Discentes se preparam para a etapa internacional do Siicusp

Seis trabalhos foram selecionados pela ECA para a segunda etapa do Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP

Vida acadêmica

Em março, acontece a segunda fase do Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (SIICUSP), evento organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação. O SIICUSP tem como objetivo, segundo a Pró-reitoria, “divulgar os resultados dos projetos de iniciação à pesquisa científica e tecnológica realizados por alunos e alunas de graduação da USP, bem como de outras instituições nacionais e internacionais” e está em sua 31ª edição.

Na primeira fase, que ocorreu em novembro do ano passado, estudantes de graduação tiveram a oportunidade de apresentar, em suas unidades, os resultados de suas pesquisas para docentes, pesquisadores-doutores, doutorandos e pós-doutorandos convidados pelas Comissões de Pesquisa e Inovação, que ficaram responsáveis pelas avaliações das pesquisas. 

Na ECA, entre os 38 trabalhos apresentados, seis foram selecionados para a etapa internacional:  três na grande área de Linguística, Letras e Artes, dois em Ciências Sociais Aplicadas e um em Ciências Humanas.

Na etapa internacional, os trabalhos serão apresentados novamente e os alunos da ECA terão a oportunidade de interagir com estudantes de toda a USP e de universidades estrangeiras. Os trabalhos passarão por nova avaliação e aqueles que tiverem melhor desempenho receberão menção honrosa e poderão ser selecionados para representar a Universidade em outros eventos e premiações.

Pesquisas da ECA no SIICUSP

O trabalho Importância da Revista do Arquivo Municipal de São Paulo e a sua relação com o Departamento de Cultura e Recreação em São Paulo nos anos 1930 foi selecionado para a fase internacional na grande área de Ciências Humanas. Thiago Souza Miranda, graduando em design de produto pela Fatec Tatuapé, um dos autores da pesquisa, conta que o estudo  foi realizado em parceria  entre o Centro Paula Souza, o Instituto Federal de São Paulo e a ECA, com orientação da doutoranda Sueli Soares dos Santos Batista.

 

Na fotografia em preto e branco, Mário de Andrade, um homem branco com cabelos castanhos. Ele usa um chapéu claro com uma faixa preta, óculos e um terno escuro. Ele está abaixado e conversa com várias crianças que têm véus claros sobre a cabeça. Ao fundo, homens e mulheres conversam entre si.
Mário de Andrade. Imagem: Foto: Acervo fotográfico do Museu da Cidade.

 

 

A pesquisa trata da criação do Departamento de Cultura e Recreação na cidade de São Paulo em 1935, pouco mais de uma década depois da Semana de Arte Moderna. Thiago conta que, para o desenvolvimento do estudo, o grupo fez a leitura de documentos históricos, principalmente da revista do Arquivo Municipal de nº 206. A edição comemorativa teve como foco o poeta Mário de Andrade, criador e primeiro diretor do Departamento de Cultura.

Além da revista, o livro de Paulo Duarte, Mário de Andrade por ele mesmo, com trechos de cartas trocadas entre o autor e Mário de Andrade foi outra referência utilizada no  trabalho. A obra investiga a relação de Mário de Andrade com o Departamento Cultura e como o seu encerramento, em 1938, foi duramente sentido pelo poeta modernista. “O Departamento foi sendo desmontado aos poucos, perdendo sua relevância e caindo no esquecimento”, conta Thiago, ressaltando os efeitos que a interrupção precoce do projeto teve no poeta “Essa morte lenta é refletida na morte de Mário de Andrade, como gestor e diretor". 

Para o estudante da Fatec, novos estudos sobre o tema são importantes para compreender o legado dos precursores do movimento modernista e o envolvimento deles com a educação e a cultura.

