Institucional



Ágora ECA: espaço virtual conta história da Escola em imagens e depoimentos

Criado por ex-discentes, projeto integra gerações e expande presença nas redes sociais

Comunidade

O Ágora ECA é um espaço digital criado para reunir a memória da comunidade ecana e contar um pouco mais sobre a Escola. O projeto, que completou um ano de atividades em abril de 2022, foi desenvolvido pelos ex-alunos Nilton Sperb (Cinema), Regina Thompson (Jornalismo) e Renata Golombek (Publicidade e Propaganda), todos da turma de 1983.

Sem vínculo institucional com a ECA e a USP, o projeto não possui fins lucrativos e é de caráter principalmente afetivo. “É só muito amor envolvido. (...) Todo mundo é muito apaixonado pela Escola”, diz Renata. A mais recente integrante da equipe, Jennifer Monteiro (Publicidade e Propaganda/ 1983), explica que “a memória é a linha condutora”, promovendo o resgate de diversos aspectos da história da Escola através de lembranças pessoais. 

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Imagem: Ágora ECA

Para nomear a iniciativa, os amigos  se inspiraram no gramado presente em frente a ECA, chamado de “ágora” por eles e outros estudantes da época -  uma referência aos locais onde os cidadãos da Grécia Antiga se encontravam para atividades sociais, políticas e culturais. Era nesse gramado que os discentes ecanos costumavam se reunir e conversar sobre arte, política e outros assuntos.

De maneira simples e informal, o site apresenta relatos e registros de diversos ecanos  - discentes, ex-discentes, docentes e funcionários. Alguns dos nomes famosos que já deixaram sua contribuição são a cantora e compositora Ana Cañas (Artes Cênicas/ 2001), os jornalistas Paulo Markun (Jornalismo/ 1971) e Mônica Sanches (Jornalismo/ 1985)  e a jornalista e apresentadora Mônica Waldvogel (Jornalismo/ 1974).

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Da esquerda para a direita: Paulo Markun, Ana Cañas, Mônica Sanches e Mônica Waldvogel, alguns dos ecanos ilustres que já deram seu depoimento para o Ágora ECA. Fotos: Ágora ECA. 

 

 

Uma ágora virtual

Desde que estudaram juntos, Nilton, Regina, Renata, Jennifer e outros ex-alunos da ECA se falam regularmente. Seja por meio de redes sociais, seja por grupos de mensagem, os amigos conversavam sobre diversos assuntos, além de trocar histórias e lembranças do tempo de graduação. É nessa época, Nilton gosta de lembrar, que o então jovem e anônimo William Bonner, ex-aluno de Publicidade e Propaganda, era conhecido simplesmente como Billy.

Em março de 2020, no início da pandemia, o grupo passou a se reunir virtualmente todos os domingos. Foi em um desses encontros, em meio à profusão de lives daquele momento, que surgiu a ideia de resgatar a Ágora ecana, desta vez em versão on-line.  

 

"Todo mundo tem a sua história e toda história tem a sua importância".

Nilton Sperb, ex-aluno da ECA (Cinema/83) 

 

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Comprovante de inscrição no vestibular de 1981/82. Foto enviada por Mônica Gazoni.

Foram necessários 4 meses para estruturar o projeto, com  reuniões semanais para discutir as propostas. A ideia original era fazer um canal de entrevistas no Youtube, mas Renata Canales (Rádio e TV/ 83), ex-aluna que colaborou com a fase inicial do ÁgoraECA , sugeriu começar por algo mais modesto: um blog. A partir daí, as tarefas foram divididas  entre os membros do grupo e teve início começou a coleta dos primeiros depoimentos e materiais.

Cada integrante  colabora de acordo com sua especialidade, mas todas as decisões são tomadas em conjunto. Regina, por exemplo, fica com a produção das principais matérias. Nilton, além de também escrever, cuida da edição de vídeos e tratamento de imagens. Já Renata Golombek trabalha com a programação visual e com o site. 

