Obras de estudantes de Artes Visuais são exibidas na Avenida Paulista
Os trabalhos integram o LED Show, uma das atrações do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, cocriado por doutoranda da ECA
Na edição de 2023 do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), a mostra Singularidades Interativas une arte e tecnologia no Centro Cultural Fiesp. O tema deste ano retrata as interações entre as inteligências artificial e humana, que teriam como resultado uma “consciência simulada”. Até 27 de agosto, além da exposição principal, que acontece de terça-feira a domingo, das 10h às 20h, o visitante também pode conhecer as instalações na entrada do prédio e nas estações Trianon-Masp e Consolação do metrô. A programação é totalmente gratuita.
Uma das mostras mais tradicionais do evento é o FILE LED Show. Todos os dias, das 19h às 6h, são exibidos vídeos na fachada do prédio da Fiesp. Os autores dessas obras são estudantes da ECA e outros 11 artistas nacionais e estrangeiros. A participação da Escola é fruto da articulação entre a professora Silvia Laurentiz, do Departamento de Artes Plásticas (CAP), e Paula Perissinotto, cofundadora do festival e doutoranda pela ECA. A proposta foi que os discentes das disciplinas Multimídia e Intermídia I, com apoio do grupo de pesquisa Realidades, tivessem espaço para “acessar linguagens, tecnologias de ponta e recursos inovadores para reflexão e experimentação do ambiente artístico e circuitos culturais”.
De acordo com Paula, o objetivo da parceria foi agregar valor cultural e dar oportunidade para o desenvolvimento de quem estivesse interessado em usar o espaço tecnológico como suporte para a criatividade. A pesquisadora também destaca a importância do aprendizado e do caráter laboratorial proporcionados pela participação neste processo em equipe tão elaborado.
Cotidianos Imperceptíveis
Os projetos ecanos seguiram o tema Cotidianos Imperceptíveis, que retrata os aspectos da vida diária que passam despercebidos pela maioria das pessoas. São atividades, comportamentos e acontecimentos tão comuns e repetitivos que passam a perder sentido, ocultando detalhes que podem mudar a perspectiva sobre as coisas. As imagens provocam questionamentos sobre as rotinas, resultando em reflexões e críticas sobre a vida contemporânea.
“Toda a conjuntura de trabalhos que reunimos condizia para uma ideia de cotidiano, que dialogava com toda a vida que se desenvolve e passa pela Avenida Paulista, e como tudo isso muitas das vezes acaba sendo imperceptível”, explica Gustavo de Oliveira, um dos alunos da professora Sílvia.
A turma foi dividida em grupos para desenvolver os projetos. A equipe de Gustavo, que também contava com Giovana Bars, Larissa Martins e Laura Alves, decidiu trabalhar com a quebra de expectativas no contexto urbano. A ideia foi transformar o prédio da Fiesp em um semáforo gigante e “brincar nesse jogo de cores e símbolos com o que se espera e não se espera de um semáforo convencional”, ele explica. Enquanto Gustavo, Larissa e Laura cuidaram da execução do vídeo, Giovana, que já tinha experiência com projetos gráficos animados e programação, adaptou as ideias para os moldes técnicos do FILE.
“O que eu mais gostei de todo o projeto é poder ver os testes feitos ao vivo na Paulista, a concretização do que já havíamos feito no computador. É uma sensação incrível conseguir ver um trabalho naquela dimensão e naquele lugar, uma oportunidade incrível.”
Gustavo de Oliveira, estudante de Artes Visuais
Já a proposta do grupo de João Vitor Otero foi expressar ideias sobre a pós-verdade e a inteligência artificial a partir de diferentes facetas. “O meu trabalho, em particular, é uma animação 3D simples low-poly [técnica de computação 3D feita com poucos polígonos] de rostos girando. As texturas dos rostos se alteram entre as de pessoas reais e algumas geradas artificialmente”, conta. O trabalho se inspirou em videogames dos anos 1990 e obras de ficção científica, como Blade Runner e Serial Experiments Lain. Além de João, o grupo foi composto por Julia Barbosa, Letícia Bruni, Sarah Jesus e Vito Sendrete.
Construção da memória
Desde 2000, quando foi criado, o FILE tem acompanhado as mudanças tecnológicas e da sociedade. Paula explica que tem sido necessário equilibrar as demandas contemporâneas, especialmente do público que já nasceu imerso na tecnologia, e o compromisso com a preservação e a valorização do patrimônio cultural construído pelo festival.
Para proporcionar um legado duradouro, a equipe do FILE tem a preocupação de manter seus registros acessíveis, permitindo que o público interessado e futuras gerações possam conhecer as obras reunidas pelo festival ao longo dos anos. A pesquisadora acrescenta que, para uma instituição cultural independente, um dos principais desafios é garantir a gratuidade e a democratização desse acesso.
Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV), o doutorado de Paula tem o objetivo de propor diretrizes de organização do acervo do festival. A pesquisa se apoia em estudos de caso de outras instituições independentes e em teorias sobre a construção da memória cultural no campo da Arte e Tecnologia. Paula leva em conta as dificuldades de registro em meios digitais efêmeros, que exigem estratégias específicas de documentação, e busca reunir as informações dispersas na internet para viabilizar um registro histórico consistente.
“A pesquisa tem tudo a ver com o festival, mas, ao mesmo tempo, também está indo para um caminho de escultura da memória, como se eu tivesse esculpindo uma memória que não tem ainda a forma.”
Paula Perissinotto, cofundadora do FILE e doutoranda do PPGAV
Serviço
Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE)
Data: 5 de julho a 27 de agosto
Horários: terça a domingo, das 10h às 20h
Local: Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp
Endereço: Avenida Paulista, 1313, Jardins, São Paulo - SP
Entrada gratuita
FILE LED Show
Data: 5 de julho a 27 de agosto
Horários: todos os dias, das 19h às 6h
Local: Fachada do Centro Cultural Fiesp
Endereço: Avenida Paulista, 1313, Jardins, São Paulo - SP