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O verdadeiro sentido da extensão universitária no curso de Publicidade

Bruno Pompeu, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda, compartilha ideias que têm surgido no debate sobre a curricularização da extensão

Vida acadêmica

Com algum atraso e não sem certo atabalhoamento, o processo de implementação da curricularização da extensão nos cursos de graduação da USP avança. E se, em meio a formulários, manuais, diretrizes, normativas, reuniões e muitas horas de trabalho, há algo que dê sentido a isso tudo — além do efetivo efeito positivo esperado, claro —, são as discussões acerca do que significa, atualmente, a extensão universitária no âmbito específico e autônomo da publicidade.

Foto circular de um homem branco de cabelos curtos e escuros e sem barba. Ele olha para a câmera sorrindo levemente e usa cuma camisa preta com estampa xadrez em cores claras na parte interna da gola.
O professor Bruno Pompeu, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda. Imagem: reprodução/ Casa Semio.

Já deveriam estar superadas as antigas concepções assistencialistas da extensão, bem como qualquer prática, atividade ou projeto de extensão que não consiga se livrar do autoritarismo, da verticalidade e da prepotência. Só que não estão. Por trás de discursos supostamente atualizados, críticos e bem embasados, inclusive com a disposição para se questionar coisas do campo alheio, escondem-se o risco da contraprodutividade e a deformação epistemológica e conceitual da própria extensão. Mas boa parte disso é apenas fruto da ignorância, do preconceito e da pouca abertura à discussão.

Nesse sentido, a Comissão de Coordenação (CoC) do curso de Publicidade e Propaganda da ECA tem promovido um interessante diálogo a respeito do sentido da extensão universitária, tendo compreendido até agora que:

  • A sociedade, aquela com que a universidade deve estabelecer diálogo por meio da extensão — ou da comunicação, como nos favorece e como quer Paulo Freire —, é composta por pessoas, mas também por organizações de vários tipos — empresas, inclusive;
  • Se a publicidade pode ser compreendida como uma triangulação de natureza política, econômica, social e midiática entre empresas (anunciantes), agências (de propaganda) e veículos (de comunicação), esse diálogo da universidade com a sociedade deve passar diretamente por essas instituições;
  • Não se trata de fazer trabalho de graça para quem não está precisando (via de regra, agências, anunciantes e veículos costumam estar muito mais bem equipados tecnicamente para desempenhar esse tipo de atividade do que a universidade);
  • Se trata de diversificar as atividades, pensando, sim, na prestação de serviço, mas por que não para organizações de outra natureza que não comercial, por que não para empresas pequenas, sem recurso mas com práticas alvissareiras?;
  • Com as empresas maiores, a questão não pode ser ouvi-las para compreender suas “demandas” (essas a gente de publicidade sabe muito bem quais são) — deve ser fazê-las nos ouvir também, para que as nossas demandas, de uma universidade pública, comprometida com a sociedade, de um curso com forte caráter crítico e humanista, com um corpo discente tão bem preparado quanto diverso, diga às agências e às marcas, por exemplo, que publicidade e que tipo de iniciativas se esperam delas;
  • A abertura do próprio curso — nossos conteúdos, nossos debates, nossas produções, nossas contribuições ao mercado e ao campo científico, mas também nossas angústias, nossas carências, nossas contradições e idiossincrasias institucionais — à sociedade pode ser uma experiência transformadora e pluralmente enriquecedora, envolvendo os familiares de nossos estudantes, os alunos e os docentes de outras instituições, profissionais do mercado e gente que, querendo enfrentar o tão atual paradoxo do consumo e da cidadania, encontre aqui o espaço e o ambiente mais privilegiados.

A curricularização da extensão precisa ser pensada e praticada de forma ampla, não apenas com atividades desenvolvidas em disciplinas obrigatórias, mas também a partir de projetos de natureza transdisciplinar, dando protagonismo e autonomia ao aluno de cada curso. Por enquanto, nos damos por satisfeitos por temos superado, ao menos internamente, as barreiras, as incompreensões e os preconceitos conceituais que nos rodeavam.

 

Bruno Pompeu
Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda

 

 


Imagem de capa: Amanda Ferreira/ LAC ECA