Estudante da ECA conta sua experiência em doutorado-sanduíche no exterior

Wellington Nardes passou um semestre na Universidade de Guadalajara, no México, com bolsa da Capes; doze alunos da ECA foram contemplados em novo processo seletivo e viajam em 2024 
 

Vida acadêmica

Wellington Nardes, aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), sob orientação do professor Adilson Citelli, passou sete meses na Universidade de Guadalajara, no México, desenvolvendo sua pesquisa de doutorado. Ele foi contemplado com uma bolsa do Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior (PDSE). 

 

Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior (PDSE)

O PDSE é coordenado pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e oferece bolsas de doutorado-sanduíche a instituições de ensino superior com curso de doutorado reconhecido pelo governo federal. As bolsas podem contemplar o pagamento de mensalidade, auxílio deslocamento, auxílio instalação, auxílio seguro-saúde e, em alguns casos, adicional de localidade, podendo durar de seis a 10 meses.

 

Foto de Wellington ao lado do professor Gómez. À esquerda, está o professor, de pé e com as mãos nos bolsos da calça. É um homem branco, de barba e cabelos grisalhos e veste uma camisa bege, calça verde e sapatos marrons. Ao seu lado está Wellington, de pé com as mãos ao lado do corpo. É um homem branco, de cabelos castanhos e barba castanha com algumas partes grisalhas, veste camisa social vermelha, calça jeans e sapatos pretos.
Wellington Nardes ao lado de Guillermo Orozco Gómez.
Reprodução: Arquivo pessoal/ Wellington Nardes

Wellington é formado em jornalismo, mestre em comunicação pela ECA e desenvolve sua tese de doutorado na área da educomunicação. No doutorado, explora a intersecção entre a comunicação e educação como materialização do pensamento freireano nos dias de hoje. A escolha de Guadalajara como sede de seus estudos no PDSE se deu, principalmente, pela presença do professor Guillermo Orozco Gómez, que conviveu e estudou com Paulo Freire em Harvard, nos anos 1980.

Para Wellington, a experiência fora do país foi um divisor de águas na sua pesquisa. Ouvir de outra universidade o que Paulo Freire representa para a educação mundial era um sonho: “eu encontrei no Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior, o PDSE, a oportunidade de realizar esse sonho”, afirma o pesquisador.
 

Experiência fora do país

A maioria dos intercâmbios de estudo da ECA são para a Europa. Destinos como a França, Itália, Portugal, Alemanha e Espanha são os mais populares e procurados pelos estudantes. Porém, para Wellington, o México sempre foi a primeira opção. De acordo com o pesquisador, não porque as universidades da Europa deixem a desejar em conteúdo ou honras acadêmicas, mas porque decidiu, em seu doutorado, valorizar os saberes do sul global. 


A expressão sul global é uma referência aos países localizados majoritariamente no hemisfério sul da Terra que, considerando suas diferenças culturais, passam por problemas semelhantes de desigualdade social, disparidade de gênero, pobreza, entre outros. Epistemologias do Sul, livro e termo cunhado por Boaventura de Sousa Santos, professor da Universidade de Coimbra, é uma referência para a pesquisa de  Wellington, já que fala sobre valorizar os saberes do sul global e reconhecer os conhecimentos gerados em lutas sociais contra a opressão. “Eu falo tanto de epistemologias do Sul, de reconhecimento do Sul Global, dos saberes da América Latina, da Ásia, da África... Eu não vou pra Europa”, comenta quanto a sua escolha para o doutorado-sanduíche. 


Por fim, o México virou sua casa por cerca de um semestre. Wellington conta que o povo do país é de fato muito acolhedor, e que aprendeu muito mais com a gente daquele país do que com os grandes mestres em si: “você tem ali uma troca cultural muito enriquecedora, frutífera e transformadora pro teu ser e estar como sujeito social”.

