Ex-aluna coordena pesquisa sobre confiança de jovens na vacinação

Estudo global foi desenvolvido em parceria com pesquisadores estrangeiros e apresentado à Organização Mundial da Saúde e ao Unicef

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Capa do relatório da pesquisa Youth Vaccine Trust Global Report 2021, que mostra uma seringa de injeção sendo aplicada sobre um coronavírus estilizado, feito a partir de um globo terrestre roxo espetado por alfinetes em diversos pontos
Fonte: site Covid Youth Survey

Os impactos da pandemia não se restringem à saúde física e mental das pessoas nem à capacidade de atendimento dos hospitais e serviços de saúde. Desde o ano passado, os efeitos da crise causada pela covid-19 se expressam no aumento de desigualdades sociais que já existiam antes da eclosão da doença. No Brasil e em outros países, as maiores taxas de desemprego, fome e insegurança alimentar não são os únicos exemplos dessas desigualdades. O acesso à informação também é desigual, e isso ameaça a efetividade de políticas públicas de combate à pandemia, como a vacinação. 

O projeto Youth Vaccine Trust (Confiança de Jovens na Vacina, em tradução livre) procura identificar como jovens em todo o mundo estão tomando decisões sobre a vacinação contra covid-19. Para isso, foi elaborada uma pesquisa com o objetivo de avaliar quais fatores e motivos contribuem para a decisão de indivíduos jovens sobre se vacinar ou não. Recém-doutora pela ECA, a pesquisadora Beatrice Bonami é uma das coordenadoras do estudo, junto de Ian Soh, pesquisador do Imperial College, no Reino Unido, e Bushra Ebadi, pesquisadora da McGill University, no Canadá. 

O questionário, aplicado entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, foi traduzido do inglês para o árabe, francês, japonês, hindi, mandarim, persa, português, russo e espanhol, tendo acompanhado o lançamento das campanhas de vacinação pelo mundo. As perguntas foram criadas a partir da análise de estudos existentes sobre juventude, vacinas para covid-19 e infodemiologia. Foram também comparadas pesquisas e descobertas sobre respostas de jovens e não jovens, a fim de identificar e compreender quaisquer diferenças que possam existir entre esses perfis demográficos.

A pesquisa recebeu um total de 11.567 respostas de todas as faixas etárias. 10.026 respondentes tinham entre 18 e 30 anos e residiam em 145 países. Destes, 55,27% eram do sexo feminino e 44,73% do masculino. 78 países tiveram 5 ou mais entrevistados com participantes entre 18 e 30 anos, o que gerou um total de 9.897 respostas obtidas e analisadas.

Jovens do Brasil, Reino Unido, Índia, Américas e Europa manifestaram interesse em tomar a vacina o mais rápido possível. Em comparação, uma proporção significativa de jovens do Pacífico Ocidental e do Oriente Médio indicou o desejo de esperar de 3 a 12 meses antes de tomar a vacina. Na África e no Sudeste Asiático, há uma proporção equilibrada de jovens que expressam confiança nas vacinas para covid-19, com 33% dispostos a tomar a vacina o mais rápido possível e 35% desejando esperar de 3 a 12 meses antes de tomar a vacina. Diante desse quadro, os pesquisadores concluem que é preocupante que jovens em muitos países da América Latina, África e Sudeste Asiático estejam enfrentando abastecimento insuficiente ou distribuição lenta das vacinas.

O relatório da pesquisa identifica e explica as tendências globais e regionais na confiança em vacinas para jovens, com ações recomendadas para lidar com a hesitação e a desconfiança, incluindo pesquisas e estudos adicionais nas regiões em que jovens se mostraram menos confiantes na vacinação. O texto final foi apresentado para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e para a Unicef, a fim de subsidiar políticas para enfrentamento do problema. “A partir do nosso relatório, nós desenvolveremos estratégias comunicativas para alimentar campanhas de imunização, com foco na transparência de dados e confiança nas instituições”, explica Beatrice. 

Vale destacar que o relatório tem uma seção exclusiva para analisar o comportamento da população jovem brasileira, averiguando quais são as razões pelas quais jovens querem se vacinar ou não e quais são os fatores e dados que os ajudam a tomar uma decisão informada.

Para saber mais, acesse o relatório da pesquisa Youth Vaccine Trust na íntegra (em inglês)


Contribuições das Ciências da Comunicação e Informação para a Educação e a Saúde

Beatrice Bonami conta que a formação obtida na ECA teve papel fundamental para seu trabalho no projeto Youth Vaccine Trust. “Durante a minha tese e minha co-titulação pela University College London, eu trabalhei extensivamente técnicas de gestão de informação e da comunicação, o que foi crucial para coordenar essa pesquisa. No doutorado também obtive treinamento em revisão sistemática e analise de dados, que é o core de qualquer Survey. 

A pesquisadora defendeu em março de 2021 a tese Dez Categorias que Expressam a Interface entre Tecnologia Digital, Comunicação e Educação, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM). Beatrice, que começou sua carreira acadêmica atuando na área de Ciência da Comunicação e Informação com foco em Educação, passou a dedicar-se à desinformação em saúde, com alguns trabalhos também relacionados à campanhas de imunização. 

Desde 2020, ela trabalha com a OMS em estudos que buscam compreender a gestão da infodemia (nome dado ao fluxo intenso de informações) em países como Brasil, Colômbia, Chile, Serra Leoa, Camarões, Libéria e Gana. Segundo Beatrice, os princípios da Comunicação e Educação têm uma forte conexão com o trabalho que ela desempenha hoje. “Os pressupostos das áreas de Comunicação e Educação e de Comunicação e Saude são, na verdade, muito próximos, pois envolvem a quebra de ciclos de desinformação e as manobras para driblar a falta de acesso a comunidades e populações carentes.”

 


Imagem de capa: site Covid Youth Survey