Jennifer se juntou ao projeto em novembro de 2021. A atual representante dos ex-alunos na Congregação da ECA tem sido uma verdadeira “coringa”, segundo Nilton, e vem trabalhando  para  expandir a presença do ÁgoraECA projeto em diferentes redes sociais, além de  e fortalecer as relações com a comunidade ecana.

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Da esquerda para a direita: Renata Golombek, Nilton Sperb, Regina Thompson e Jennifer Monteiro, atual equipe fixa do Ágora ECA. Fotos: Ágora ECA. 

Com frequência,  outros ecanos  apoiam a iniciativa, contribuindo para pautas pontuais. Alguns exemplos são a já citada Renata Canales (Rádio e TV/ 1983), Helena Tassara (Cinema/ 1982) - que colaborou com o In Memoriam dedicado à Adriana Komives (Cinema/ 1982) - e Silvia Bittencourt (Jornalismo/ 1983).

 

Muitas ideias, muitas vozes

Ao longo dos primeiros meses do ÁgoraECA, foram surgindo as ideias para as atuais seções do site. A Você Sabia? reúne curiosidades sobre a Escola; enquanto a Por Dentro da ECA está mais relacionada a atividades e pautas atuais. Já entre as matérias de A ECA também é… estão as histórias de ecanos que se destacam em áreas diferentes das Comunicações, Informação e Artes, como o esporte.

Mas são os depoimentos que representam a principal seção do site. Através de textos, áudios e vídeos, ecanos de diferentes épocas contam como chegaram à Escola e como as vivências na ECA impactaram e ainda impactam suas trajetórias profissionais e pessoais. Já são mais de 100 depoimentos coletados, com atualizações praticamente diárias. 

 

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A professora Débora Cordeiro Braga, do curso de Turismo, na época da graduação, iniciada em 1987. Foto: Ágora ECA. 

É uma variedade enorme de histórias e experiências. Tem gente que entrou na ECA para fazer a graduação e segue na Escola até hoje, como a professora Débora Cordeiro Braga (Turismo/1987), e a bibliotecária Marina Macambyra (Biblioteconomia/ 1979) (“vi uma porta com a placa ‘Filmoteca’ e pensei que seria um lugar bacana para trabalhar”). Tem também o ex-aluno de Rádio e TV René de Paula Jr., que acabou, depois de formado, trabalhando com algo que sequer existia na época da graduação. E tem gente como o Cadu Everton, estudante de Jornalismo, que chegou em 2020 vindo do Maranhão e diz que escolheu a ECA “antes mesmo de saber que a ECA existia”.

 

 

 

Imagens de uma outra ECA

Não é apenas através dos depoimentos que as memórias da ECA são revividas, mas também por meio de fotos. Na seção FototECA estão agrupadas imagens de diversas gerações, dos  anos 1970 até os dias atuais. “É um trabalho de garimpo de várias fontes”, explica Jennifer. Para captar essas recordações, o grupo conta com as colaborações da comunidade, pesquisa conteúdo nas redes sociais e outros locais da internet, entra em contato com os responsáveis por publicações interessantes e fica de olho no site da ECA e no Jornal da USP.

 

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I Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação (ENECOM), em Goiânia, 1972. Na primeira fileira, da esquerda para a direita: Zita Bressane, Emmanuel Publio Dias, Regina Pimenta de Castro, Diléa Frate, Paulo Sergio Markun. Na segunda fileira, à esquerda, de óculos, Sérgio Gomes. Foto cedida por Neuza Fiorda Chacha
 

"As fotos  têm sido um dos maiores pontos de retorno, integração. Têm tido uma receptividade muito boa."

