Doutoranda em Artes Visuais ministra workshop em universidade indiana

Pesquisadora também expôs seu trabalho e foi jurada em concurso de fotografia

Comunidade

Em maio, Ana Paula Albé apresentou suas obras e propôs novas práticas a estudantes do Vellore Institute of Technology (VIT). A pesquisadora visitou a instituição indiana por meio de um convênio acadêmico entre o VIT e a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional, a Aucani. Além de expor seu trabalho TEMPOLUZ, a doutoranda em Poéticas Visuais — uma das linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da ECA — conduziu uma oficina e participou do júri de um concurso fotográfico do Instituto.

Para a pesquisadora, a experiência foi muito rica. “Acho muito legal poder trocar de forma tão horizontal com pessoas que foram até ali para ouvir algo que eu tenha a falar. Mesmo que eu ache que sei algumas coisas, ao chegar lá, tenho de me entender com pessoas de backgrounds muito diferentes. Para mim é um aprendizado. Não acho fácil não, é difícil, mas desenvolve muito a minha responsabilidade com os meus objetivos”.

O convite para a visita veio de Marcelo Schellini, professor de disciplinas de fotografia no VIT que também passou pelo PPGAV. Ana Paula conta que o docente produzia retratos tecnicamente perfeitos, enquanto ela buscava outras formas de retrato. De qualquer forma, são “dois fotógrafos que pensam a fotografia como ferramenta para descobrir novos lugares”, pensa.

 

“Mais tempo para o olhar” 

Intitulada "I'll be your mirror" _ Contemporary Portrait Photography, a oficina promovida por Ana Paula ofereceu 30 horas de construção e desconstrução de ideias, imagens e experiências visuais. O tema foi a produção de retratos fotográficos, que era pensada além da câmera. A pesquisadora propôs equipamentos e práticas mais simples do que os estudantes estavam acostumados, desafiando-os a experimentar uma duração estendida do retrato.

Foto de pessoas na sala de aula. À esquerda da imagem, uma mulher está em pé conduzindo um homem, que está com os olhos vendados. À direita estão diversos jovens sentados e apoiados em mesas observando a cena. Ao fundo, está um quadro branco e uma pessoa tirando fotos com uma câmera profissional.
Imagem: Samara Macêdo

A turma realizou alguns exercícios antes mesmo dos cliques, como caminhar com os olhos fechados e se atentar aos detalhes arquitetônicos do VIT. “O intuito era desorganizar um pouco o costume de fotografar com celular e dar mais tempo para o olhar, para ver o objeto, enxergar como a luz se relaciona nesse espaço e então pensar no enquadramento”, explica a doutoranda do PPGAV.

Ana Paula achou interessante que os discentes tivessem referências diferentes das dela e explorou algumas abordagens para se conectar com o estudante. “Percebi que conseguia um diálogo bem mais fluido se a conversa partisse da experiência do olhar do fotógrafo, ou seja, através de um desdobramento técnico do que através das questões contemporâneas da arte ocidental”, narra.

 

Foto em uma sala de aula. Em primeiro plano, de costas para a câmera, estão diversos jovens sentados. Na frente da turma, está uma fileira com 11 pessoas sentadas. Atrás delas, há uma projeção de um cartaz de divulgação do concurso.
Imagem: Mantu Das

Fotografando a Universidade

A pesquisadora também colaborou com a competição de fotografia VSHOOT (National level on-Campus Competition). O concurso foi rápido, durou apenas um dia. Os interessados em concorrer se inscreveram pela manhã e tiveram 3 horas para produzir e enviar as imagens. “O tema foi o próprio prédio da escola de design, cuja arquitetura foi projetada para ser ecologicamente sustentável”. Ana Paula fez parte da comissão de jurados, que também contou com uma equipe indiana de cinema.

 

Trabalhos e pesquisa: retrato e autorretrato

TEMPOLUZ, trabalho exposto pela doutoranda no VIT, é um exercício de retrato no qual duas pessoas se olham através da câmera. “A cada clique, a cada foto feita, eu altero um stop da velocidade do obturador deixando o espaço fotossensível cada vez mais exposto à luz”, explica. Desse modo, os curtos movimentos vão alterando a imagem produzida e cria-se um conjunto de imagens.

Atualmente, Ana Paula se dedica, sob orientação do professor Carlos Alberto Fajardo, à tese de doutorado Ela,. A pesquisa é um exercício de autorretrato, e Ela, é “a imagem primeira, essa vontade de estar ali, no mundo, de sair da gente, de se ver de alguma forma no mundo”. A doutoranda acrescenta que os autorretratos são todas as imagens que fazemos por nossa vontade, pois a imagem é a miragem que produzimos para conseguirmos nos ver fora de nós mesmos.

 

Foto de um homem observando uma exposição de fotografias. Ele tem cabelos curtos e escuros, veste uma camisa branca e uma calça cinza e está de costas. A exposição é formada por oito imagens. Sete delas estão fixadas lado a lado em um muro branco. A oitava imagem é maior que as outras e está suspensa, acima do muro. As fotografias são do rosto de uma mulher, que encara seriamente a câmera. As imagens posicionadas à esquerda são mais escuras, e passam a ser mais claras e iluminadas conforme estão à direita.
Imagem: Ana Paula Albé

 

 


Imagem de capa: Samara Macêdo