Relação entre imagens, algoritmos e percepção da verdade é tema de livro

Modo de Existência Algorítmico: da verdade como imagem à imagem como verdade é resultado do doutorado de Eli Borges Junior

Vida acadêmica
Foto de homem em pé sorrindo com as mãos nos bolsos. Ele é branco, tem cabelos curtos, lisos pretos e barba preta, usa camiseta branca, terno e calça pretos. O fundo é um painel com retângulos em preto e laranja e, ao lado, uma estante com livros. Em primeiro plano, um livro com a capa azul e branca sobre uma mesa preta com uma cadeira laranja.
 Em julho deste ano, aconteceu o lançamento da obra na livraria Drummond, na Avenida Paulista. Foto: Acervo pessoal/Eli Borges Junior

Em julho de 2024, o ex-aluno de Relações Públicas da ECA, Eli Borges Junior, publicou seu primeiro livro. Modo de Existência Algorítmico: da verdade como imagem à imagem como verdade é resultado de sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da ECA. A obra, segundo o autor, busca entender como as imagens podem influenciar a opinião pública, principalmente com as novas tecnologias da informação e da comunicação, como os algoritmos das redes sociais. Essa nova era, que o autor chama de “modo de existência algorítmico”, é o objeto de estudo de sua pesquisa.

 

Uma serpente virtual existe?

O livro de Eli propõe elucidar como os sentidos que as imagens transmitem estão em constante transformação. Para o autor, antes da era digital, as imagens eram meras representações de fatos. Hoje, elas são tidas como os fatos em si, como verdades incontestáveis. Essa reflexão acerca da mudança na relação entre imagens e público se faz ainda mais necessária com a chegada de tecnologias como os algoritmos e a inteligência artificial. Como exemplo, em um dos capítulos de seu livro, Eli apresenta o seguinte questionamento: uma serpente em realidade virtual existe ou não?

“Ela não existiria porque não é de carne e osso. Mas, ao mesmo tempo, você pode colocar óculos de realidade virtual, [e] a precisão é tal que, se ela te der um bote, você vai reagir”. É assim que Eli busca mostrar que, mesmo não tendo a mesma natureza de um corpo físico, a serpente virtual, à medida que promove uma reação, existe de algum modo

Esse tipo de realidade, da qual a serpente virtual, as demais imagens (geradas por inteligência artificial ou não) e suas relações com o público fazem parte é chamada pelo autor de “modo de existência algorítmico”. Nele, o universo das redes sociais é como uma extensão do mundo real, na qual nós passamos a conviver com as imagens em um regime de verdade absoluta.

 

Foto da capa de um livro. Ela é branca com linhas finas formando um quadriculado, com uma faixa ondulada azul horizontal no centro e alguns detalhes em laranja. No canto superior esquerdo, o título do livro: “Modo de existência algorítmico - Da verdade como imagem à imagem como verdade”. Na faixa azul, do lado direito, o nome do autor: Eli Borges Júnior. Na parte inferior, no centro, o logo da editora Paulus em preto e vermelho.
Publicada pela Editora Paulus, a obra faz parte da coleção Comunicação, que contém títulos de Ciro Marcondes Filho, Lucia Santaella e outros pesquisadores renomados da área. Foto: Divulgação/Editora Paulus.

 

Mundo virtual, consequências reais

Ao longo do livro, são abordadas três implicações fundamentais decorrentes dessa mudança de paradigma que é impulsionada pelos algoritmos. A primeira diz respeito a uma crise na noção de espectador, isto é, a relação cultural entre espectadores e imagens está se tornando tão familiar, uma vez que elas estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia graças às redes sociais, que a linha que os divide está quase invisível. Essa proximidade leva à segunda crise, agora na noção de verdade.

Quando admitimos que tanto uma serpente real como uma virtual existem, aquilo que antes era considerado a única verdade vai se alterando: agora, para algo ser real, não é mais necessário um corpo físico. Essa mudança pode gerar uma dificuldade para distinguir e assegurar a veracidade de fatos. “Por exemplo, quando a gente olha um vídeo nas redes sociais, a gente já não sabe muito bem se aquilo foi ou não real, se aquilo existiu ou não, né?”, exemplifica o pesquisador. 

Essa confusão leva à terceira e última implicação: uma crise na vida política. Se, até então, “fazer política” requeria a presença física — seja por meio de um discurso na tribuna ou de uma manifestação na rua —, agora requer a operação de imagens nas redes sociais. É nesse contexto que, segundo o autor, as notícias falsas ganham força.

 

“As notícias falsas são um sintoma dessa confusão em relação ao que é verdadeiro e o que não é. A simples crença que alguém deposita naquela imagem passa a ser suficiente para atestá-la como verdadeira. E aí as consequências são inimagináveis.”

Eli Borges Junior, professor e pesquisador

 

 

Foto de homem branco esboçando sorriso. Ele tem cabelos curtos, lisos e pretos, barba e bigode pretos e usa camisa branca.O fundo é cinza.
Foto: reprodução/ Lattes.

Sobre o autor

Eli Borges Junior se formou em Relações Públicas pela ECA e também em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Hoje, é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O docente e pesquisador conta que o interesse pelo funcionamento das imagens e o tema de sua pesquisa nasceram durante a graduação. O autor também faz questão de enfatizar que seu livro é resultado não apenas de seu trabalho, mas das ações de todos os professores da ECA.

 

 

Modo de Existência Algorítmico: da verdade como imagem à imagem como verdade está disponível no site da Editora Paulus.

 

 


Imagem de capa: Geralt/Pixabay.