Regina Thompson, ex-aluna da ECA (Jornalismo/83)
 

São as imagens que revelam uma história diferente daquela que se encontra nas frias cronologias oficiais: o sorriso capturado de surpresa durante um encontro de amigos, o jeito particular de acender um cigarro, o cabelo e a pele que mudaram ao longo do tempo, um lugar que não existe mais. Rever (ou ver pela primeira vez) estes momentos, pessoas e locais permite entrar em contato com outra dimensão da vida da Escola, que geralmente passa despercebida no cotidiano de aulas, pesquisas e trabalho, e que ganha novas camadas de sentido e sentimento com o passar dos anos.

 
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Integrantes da Turma de 1983, noturno e diurno, no último ano do curso. Foto enviada por Carla Risso.

 

Para Nilton, o Ágora ECA toca nesse momento muito importante da formação do ser humano e de sua memória, que é o período que começa no fim do Ensino Médio e vai até a faculdade. Essa fase proporciona a vivência de muitas experiências marcantes, que proporcionam memórias duradouras. 

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Turma de 1983. Foto enviada por Álvaro Lima

As imagens chamam a atenção também por mostrar as mudanças que aconteceram na Escola ao longo dos anos - como reformas, instalação de obras de arte e a modernização de equipamentos. O Teatro Laboratório e os prédios em seu entorno - como os departamentos de Artes Cênicas (CAC),  de Música (CMU) e o térreo do Departamento de Rádio e TV (CTR) - só foram construídos nos anos 1990, por exemplo. 

Foto em preto e branco de quatro pessoas em pé, duas mulheres e dois homens. Eles estão na rua e em seu redor há carros estacionados e árvores. Uma das mulheres apoia uma câmera antiga em seu ombro e olha pelo visor com um de seus olhos. A outra mulher segura alguns cabos.
Equipe da ECA (liderada pela professora Marília Franco) durante o lançamento do Núcleo de Cinema em Ribeirão Preto (1985): Susana Kourjian, Glaucia Davino, Michael Ruman, Nilton Sperb. Foto de Jorge Matsuo enviada por Nilton Sperb

Além disso, Jennifer destaca transformações proporcionadas pelo desenvolvimento da tecnologia. Ela lembra das bancadas com guache e papel para fazer os layouts publicitários, hoje ocupadas por computadores. Nesse sentido, o Ágora ECA ajuda a resgatar também essa história das mudanças nas Comunicações.

Foto de quatro pessoas apresentando uma peça de teatro. Duas estão sentadas em um sofá vermelho e olham para o lado direito, elas vestem ?. Atrás do sofá, duas personagens usando vestidos longos e coloridos estão de braços dados. Duas cadeiras aparecem mais ao fundo. A iluminação do palco está escura.
“O Burguês Fidalgo”, trabalho em formato teatral realizado para a disciplina História da Cultura e da Comunicação (1983) – enviada por Renata Golombek

Outra mudança importante lembrada pela equipe do Ágora ECA é o fim do ciclo básico para os alunos ingressantes. Até 1982, os estudantes deveriam prestar vestibular para a área de “Comunicações e Artes”, cursar disciplinas fundamentais nos primeiros quatro semestres e, só então, decidir a área de especialização. “Nós, mesmo tendo a escolha da carreira, convivemos por dois anos com todo mundo; então a gente teve essa troca e isso permitiu que a gente criasse esses laços de amizade. (...) Acho que o Ágora ECA também é um resultado dessa integração que a gente tinha na ECA”, diz Renata Golombek.

 

Novas velhas histórias

Ao longo do desenvolvimento do ÁgoraECA, muitas histórias estão sendo redescobertas ou reinterpretadas. Nilton explica que já sabem o que aconteceu, mas acabam descobrindo novos detalhes e minúcias a cada depoimento ou registro que recebem. “É uma recompensa diária para nós todos. O que a gente descobre, os contatos que a gente faz, as pessoas que descobrem o Ágora ECA e redescobrem a ECA em si.”