Na fotografia, um homem de cabelos curtos e barba, ambos pretos com alguns fios brancos. Ele veste uma blusa preta e está com os braços apoiados em uma mesa e fala algo no microfone, que contém o logo do Flow Podcast.. Ao fundo, uma parede de madeira com prateleiras em que estão dispostas bonecos em miniatura aparece desfocada.
Igor Rodrigo Coelho, cocriador e apresentador do Flow Podcast desde 2018. Imagem: Reprodução/Flow Podcast
 

 

Do papo de bar à sabatina presidencial: uma análise do Flow Podcast a partir de normas éticas e jurídicas do jornalismo na era digital foi um dos trabalhos selecionados para a etapa internacional na grande área de Ciências Sociais Aplicadas, com orientação de Vitor Souza Lima Blotta. André Derviche, recém-graduado no curso de Jornalismo e autor da pesquisa, conta que o seu objetivo foi entender como o público tem se informado no ambiente digital. O jovem pesquisador também identifica  o surgimento de novos atores, fora do campo jornalístico, que agora exercem funções de propagadores de informação.

A partir dessa problemática e por meio da análise do Flow Podcast, a pesquisa se aprofunda no processo de circulação da informação no ambiente digital e na atuação desses novos atores, avançando também sobre como o debate público se desenvolve nesse mesmo ambiente.

 

 

“Por conta desse alcance, deveria haver uma certa responsabilização desses atores, principalmente quando eles estão trabalhando com o interesse público, trabalhando com informação e com o direito à informação, que é um uma um aspecto fundamental da nossa sociedade.”

André Derviche, ex-aluno de Jornalismo da ECA

 

Estudos sobre a arte dos anos 1960 e 1970: de perversos a ordinários, as leituras possíveis sobre a produção de Alair Gomes e Antonio Manuel, com orientação de Liliane Benetti, se aprofunda nas obras dos dois artistas  e foi selecionada para a etapa internacional do SIICUSP na grande área de Linguística, Letras e Artes. 

Agê Gomes, estudante de Artes Visuais, analisa os pontos de contato entre as obras de Antonio Manuel, escultor e desenhista português radicado no Brasil, e o fotógrafo fluminense Alair Gomes.

 

 

Duas fotografias em preto e branco de dois homens com roupas de banho. Na primeira foto, o homem mais à esquerda está de braços cruzados e com uma feição séria. Ele é branco e tem cabelos escuros e curtos. O homem à direita está com as mãos na cintura e o rosto virado para o lado oposto da câmera, com o cabelo e a nuca na imagem. Ele é branco de cabelos escuros e curtos. Na segunda foto, o homem à esquerda está de costas enquanto o homem à direita está de perfil e apoia o braço esquerdo no ombro do primeiro homem.
Imagem: Alair Gomes/Pinacoteca de São Paulo.

 

 

Os dois artistas tem em comum a representação de corpos cis masculinos. Antonio Manuel chegou a  declarar seu próprio corpo nu como obra de arte no 19º Salão Nacional de Arte Moderna do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1970. Na ficha de inscrição para o evento constavam apenas as medidas do seu corpo. A obra foi rejeitada pelo júri, mas Antonio não só compareceu à mostra como realizou a sua performance  na abertura do evento. Já Alair, apesar de também trabalhar com outros tipos de fotografia, tem como seu trabalho mais conhecido uma série de fotos tiradas na praia de Ipanema.

Para Agê, uma pesquisa como essa é importante exatamente pela falta de trabalhos e acervos que se proponham a estudar a obra dos dois artistas, “em especial quando analisados sob a perspectiva de gênero e sexualidade contra hegemônicos”.

 

Outros três trabalhos também foram selecionados para a etapa internacional: 

  • Estudos sobre a arte dos anos 1960 e 1970: a videoarte Made in Brasil e a obra de Letícia Parente, do estudante de Artes Visuais Diego Luiz Pereira da Silva, com orientação de Liliane Benetti, na área de Linguística Letras e Artes. 
  • Composição textural e modelagem computacional a partir de Xenakis e Ligeti, do estudante do curso de Música Lucas Torrez Toledo, com orientação de Silvio Ferraz Mello Filho, na área de Linguística, Letras e Artes. 
  • As noções de público e multidão no contexto das tecnologias digitais e em rede: um estudo exploratório baseado na obra de Gabriel Tarde, da estudante do curso de Relações Públicas Larissa Alboreda Gandolla, com orientação de Dayana Karla Melo da Silva, na área de Ciências Sociais Aplicadas.

 

Além da Iniciação Científica, estudantes de graduação também podem desenvolver pesquisas participando de um dos quase 60 grupos de pesquisa da ECA.

 

 


Imagem de capa: divulgação