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Uma nova dinâmica para novelas: pandemia, serialização e streaming

Com produções interrompidas, emissoras se reinventam para manter o público cativo e as tramas interessantes, em contexto de crescimento das séries e do streaming

Comunidade
Foto de Lurdes, personagem interpretada por Regina Casé na novela Amor de Mãe. A mulher tem a pele morena e cabelos longos e escuros. Ela usa óculos e uma blusa amarela. O fundo está desfocado mas é possível identificar a silhueta de uma planta e de quadros na parede. No canto inferior direito, há o símbolo da Rede Globo.
A personagem Lurdes, interpretada por Regina Casé, em Amor de Mãe, novela das nove que só retornará após o fim da pandemia de covid-19. Foto: Reprodução/TV Globo

A crise do coronavírus afetou os mais diversos setores da sociedade. O entretenimento foi um deles. Afinal, a programação vista na televisão é resultado do trabalho de diversos profissionais, que se encontram diariamente, formam aglomerações e não podem abrir mão do contato físico, sobretudo na frente das câmeras.  

Segundo a própria TV Globo, em comunicado que anunciou a mudança de sua grade, "não há novelas sem abraços, apertos de mãos, beijos, festas, cenas de briga, cenas de amor, cenas de carinho, tudo aquilo que reflete a vida real, mas que, hoje, não pode ser encenado em segurança".

As alterações na programação não impactam apenas o entretenimento do telespectador, que agora revê as aventuras de Teresa Cristina e Griselda em Fina Estampa em vez de acompanhar Lurdes em sua busca por Domênico, em Amor de Mãe. Na verdade, toda a cadeia da produção de ficção televisiva brasileira será afetada.

Para a pesquisadora do Centro de Estudos de Telenovela (CETVN), Ligia Lemos, ainda não é possível mensurar quais serão as consequências da pandemia de covid-19. "Este é um momento em que todo o ambiente da indústria televisiva passa por incertezas referentes a como e quando se retomará a normalidade, ou mesmo como será essa nova normalidade", comenta. 

Os desafios serão enfrentados por todos. Pelos atores, que costumam alternar entre produções na televisão, no teatro, no cinema e mesmo na internet. Pelas marcas anunciantes e pelas empresas parceiras. Pelos profissionais que ficam nos bastidores. E principalmente pela emissora. 

 

Oportunidade de se reinventar: o streaming e a serialização das novelas

Se, anteriormente, era preciso esperar o horário da "novela das oito" para saber os desdobramentos da trama ou, caso perdesse o capítulo, pedir que alguém contasse o que tinha acontecido, hoje é possível assistir às novelas com bem mais liberdade, em dias e horários diferentes. Não é mais necessário esperar o Vale a Pena Ver de Novo para rever uma produção, já que apps e sites de streaming como o Globoplay permitem que todas as obras passadas sejam vistas na íntegra, a qualquer momento. 

Para Lemos, o crescimento do streaming ampliou muito o alcance das novelas. "Há um entendimento de que o streaming não rouba a audiência, mas soma-se ao ambiente televisivo, oferecendo à audiência novas possibilidades de acesso ao conteúdo".

O próprio Globoplay já vinha sendo impulsionado como uma plataforma de produções exclusivas e uma oportunidade de rever outros sucessos da Globo. Foi também em razão dele que a maior emissora do país passou a dar mais atenção às séries. 

O Centro de Estudos de Telenovela estuda, há algum tempo, a hibridização dos gêneros televisivos: a telenovelização das séries e a serialização das novelas. Com esse fenômeno, a Globo, por exemplo, vendeu a ideia da primeira e segunda partes de sua novela das nove, Amor de Mãe, que teve as gravações interrompidas pela pandemia. 

"Essa hibridização aproxima séries e telenovelas no sentido de que, em ambas, há uma narrativa que termina no episódio do dia. E há também outra história que vai se desenrolando em todos os capítulos durante a temporada da série ou a telenovela inteira", explica a pesquisadora. 


Imagem de capa: Divulgação/TV Globo