Renata Golombek e Regina Thompson contam que, apesar de saber do papel de resistência que vários ecanos tiveram durante a ditadura, não deram tanta importância a isso em seu tempo de estudante. Foi mais recentemente, graças ao trabalho no Ágora ECA, que elas puderam compreender e valorizar esta parte da história da Escola. Os criadores do projeto também destacam a importância de preservar esses registros as memórias da Escola e transmiti-loas para as próximas gerações. 

 

“A gente sabe que [a ECA] foi um pólo, na época da ditadura, de professores e alunos que se posicionaram. Essa história a gente também quer contar. É super importante para as novas gerações.”

 

Renata Golombek, ex-aluna (Publicidade e Propaganda/83)

 

Foto em preto e branco de um homem em frente a uma parede de pedras. Ele é branco, tem cabelos lisos, tem bigode e olha para o lado. O homem veste uma blusa clara com uma camisa escura por cima, e usa óculos de armação bem fina.
Jean-Claude Bernadet, um dos professores da ECA cassados durante a ditadura. Foto: Jornal da USP

Para isso, o site conta com uma seção dedicada a professores que foram cassados e perseguidos, como Vladimir Herzog, Jean-Claude Bernardet e José Freitas Nobre.

Golombek acredita que o site pode funcionar como uma  forma de documento para a Escola. Há, inclusive, a intenção de aprimorar a metodologia das entrevistas, inspirando-se em projetos como o Museu da Pessoa, que se dedica à coleta, preservação e transmissão de histórias de vida, reconhecendo-as como uma importante fonte de conhecimento.

 

A ECA de hoje

O ÁgoraECA está, aos poucos, crescendo nas redes sociais, afirma Nilton, e as interações de alguns usuários no Instagram e no Facebook são um sinal para isso. Ele ainda destaca que o resgate e a publicação das imagens permitem o reencontro com pessoas que não viam há muito tempo e “algumas reações até muito mais emotivas.”

Regina, durante uma visita à ECA, pôde sentir essa expansão do projeto na prática. Ela conta que conversou com estudantes da ECA Jr. - empresa júnior do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) - e ouviu relatos de uma jovem que adorava seguir os stories do projeto e descobrir fatos sobre a Escola.

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Semana de recepção dos calouros em 2020, enviada por Júlia Perillo.

Essa relação com os atuais discentes é bastante interessante, segundo Regina. “Isso é muito bacana porque houve uma mudança muito grande da demografia, do tipo de aluno, da nossa época pra hoje.” Renata Golombek também conversou com a geração dos anos 2020 e teve a mesma percepção. 

 

“Eu vejo a USP muito inclusiva. (...) Essa USP de hoje me agrada muito, me dá mais orgulho e eu espero que isso não mude.” 

Renata Golombek, ex-aluna (Publicidade e Propaganda/ 83)

 

Para Jennifer, o contato que o ÁgoraECA proporciona com o trabalho de ex-discentes é muito importante, especialmente num momento em que a universidade pública e suas produções enfrentam tantos ataques e desprezo

Ver o quanto todos esses ex-alunos contribuíram para a Comunicação e para as Artes desse nosso país nos dá mais incentivo para afirmar com toda força, para quem falar o contrário, que a universidade pública, que a USP é um celeiro de gente muito capacitada e que ajuda muito esse país. (...) Acho que a gente mostra um pouco disso.”

 

Faça parte dessa história

O desejo dos criadores do Ágora ECA é que todos que compartilham desse carinho pela Escola tenham voz e façam parte dessa narrativa. 

Os membros da comunidade ecana - sejam discentes, ex-discentes, professores ou funcionários ativos e aposentados - interessados em colaborar com o projeto podem enviar imagens e depoimentos para o e-mail acervo@agoraeca.net.br e sugestões de pauta para pauta@agoraeca.net.br

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Imagem de capa: estudantes ecanos da turma de 1983. Foto: Miriam Scavone/ Ágora ECA