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Semelhança com a telenovela explica a popularidade dos K-dramas no Brasil

Artigo da Revista Rumores mostra crescimento expressivo das séries sul-coreanas no catálogo brasileiro da Netflix

Vida acadêmica

Cada vez mais as produções asiáticas, principalmente da Coreia do Sul, vêm ganhando espaço não só nas plataformas de streaming, mas também caindo no gosto da população brasileira. 

A disseminação dos chamados K-dramas e o motivo de sua grande aceitação pelo público brasileiro é tema do artigo K-dramas originais Netflix no catálogo brasileiro: melodrama e literatura midiática. O artigo relata o estudo feito por uma equipe de pesquisa da ECA composta pela professora Maria Cristina Palma Mungioli, do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), e pelos pesquisadores Ligia Prezia Lemos e Tomaz Affonso Penner e se encontra na edição 34 da Revista Rumores.
 

A popularização dos  K-dramas pelo globo

As produções do país asiático tiveram grande aumento após os anos 90, a partir de uma reestruturação das políticas audiovisuais e da expansão do setor baseada em políticas de investimento público voltadas para a economia criativa. “Considerar o setor audiovisual e o de entretenimento como estratégicos em termos de soft power desencadeou a conhecida e já mencionada onda coreana ou hallyu, cujo ápice ocorreu naquela região do globo (China, Japão, Tailândia) na virada do milênio, como fenômeno regional”, apontam os autores. No Brasil, a circulação das séries sul-coreanas cresceu a partir de 2010.

Arte da série Loucos Uns Pelos Outros. Um fundo roxo, com pequenas bolinhas da mesma cor em tom mais escuro preenche principalmente o lado esquerdo da imagem. Nesse mesmo lado, no canto superior, o logo da Netflix, formado pela letra “N” na cor vermelha, e o título da série em inglês “Mad For Each Other” na cor branca. À direita estão uma mulher e um homem sul-coreanos com aparência jovem. A mulher possui pele clara e cabelos negros, longos e ondulados, usa óculos escuros pretos e arredondados e uma flor do lado direito da cabeça. Do outro lado de sua cabeça há dois desenhos amarelos contornados em preto em formato de raio. Ela usa uma blusa de tricô verde e de mangas compridas e está com uma das mãos cobrindo parte de sua boca. O homem ao seu lado está totalmente envolto por um desenho de chamas de fogo, que variam entre os tons de vermelho e laranja. Sua pele é clara e seus cabelos pretos e curtos, cobrindo grande parte de sua testa. Seus olhos estão arregalados, sua boca se encontra aberta e suas sobrancelhas arqueadas. Ele usa camiseta branca e colete verde militar. No canto inferior direito da imagem há um triângulo amarelo com uma chama desenhada, como  uma placa que indica advertência e risco de fogo.
K-drama sul-coreano de 2021 do catálogo original da Netflix que aborda o hibridismo de gêneros entre a comédia e o melodrama. Imagem: Reprodução/Netflix

O artigo descreve a pesquisa realizada pelo grupo a partir de títulos originais da Netflix dos últimos quatro anos. Por meio da análise dos dados do catálogo, a equipe chegou à conclusão de que houve um crescimento significativo dos títulos originários da Coreia do Sul. “Em 2018, havia apenas 10 títulos sul-coreanos entre as 627 produções originais da Netflix, representando 1,59% do total. Em 2020, esse número passou para 56 títulos do país asiático entre os 1.535 do catálogo geral (3,64%). No último levantamento, foram mapeadas 154 produções da Coreia do Sul entre as 3.411 produções originais da Netflix identificadas no período (4,51%)”, pontuam os pesquisadores.

Para os autores, a atração exercida pelo formato K-drama na atualidade se deve a narrativas que abordam questões sociais e econômicas de amplitude global.  Temas como finanças, crises imobiliárias, aspirações e diferenças de classe, bullying no ambiente escolar e de trabalho, mobilização de sentimentos, crises ambientais e corrupção política e corporativa são muito comuns não só na cultura sul-coreana. Esses hábitos, comportamentos e cenários proporcionam um sentimento de reconhecimento pelos telespectadores. “Tal fato possibilita à audiência pensar sobre seu próprio país, em uma espécie de auto reflexividade proporcionada pelos K-dramas”, coloca o artigo. 
 

O gênero melodramático e a  semelhança com as telenovelas brasileiras 

O que explica o sucesso das séries coreanas no Brasil? Para os pesquisadores, as ficções sul-coreanas e as telenovelas brasileiras têm semelhanças quanto ao gênero televisivo que adotam: o melodrama. Isso explicaria porque, apesar das barreiras linguísticas entre o Brasil e a Coreia do Sul, a proximidade e a familiaridade com o gênero melodramático faz com que os K-dramas sejam bem aceitos pelo público brasileiro.

Os melodramas visam causar o sentimento de comoção nos telespectadores a partir de excessos, exageros e demonstração de sentimentos. O gênero possui características bem específicas, como personagens maniqueístas, temas universais e cotidianos, uma estética moralizante e a oposição entre o bem e o mal, na qual a vitória quase sempre pertence ao bem.

Na Coreia do Sul, o melodrama tem sido o gênero predominante na indústria cinematográfica, assim como nos principais enredos das telenovelas brasileiras. “Uma chave para acompanhar os fãs de K-dramas no Brasil pode estar relacionada à literacia da audiência brasileira em relação à telenovela e ao melodrama, pois o gênero é o cerne desse formato tão caro aos brasileiros”, apontam os pesquisadores. 

Em 2010, no Brasil,  já se falava das “novelinhas coreanas”, forma como eram chamados os K-dramas pelos primeiros fãs brasileiros. “A expressão sugere que os fãs já compreendiam o formato e sua estrutura melodramática e que usavam o diminutivo para se referir à quantidade de capítulos dessas produções bem abaixo dos mais de 100 capítulos das telenovelas brasileiras”, completa o artigo. 

 

Revista Rumores

Capa da revista. Sob um fundo verde, uma composição de imagens recortadas, preto e branco, pontilhadas: um olho fechado e sobrancelha, e, abaixo, uma orelha e abaixo, um olho aberto, olhando para cima e uma mão segurando um megafone. Em tons de verde e, atrás das imagens, um circulo ao meio, e uma espécie de tela, do tipo rede. Também em verde, com as letras em estilo cascata, está escrito Rumores. O nome da revista também aparece escrito em preto, no topo esquerdo. No rodape, à esquerda, em azul, escreve-se: V. 17 julho - dezembro 2023 n. 34
Imagem: Reprodução

Periódico científico voltado aos estudos de comunicação, linguagem e mídias. A edição nº 34 apresenta o dossiê Cultura das Mídias – 20 anos: intertextualidades, intermidialidades e práticas sociais, organizado por Tatiana Siciliano e Ercio Sena. Os onze artigos da edição consolidam a nova fase da revista, com nova linha editorial e projeto gráfico. Agora editada pela Metacrítica - Rede de Pesquisa em Cultura Midiática e voltada para a divulgação de artigos científicos, resenhas e entrevistas que contribuam para o debate sobre crítica de mídia e comunicação, a edição celebra os 20 anos de atividade do GT Cultura das Mídias nos encontros anuais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós)

A Revista Rumores – Revista Online de Comunicação, Linguagem e Mídias – é publicada semestralmente pelo Grupo de Estudos de Linguagem e Práticas Midiáticas (MidiAto), da ECA.

 


Foto de capa: Reprodução/Netflix