Foto de Wellington em frente à Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na cidade do México. Wellington está de pé e segura uma bandeira do Brasil. É um homem branco, de cabelos castanhos, barba castanha e levemente grisalha, veste camiseta azul marinha, calça preta e tênis preto. Está no centro da imagem. Ao fundo e à esquerda, está a Basílica; um prédio arredondado, com telhado cônico nas cores verde água e branco, com uma cruz em sua fachada. À direita, está uma construção antiga com paredes cor de tijolos e  com torres em seus quatro cantos, uma abóbada amarela no centro, portas ovaladas e um relógio no centro de sua fachada.

Wellington em frente a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México. Reprodução: Arquivo pessoal/ Wellington Nardes

 

“Quando a gente vive uma experiência como essa, a gente não vive apenas a experiência acadêmica, vive uma experiência pessoal também, de crescimento como homem, como ser humano, como homem Latino.”

Wellington Nardes, doutorando em Ciências da Comunicação

 

Dicas para enfrentar o processo seletivo

O processo seletivo para o PDSE pode parecer assustador, mas algumas dicas podem facilitar a vida do candidato. Wellington recomenda muita organização e antecedência. “Ler e acompanhar os editais dos anos anteriores, se organizar com o exame de proficiência, desenvolver o projeto de pesquisa ou melhorar aquele projeto de pesquisa que você utilizou para entrar no doutorado, entrar em contato com diversos professores em outros lugares do mundo, pensar sempre em dois ou três destinos, saber exatamente o porquê daquele país que você está escolhendo”, explica. Para o doutorando, embora o processo seletivo tenha sido desafiador, tornar o sonho de estudar no exterior possível foi um grande combustível para seguir em frente.


O número de bolsas, apesar de contemplar uma significativa quantidade de pessoas, ainda não é o suficiente, segundo o pesquisador; ele acredita que essa oportunidade de intercâmbio deveria ser oferecida a todos os pós-graduandos. Na época em que ele prestou o processo seletivo, em 2021, uma grande preocupação para adquirir a bolsa era a situação econômica e sanitária do país e o corte de verbas para a pesquisa pelo Governo Federal. “A gente sabe que o ex-presidente da República… não era sujeito muito afeito à ciência e não era sujeito muito afeito à educação”. O anúncio, em 2023, do reajuste das bolsas da Capes deixou o pesquisador um pouco mais otimista: “não é suficiente, mas pelo menos eu acho que há um movimento um pouco mais favorável".

 


Ecanos no exterior em 2024

Para o ano de 2024, doze estudantes da ECA foram contemplados com bolsas do PDSE e irão realizar parte de suas pesquisas fora do país. Os aprovados são:

Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA)
Alexandre Nakahara (Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA)

João Luiz Borogan Cerqueira (Universidade Nova de Lisboa, Portugal)

Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV)
Cristina Paiva (Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III, França); 
Lara Cristina Casares Rivetti (Universidade Humboldt de Berlim, Alemanha); 
Lara Ovidio de Medeiros Rodrigues (Universidade das Artes de Londres, Inglaterra);
Leonardo Nones Antonucci (Universidade Estadual de Wayne, EUA); 
Milena Batista Durante (Universidade da Cidade de Nova Iorque, EUA).

Programa de Pós-graduação em Música (PPGMUS)
Laira Ferreira de Campos (Universidade de Salamanca, Espanha);
Leon Steidle (Universidade de Paris-VIII, França); 
Lucas de Oliveira Vieira (Universidade de Surrey, Inglaterra).

Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas (PPGAC)

Howardinne Queiroz Leão (Universidade Autônoma do México, México)

Katia Regina Barbosa de Brito (Universidade Autônoma Metropolitana, México)

 

Para mais informações sobre o processo seletivo de bolsas para doutorado-sanduíche e outras oportunidades, acesse o site da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e o site da Capes

 

 

*Matéria editada em 9 de fevereiro de 2024 para correção do número de bolsistas contemplados e inclusão de seus nomes, considerando o resultado dos editais Print USP - PDSE 07/2023 e Print USP - PDSE 11/2023.

 

 


Imagem de capa: arquivo pessoal/ Wellington Nardes.