Revistas se reinventam em novos formatos e possibilidades de interação

Artigo, parte da primeira edição do ano da Alterjor, analisa a passagem da revista impressa para a mídia digital e suas diferentes plataformas
 

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O meio digital trouxe desafios e mudanças significativas para a comunicação. No jornalismo, não foi diferente. Os jornais e revistas, antes impressos, precisaram se reinventar na adaptação de conteúdos para atender as demandas de seus leitores em uma nova realidade.

Segundo Lucilene dos Santos Gonzales e Morian Policeno dos Santos, os meios de comunicação tradicionais passaram a dividir espaço com a rede digital. Nesse ambiente, o público não só consume conteúdos, mas também os produz

Dentro desse contexto, o artigo A revista na era digital: paradigmas e formatos, de  Lucilene, docente associada da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Morian, mestre em Comunicação (Unesp), mostra como a mídia revista passou do impresso para o digital, explorando novos formatos e possibilidades de interação

 


Periodicidade x furo: a mídia revista

As autoras indicam que as revistas, impressas ou digitais, representam o jornalismo de maneira singular. Diferente do jornal, a revista traz em seu conteúdo um maior aprofundamento do que está sendo reportado.

“O  argumento  mais  sólido  e  que  dá  luz  ao  conceito  de  revista,  no  jornalismo, reside  na  especialização  e  em  seus  desdobramentos,  como  a  tematização,  que  é basicamente abordar os fatos/acontecimentos por temas, em vez de por fatos isolados”, explicam. 

Outra característica que define a revista é a periodicidade de produção. Esse aspecto permite maior tempo de apuração e desenvolvimento das reportagens. A internet, no entanto, é caracterizada pela rapidez de acesso à informação e pelo imediatismo. Com isso, segundo as autoras do artigo, uma nova característica é adquirida pelas revistas digitais: a publicação de matérias curtas e notas rápidas e objetivas. 

 

“Nesta  perspectiva  da  agilidade,  constante  atualização  e  corrida  pelo  ‘furo’,  a revista on-line foge um pouco da antiga premissa de entreter o leitor com longas páginas de  apuração  jornalística,  entretanto,  ainda  cumpre  seu  papel  de  informar  com  a segurança  dos processos  de  informação  e  garante  que  o  leitor  se  informe  de  forma rápida.”

 
Lucilene dos Santos Gonzales, docente (Unesp), e Morian Policeno dos Santos, pesquisadora (Unesp)

 

Apesar da mudança, nem todas as revistas seguem essa tendência. Algumas apenas passam o conteúdo impresso para o digital, conseguindo novos leitores pela facilidade de acesso.

Captura de tela da interface da plataforma GoRead. A imagem, com fundo cinza, conta com capas de várias revistas, como Veja, Carta Capital, Você SA e Você RH. Acima, há um menu, formado por círculos brancos individuais com as marcas das revistas em cada um.
GoRead, plataforma de revistas digitais. Imagem: Reprodução/GoRead

A revista na era digital

A partir da cibercultura, com a conexão dos consumidores da comunicação de massa tradicional com o meio digital, forma-se a cultura de convergência midiática. Segundo as pesquisadoras, esse fenômeno é caracterizado pelo “fluxo de conteúdos que são  transmitidos em múltiplas plataformas de mídia, com a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos” e por “públicos [que] buscam diversos meios de comunicação em procura de experiências de entretenimento”. 

Ciberespaço e cibercultura

O ciberespaço é o espaço virtual que existe no ambiente da comunicação. Conceito criado pelo escritor norte-americano William Gibson, é definido como um conjunto de redes de computadores.

Já cibercultura é um termo criado pelo filósofo francês Pierre Lévy. É definido por ele em seu livro Cibercultura como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”.

Lucilene e Morian indicam, ainda, que a partir de 2010 foi possível observar a tendência em que o leitor se volta muito mais para o meio digital. Antes disso, a procura pelo impresso predominava. Agora, a busca por informações ocorre por celulares, tablets e computadores de maneira gratuita. 

Tentando acompanhar a nova realidade, as revistas passaram do formato impresso para o digital. Essa transição não só trouxe desafios, como também vantagens. Com a internet, as revistas puderam inserir texto, imagem e som ao mesmo tempo em uma única produção. A partir disso, o leitor consegue interagir com o conteúdo e personalizá-lo

 

“Através da internet e suas inúmeras possibilidades de pesquisa, personalização das notícias, o leitor tem o acesso e o protagonismo inéditos facilitados pelos meios digitais”.

 
Lucilene dos Santos Gonzales, docente (Unesp), e Morian Policeno dos Santos, pesquisadora (Unesp)

 

Na era digital, o leitor precisa de estímulos sensoriais para ser atraído e continuar imerso nos conteúdos. O uso de hipertextos, diferentes formatos e gêneros de texto e a junção de outras mídias são algumas das possibilidades estratégicas para chamar a atenção do público e entretê-lo. 

 

Novos formatos, novas possibilidades

Lucilene e Morian identificam como os novos formatos de revistas: 

  • Captura de tela da capa e visão geral do aplicativo da revista Educação. A capa, em maior proporção e à esquerda, tem fundo desfocado em segundo plano. Em primeiro plano, a foto do rosto de uma criança de pele branca com uma pintura em laranja e branco. À direita da capa, em menor proporção, a demonstração das cinco primeiras duplas de páginas da revista.
    Demonstração da versão digital em forma de aplicativo da revista Educação. Imagem: Reprodução/Google Play
    sites  de  revistas ou web revistas: formato mais popular e gratuito. Seguem a estrutura de portais de notícias, com constante atualização de conteúdos. Podem ser um complemento da produção na íntegra da versão impressa ou digital. 
  • webzines: seguem a mesma estrutura e design da revista impressa. Como possuem a tecnologia flip-page, podem simular a passagem de páginas como no impresso. São distribuídas digitalmente para assinantes. 
  • revistas  portáteis: são encontradas no formato de aplicativos e podem ser baixadas pelos assinantes pela Apple Store e Google Play. ​​
  • revistas  expandidas: contam com a versão impressa e digital. No segundo formato, que segue a estrutura do modelo impresso, novos conteúdos de mídia são adicionados. 
  • revistas  nativas digitais: são criadas já no contexto do ciberespaço e contam com todas as possibilidades tecnológicas de interação.
  • revistas sociais: são criadas como softwares. Com base na coleta de dados dos usuários por meio de redes sociais, oferece “uma curadoria  de  conteúdo direcionado  e personalizado  aos  interesses  da  pessoa”, definem as pesquisadoras. 

     

Todos esses modelos indicam que a mídia revista independe do suporte impresso e pode ser adaptada ao meio digital e inovar na internet. A migração para web não representa o fim do formato tradicional das revistas. Esse processo, na verdade, permite que o conteúdo produzido tenha um maior alcance, conexão de diferentes mídias e interatividade com o público. 

 

Revista Alterjor

A revista Alterjor é uma publicação semestral do Grupo de Pesquisa Alterjor (ECA USP), que tem como foco o jornalismo popular e alternativo. Na primeira edição de 2023, destacam-se “análises, historiografia, multiculturalismo e impactos da tecnologia na comunicação" em artigos sobre temas como acesso à informação, podcast regional e circulação da imprensa alternativa, entre outros. 

A íntegra da edição atual e edições passadas podem ser acessadas pelo Portal de Revistas da USP.

 

 


Imagem de capa: Pixabay