Qual o papel da comunicação na perspectiva da educação transformadora defendida por Paulo Freire? Foi a pergunta que direcionou o artigo Pedagogias de Paulo Freire: educando para a cidadania com protagonismo na comunicação, das professoras Fabiana da Costa Pereira (Universidade Franciscana) e Ivete Fossá (Universidade Federal de Santa Maria).

A publicação integra uma edição especial da revista Comunicação & Educação, do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), que homenageia o centenário do educador e filósofo brasileiro, comemorado em 2021.

O artigo propõe uma discussão sobre a educação para a cidadania, que tem suas bases na busca por uma educação onde os indivíduos sejam protagonistas de suas histórias. Para isso, é preciso considerar que essas histórias nascem em diferentes locais e condições sociais.

As autoras analisam o desenvolvimento do Brasil como nação desigual e a “coisificação” das pessoas, termo usado por Freire para definir a condição do indivíduo reduzido a objeto, sem compreender sua posição submissa na sociedade. A solução para esse problema estaria em um processo educativo que permita a autorreflexão e a tomada de consciência da população.

Para isso, a educação deve ser entendida como um processo contínuo, dialógico e no qual os educandos tenham autonomia, sem esquecer o papel da comunicação. Segundo as autoras, a comunicação também deve ser libertadora e essa possibilidade é maior quando “o indivíduo entende o lugar que ocupa e que o direito à comunicação também é cidadania.”

Em suas mais de 200 páginas, o dossiê conta com 14 artigos, divididos em cinco sessões temáticas: Pedagogias de Paulo Freire, dialogia e comunicação; Contribuições da pedagogia freiriana para a decolonização e os povos originários; Pedagogia de Paulo Freire e o engajamento na práxis; A dimensão cultural do pensamento freiriano: entre a teoria e a práxis; O pensamento de Paulo Freire: entre o internacional e o regional, o urbano e o rural.

Você pode ler o dossiê completo no Portal de Revistas da USP.
 

Outro artigo que aborda a perspectiva ideológica de Freire na comunicação é Las Voces que Somos, um Enunciado da Mídia Dialógica Indígena para a Libertação, escrito por Claudia Magallanes-Blanco, docente da Universidad Iberoamericana Puebla (México) e publicado na revista MATRIZes.

Claudia aborda os ideais propostos por Freire para uma comunicação libertadora analisando um projeto de mídia indígena em Oaxaca, México. Uma das regiões mais pobres do país, Oaxaca tem 43% de sua população formada por indígenas que têm seus modos de vida e territórios ameaçados.

O projeto Comunicação Transformadora para o Cuidado da Vida e do Território, implementado pela organização Ojo de Agua Comunicación, realizou o programa de rádio Las Voces que Somos, que dá voz aos indígenas locais e permite que eles discutam seus cotidianos e necessidades.

Para Claudia, a iniciativa dialoga com Freire ao colocar em prática a ideologia da comunicação libertadora. “É um exercício dos direitos indígenas por meio da mídia, possibilitando a comunicação e exibindo a plena humanidade dos povos indígenas contra os opressores. É uma forma de buscar a emancipação.”

O artigo faz parte da última edição da revista MATRIZes, publicação do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM). Paulo Freire, 100 anos reuniu diversos estudos sobre a obra do educador brasileiro, assinados por pesquisadores nacionais e internacionais. 

A edição está disponível no Portal de Revistas da USP.