Cobertura ambiental não pode se limitar a desastres, afirma jornalista
Andrew Revkin compartilhou histórias e dicas sobre a profissão com estudantes de Jornalismo
No dia 28 de agosto, o Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA recebeu a visita de Andrew Revkin. O jornalista estadunidense deu uma palestra sobre mudanças climáticas e desinformação e, ao final, respondeu a perguntas dos estudantes. O evento foi uma parceria entre o departamento e o Consulado dos Estados Unidos da América, em comemoração aos 200 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e os EUA.
Revkin é especialista em jornalismo científico e ambiental, autor de livros e já trabalhou em veículos como The New York Times. Atualmente, tem sua própria newsletter e é diretor-fundador da iniciativa em comunicação e sustentabilidade da Universidade de Columbia. O evento, que aconteceu em inglês, foi aberto ao público e transmitido ao vivo pelo Youtube do CJE com tradução simultânea. Além da palestra realizada na ECA, o jornalista também participou de outras atividades em São Paulo, Rio de Janeiro e Belém.
Além da crise climática
O tema da apresentação foi Beyond the #Climate Crisis: From Hashtags to Impact (Além da #Crise Climática: das Hashtags ao Impacto, em tradução livre) e, nela, o jornalista contou sua trajetória e discutiu a forma como a mídia cobre mudanças climáticas. Ele afirma que seu primeiro contato com o jornalismo científico foi na década de 1980, quando começou a trabalhar na revista Discover. Lá, ele teve sua primeira matéria de capa publicada e foi sobre o efeito estufa, em uma época em que esse assunto ainda estava começando a aparecer nos meios de comunicação.
A relação de Revkin com o Brasil é antiga. Em 1990, como resultado de uma viagem à Amazônia, ele publicou o livro The Burning Season (traduzido no Brasil como Chico Mendes: tempo de queimada, tempo de morte). A obra é uma biografia do seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes, que foi assassinado em 1988 por grileiros. Em 1994, o livro foi adaptado para o cinema pela HBO.
Revkin também escreveu um livro sobre sua viagem ao Polo Norte em 2003. The North Pole Was Here (O Polo Norte Era Aqui) foi publicado em 2006 e reúne uma série de reportagens e fotografias feitas por ele e enviadas ao The New York Times durante o tempo em que ele acompanhou cientistas no Ártico. Ao falar dessas coberturas, Revkin ressaltou a importância de ser o que ele chama de um “backpack journalist” (jornalista de mochila, em tradução livre), ou seja, é essencial que o jornalista seja multi-funções: que saiba escrever, fotografar e gravar.
A experiência de Revkin escrevendo para renomados veículos como The New York Times e National Geographic foi uma pauta recorrente na conversa com estudantes da ECA. O jornalista explicou a necessidade de que as mudanças climáticas e o meio ambiente sejam assuntos constantes, não apenas quando alguma tragédia ou tratado internacional se torna notícia. Segundo ele, jornalistas precisam atuar identificando e expondo vulnerabilidades socioambientais e suas causas.
Em meados de 2010, Revkin deixou os jornais “tradicionais" e se dedicou a explorar os meios digitais, passando a escrever para blogs e redes sociais. Quando questionado sobre o futuro da profissão, especialmente com as mudanças climáticas, ele recomenda que as próximas gerações de jornalistas não se prendam a apenas um modelo antigo e que estejam abertos para novas possibilidades: “Se envolva com o seu público de olhos e ouvidos abertos para que eles confiem em você.”
Além dos questionamentos dos estudantes, Revkin respondeu a perguntas do professor do CJE Dennis de Oliveira, da pesquisadora em comunicação Andreia Terzariol Couto e da jornalista Carolina Dantas, editora do portal InfoAmazônia. Para o professor Luciano Maluly, que fez a mediação entre o Consulado e o departamento, durante o evento, foram debatidas questões socioambientais de interesse público que merecem a atenção dos jornalistas, principalmente, para combater a desinformação.
“O principal impacto da visita de Revkin foi alertar o departamento — alunos e professores — para a importância da pauta ambiental na formação do jornalista.”
Luciano Maluly, professor do Departamento de Jornalismo e Editoração
Assista a palestra na íntegra: