Institucional



Censo em comunidades vizinhas à USP resulta em livros e aplicativo

Dados foram coletados pelo projeto Democracia, Artes e Saberes Plurais, que conta com docentes da ECA. Plataforma com produções da USP sobre comunidades periféricas foi lançada em 2021 

Comunidade
Foto dos telhados das casas do Jardim São Remo. Os telhados são feitos de placas cimentícias ou de pvc e há muitas caixas d’água e garrafas de plástico em cima deles, além de algumas fachadas laterais de casas em alvenaria com tijolos aparentes. Mais ao fundo, há muitos prédios e algumas áreas verdes com árvores.
Comunidade Jardim São Remo, vizinha da Cidade Universitária. Foto: Reprodução/Instituto de Estudos Avançados (IEA)

Realizado pela Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o Democracia, Artes e Saberes Plurais (Dasp) é um projeto que visa aproximar a Universidade e as comunidades periféricas de seu entorno

Iniciativa da pesquisadora Eliana Sousa Silva enquanto era titular da cátedra, o Dasp se apoia na realização de três ações principais: o Centralidades Periféricas, que promoveu uma série de eventos sobre as produções culturais e artísticas da periferia; o Censo Vizinhança USP, que coletou dados diagnósticos sobre as comunidades vizinhas aos campi da capital; e a Conexões USP-Periferias, uma plataforma digital que reúne informações sobre a produção docente e discente da USP relacionada ao contexto periférico. O Dasp ainda abrange o grupo de pesquisa nPeriferias, criado em 2019 e coordenado pela professora Gislene Aparecida dos Santos, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. 

Professor do Departamento de Informação e Cultura (CBD), Martin Grossmann é coordenador acadêmico da Cátedra Olavo Setubal e vice-coordenador do nPeriferias. O professor Dennis de Oliveira, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA, também integra o grupo de pesquisa.

 

Capa do livro “Censo Vizinhança USP”. Ela é inteiramente amarela, e sob a cor está a foto aérea de uma comunidade. Em letras grandes e pretas, no topo da capa, está escrito “Censo Vizinhança USP”. Embaixo, em letras menores e pretas, está escrito “características domiciliares e socioculturais do Jardim São Remo e Sem Terra”. No canto inferior direito, em letras pequenas, há informações sobre os realizadores da obra.
Capa do livro digital "Censo Vizinhança USP: características domiciliares e socioculturais do Jardim São Remo e Sem Terra”. Além dele, há outro livro com os dados do Jardim Keralux e da Vila Guaraciaba. Foto: Divulgação/Instituto de Estudos Avançados (IEA)
Censo Vizinhança USP

O Censo Vizinhança USP, entre 2019 e 2020, coletou dados sobre as comunidades vizinhas aos campi da USP na capital – Jardim São Remo e Sem Terra/Vila Clô, próximas à Cidade Universitária, na zona oeste, e Vila Guaraciaba e Jardim Keralux, próximas à Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na zona leste. Por conta dos casos crescentes de covid-19, o levantamento de dados domiciliares foi interrompido, e as análises sobre as comunidades foram feitas com base na coleta realizada até março de 2020.

Em 2021, ocorreu, de forma remota, um mapeamento sociocultural desses locais. Foram coletadas informações sobre ações sociais, artísticas, esportivas, educacionais e religiosas das quais os moradores fazem parte. A relação dessas pessoas com a Universidade de São Paulo também foi questionada.

Ainda em 2021, o grupo também organizou o livro Narrativas Periféricas: entre pontes, conexões e saberes plurais, que conta com as percepções e vivências dos pesquisadores que participaram do projeto. Os resultados do censo e do mapeamento foram divulgados em dois livros e em um aplicativo, lançados em julho de 2022. 

Para Érica Peçanha, supervisora geral do projeto Democracia, Artes e Saberes Plurais, a expectativa é de que os trabalhos da equipe possam “inspirar novos projetos acadêmicos da USP, assim como ações da sociedade civil e do poder público, que dialoguem com as demandas locais e produzam melhorias nas condições de vida dos territórios pesquisados.”

 

Imagem do site Conexões USP-Periferias. Na parte superior, há um menu preto que redireciona o usuário a outras abas do site que estão escritas em branco: “Apresentação”, “Periferias como Potência”, “Periferias na USP”, “Ensino e Pesquisa”, “Extensão” e “Periferias em Números na USP”. Nos cantos do menu, há a logo do site e um ícone de uma lupa, para pesquisa no site. A maior parte da página é ocupada por uma foto em preto e branco de casas de uma comunidade como fundo para a logo da plataforma: os dizeres “Conexões USP-Periferias” colocada no centro de uma figura que se assemelha a um elo de uma corrente.
Página principal da plataforma Conexões USP-Periferias. Foto: Reprodução/Site Conexões USP-Periferias
Lançamento da Conexões USP-Periferias

Lançada oficialmente em agosto de 2021, a plataforma digital Conexões USP-Periferias reúne milhares de informações sobre as produções da USP relacionadas às áreas periféricas. São dissertações, teses, artigos, disciplinas, publicações, programas, projetos e outros, realizados por docentes e discentes da Universidade. O levantamento dos dados, feito entre os anos de 2019 e 2020, utilizou os sistemas da própria USP como base.

“A plataforma cumpre o papel de dar visibilidade às produções e ações da USP que contribuem para pensar a periferia sob diferentes perspectivas, assim como permite o acesso a dados qualificados que podem servir a interesses diversos. É uma referência de conteúdos e dados tanto para acadêmicos como para não-especialistas, e por isso mesmo foi idealizada para ter suporte em meio digital, caráter multidisciplinar, acesso público e fácil interação”, comenta Peçanha.

 

Leandro de Oliva, pesquisador bolsista que ajudou na construção da base de dados da plataforma, destaca: “diante de um momento de exacerbada desvalorização da memória do nosso país, de catástrofes e perda de acervos, o valor de uma iniciativa como a criação de uma plataforma que reúne ações e produções da USP sobre periferias e favelas é inestimável.” 

 

Foto de uma grande ocupação. Nela, é possível ver dezenas de barracos em situação muito precária, feitos de madeiras finas, coberturas de plástico e lona e telhas. Alguns moradores circulam entre as construções.
Ocupação no Jardim São Remo criada após o início da pandemia, diante da incapacidade de pagar aluguel. Foto: nPeriferias
A covid-19 nas periferias

No início da pandemia, o nPeriferias começou uma pesquisa com o objetivo de compreender a vivência dos moradores de comunidades periféricas frente à covid-19. O projeto envolvia também as pessoas das comunidades, incentivando-as a registrar em imagens seu cotidiano durante o período pandêmico. Os resultados obtidos foram reunidos em uma publicação organizada por Oswaldo Baquero, professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ). Nela, há imagens e relatos feitos por pessoas que vivem no Jardim São Remo.

Segundo Baquero, em artigo em fase de publicação, crises na saúde — como a causada pela covid-19 — são cenários propícios para o aumento da violência em locais periféricos: “precariedade imposta, exploração, perseguição, expulsões territoriais, práticas de encarceramento e agressões no ambiente domiciliar violentam sujeitos periféricos e encontram nas emergências sanitárias possibilidades de se elevar à condição de sindemia de violências.” As sindemias são conjuntos de problemas de saúde interligados, que aumentam mutuamente e interagem com o contexto social em que ocorrem. Alguns teóricos enxergam a covid-19 como um exemplo deste conceito.

 

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Imagem de capa: Unsplash