discutiu a forma como a mídia cobre mudanças climáticas. Ele afirma que seu primeiro contato com o jornalismo científico foi na década de 1980, quando começou a trabalhar na revista Discover. Lá, ele teve sua primeira matéria de capa publicada e foi sobre o efeito estufa, em uma época em que esse assunto ainda estava começando a aparecer nos meios de comunicação. 

A relação de Revkin com o Brasil é antiga. Em 1990, como resultado de uma viagem à Amazônia, ele publicou o livro The Burning Season (traduzido no Brasil como Chico Mendes: tempo de queimada, tempo de morte). A obra é uma biografia do seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes, que foi assassinado em 1988 por grileiros. Em 1994, o livro foi adaptado para o cinema pela HBO.

Revkin também escreveu um livro sobre sua viagem ao Polo Norte em 2003. The North Pole Was Here (O Polo Norte Era Aqui) foi publicado em 2006 e reúne uma série de reportagens e fotografias feitas por ele e enviadas ao The New York Times durante o tempo em que ele acompanhou cientistas no Ártico. Ao falar dessas coberturas, Revkin ressaltou a importância de ser o que ele chama de um “backpack journalist” (jornalista de mochila, em tradução livre), ou seja, é essencial que o jornalista seja multi-funções: que saiba escrever, fotografar e gravar.

 

Montagem com fotos de duas capas de livros. A primeira tem a foto de uma floresta em chamas. O título, “The Burning Season” está no topo, em letras grandes e vermelhas. O subtítulo, “The murder of Chico Mendes and the fight for the Amazon rain forest”, está logo abaixo, em letras brancas e menores. O nome do autor, Andrew Revkin, está na parte inferior e em vermelho. A segunda capa é a foto de um homem de roupas pretas na neve sobre o desenho de uma bússola. O título, “The north pole was here”, está no centro da imagem. O nome do autor, Andrew Revkin, está em branco na parte inferior.
Durante suas viagens que viraram livros, o jornalista viveu com grupos de seringueiros e depois de cientistas. 
Foto: Reprodução/Amazon

 

A experiência de Revkin escrevendo para renomados veículos como The New York Times e National Geographic foi uma pauta recorrente na conversa com estudantes da ECA. O jornalista explicou a necessidade de que as mudanças climáticas e o meio ambiente sejam assuntos constantes, não apenas quando alguma tragédia ou tratado internacional se torna notícia. Segundo ele, jornalistas precisam atuar identificando e expondo vulnerabilidades socioambientais e suas causas.

Em meados de 2010, Revkin deixou os jornais “tradicionais" e se dedicou a explorar os meios digitais, passando a escrever para blogs e redes sociais. Quando questionado sobre o futuro da profissão, especialmente com as mudanças climáticas, ele recomenda que as próximas gerações de jornalistas não se prendam a apenas um modelo antigo e que estejam abertos para novas possibilidades: “Se envolva com o seu público de olhos e ouvidos abertos para que eles confiem em você.”

Além dos questionamentos dos estudantes, Revkin respondeu a perguntas do professor do CJE Dennis de Oliveira, da pesquisadora em comunicação Andreia Terzariol Couto e da jornalista Carolina Dantas, editora do portal InfoAmazônia. Para o professor Luciano Maluly, que fez a mediação entre o Consulado e o departamento, durante o evento, foram debatidas questões socioambientais de interesse público que merecem a atenção dos jornalistas, principalmente, para combater a desinformação.

 

“O principal impacto da visita de Revkin foi alertar o departamento — alunos e professores — para a importância da pauta ambiental na formação do jornalista.”

Luciano Maluly, professor do Departamento de Jornalismo e Editoração

 

Assista a palestra na íntegra:


Foto de capa:  Maria Eduarda Lameza/LAC ECA USP.