Renee Hobbs fala sobre alfabetização midiática e digital em palestra na ECA
A pesquisadora, professora, ativista e profissional de mídia falou de suas produções acadêmicas e do projeto que realizou com instrutores de polícia norte-americanos
No final de maio, a ECA sediou uma palestra com Renee Hobbs, autoridade reconhecida internacionalmente na área de educação em alfabetização digital e midiática. O evento foi promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) e contou com a presença de docentes e estudantes.
Durante os últimos 13 anos, além de publicar 12 livros e 200 artigos acadêmicos, Renee fundou e dirigiu o Media Education Lab — laboratório cujo objetivo é melhorar a qualidade da educação em alfabetização digital e midiática por meio de bolsas de estudo e serviços comunitários e globais.
“Meu interesse é ter todo mundo experienciando o poder de aprender como a mídia funciona, como sistemas, como simbolismo, como formas de comunicação e expressão”.
Renee Hobbs, professora da Universidade de Rhode Island (URI), EUA
Alfabetização midiática em práticas instrucionais da polícia
A palestra teve como foco o programa de desenvolvimento profissional Media Education for Law Enforcement Officers, realizado em colaboração com a Academia de Polícia de Austin, Texas, nos Estados Unidos. O projeto teve como objetivo ajudar instrutores na construção de capacidade crítica, habilidades comunicativas e no uso de vídeos e da mídia digital para fins educacionais.
Renee indica que a cultura policial de violência tem afetado como os civis norte-americanos enxergam os policiais, além de motivá-los a pedir por reformas na educação policial.
Os policiais são treinados a partir do uso de vídeos. Esse recurso, quando analisado, indica a “perpetuação de estereótipos de gênero, raça, classe, e mostram como as comunidades trabalhadoras e de cor estão recebendo respostas violentas e até mortais da polícia de maneira desproporcional”, explica Renee.
É nesse contexto que a pesquisadora foi chamada para pensar em soluções. Segundo ela, era necessário ensinar aos instrutores como usar a alfabetização midiática nas práticas instrucionais. “Tivemos que redescobrir como usar vídeo no policiamento”, aponta ela.
O programa teve como objetivo fazer com que os instrutores de polícia alcançassem um nível mais alto de consciência sobre as influências da mídia em atitudes e comportamentos, e possibilitá-los a identificar como o contexto e a forma dos vídeos são usados para reforçar ou desafiar as relações de poder.
Ao todo, 36 instrutores participaram do projeto. No final do processo, muitos deles se mostraram interessados em participar de programas mais avançados.
A palestrante também conta que foi convidada a trabalhar em um curso obrigatório para todos os policiais do Texas. A missão é orientá-los em relação à interação civil, através do uso intenso de vídeo e alfabetização midiática. “Estamos aprendendo como os adultos dão sentido a práticas que afetam a identidade profissional, pessoal e a obrigação deles para com as pessoas que protegem”, pontua.
Propaganda, influência e educação midiática
Renee cita seu livro Mind Over Media: Propaganda Education for a Digital Age como bastante significativo para si. Na obra, a autora explica que as crianças estão expostas à influência da propaganda desde que nascem. Nesse contexto, ela busca entender porque é tão difícil discutir o tema nas escolas e questiona quem está ajudando esses estudantes a aprender a navegar entre os tipos de propaganda existentes.
“Propaganda representa o impulso humano de influenciar uns aos outros”, diz a pesquisadora. Essa influência ocorre através da linguagem, de imagens, símbolos e multimídia, e pode ser usada de maneira benéfica, mas também prejudicial.
Em uma sociedade vulnerável à desinformação, junto à personalização do consumo de conteúdos via algoritmos, além da polarização política, entender como esses mecanismos de influência funcionam na contemporaneidade passa pela educação midiática.
Para Daniela Osvald Ramos, docente do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), a alfabetização midiática e digital está relacionada com o desenvolvimento da capacidade das pessoas lerem criticamente qualquer tipo de mídia e conteúdo.
“A educação midiática tem uma papel central na formação de uma cidadania informacional, ou seja, a autonomia do indivíduo em entender a engrenagem técnica complexa por trás da mediação dos algoritmos na entrega de qualquer conteúdo na sociedade contemporânea”, diz Daniela.