Revista ARS: o papel da tradição oral na educação

Nova edição da revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) fala sobre a pedagogia Griô e sua aplicação no sistema educacional brasileiro

Vida acadêmica

A tradição oral acompanha a evolução humana desde seus primórdios e é considerada uma rica fonte de conhecimento e formação cultural. Mas como ela pode ser utilizada no ensino e aprendizagem da arte sob perspectivas não hegemônicas e antirracistas?

Esse questionamento foi tema do artigo Pedagogia Griô: Paradigmas para a Arte/Educação com a Tradição Oral, dos estudantes Carolina Eiras Pinto, Iago Cerqueira dos Santos, Pamella Correia Croda e Thiago de Jesus Correa. A pesquisa foi desenvolvida para a matéria de Metodologia da História Oral, lecionada pela professora Sumaya Mattar, do Departamento de Artes Plásticas (CAP).

O artigo busca compreender a pedagogia Griô, metodologia de ensino criada por Lilian Pacheco e Marcio Caires. O nome vem do termo francês griot, que designa de maneira genérica “o lugar social de mestres caminhantes da tradição oral do continente africano”. Foi a partir dele que os autores definiram o chamado Griô Aprendiz, responsável pela ponte entre a tradição oral marginalizada e a academia.

No contexto brasileiro, essa tradição oral é muito encontrada na esfera da cultura popular por meio de tradições indígenas e de matriz africana. Para entender mais sobre sua aplicação, os estudantes conversaram com Silvania Francisca de Jesus, educadora Griô e professora da Rede Municipal de Educação de São Paulo.

Segundo Silvania, o método Griô “não tem nada escrito, é tudo na oralidade. Você se senta no curso e não tem nada para anotar. É sua escuta atenta, o seu corpo gravando, o corpo vivenciando, porque a preocupação em anotar nos tira da vivência. O importante é vivenciar.”

 Imagem de fundo de uma roda de crianças conversando com edição em tons arroxeados. No canto superior esquerdo o nome da seção Diálogos com a graduação. Na parte central o título do artigo. Na parte inferior os nomes dos autores e o título do artigo em inglês e espanhol
O artigo dos estudantes de Artes Visuais faz parte da seção "Diálogos com a Graduação" da revista. Foto: Reprodução/Revista ARS

Esse tipo de ensino permite ao educando uma participação maior no processo de aprendizagem e considera algo que a professora percebe faltar na educação brasileira: a dimensão afetiva da vida.

Isso ocorre porque os “cursos acadêmicos não oferecem formação adequada para que os educadores trabalhem com as questões de identidade e ancestralidade dos educandos”, o que leva professores a reproduzirem a opressão educacional à qual também foram submetidos.

E assim a educação acaba se tornando um processo que desumaniza o educando e nega sua individualidade. Como resposta a isso, a pedagogia Griô propõe a valorização e resgate da ancestralidade de cada um, potencializando diálogos e vivências e encontrando na arte popular um meio de alcançar os estudantes.

Para os autores da pesquisa, a metodologia permite novas possibilidades de manifestação de saberes. “Deve-se considerar terreiros, acampamentos ciganos, ocupações – e, por que não, as próprias casas –, através de contação de histórias, danças tradicionais, vivências em roda. Essa mesma casa, que neste momento concentra a maior parte de nossa vivência, faz-se espaço de arte e de educação.”


Revista ARS
 

Pedagogia Griô: Paradigmas para a Arte/Educação com a Tradição Oral é um dos artigos publicados na edição de número 43 da Revista ARS. Nessa edição, a revista reúne textos sobre diferentes métodos e abordagens do objeto artístico e da cultura, contemplando a riqueza da formação em artes nos cursos de pós-graduação do país. Entre os trabalhos desta edição, merecem destaque os textos que analisam a obra de artistas como Adriana Varejão e Jaider Esbell (falecido em 2021 e destaque da última Bienal), além de artigos sobre arquitetura e os filmes produzidos segundo preceitos do movimento artístico Fluxus. 

A Revista ARS é publicada pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV). Acesse na íntegra essa e outras edições no Portal de Revistas da USP.