Grupo Multidisciplinar de Estudo e Pesquisa em Arte e Educação reúne 12 anos de produção em site; estudos buscam promover um novo entendimento sobre arte e educação
No dia 10 de maio, o Grupo Multidisciplinar de Estudo e Pesquisa em Arte e Educação (GMEPAE) lançou seu portal, em evento divulgado pela ECA.
Sumaya Mattar. Imagem: Reprodução/Lattes
Sumaya Mattar, professora do Departamento de Artes Plásticas (CAP) e diretora do grupo, explica que a criação do site é um sonho antigo. O grupo já tinha feito outras tentativas de ter esse espaço, mas que não deram certo.
“Sempre foi ficando como uma vontade e ao mesmo tempo como uma preocupação grande de não ter um lugar que a gente pudesse bater o olho e reconhecer o que nós estamos fazendo e divulgar o que nós estamos fazendo”, conta.
Sobre o grupo
O GMEPAE é um grupo dedicado ao ensino e aprendizado de arte. O grupo foi fundado há doze anos por Sumaya. “Ele surgiu exatamente de uma questão central para todos nós que fomos nos reunindo em torno do grupo, que é a ideia de que o professor de arte também é uma pessoa que pesquisa, que cria, que inventa”, conta a pesquisadora.
Imagem: Reprodução/Site do GMEPAE
O grupo surgiu a partir de uma perspectiva de prática multidisciplinar e, desde o começo, congregou artistas, professores e teóricos. Seu primeiro evento aconteceu em setembro de 2011 e buscou discutir os processos de criação na educação e nas artes. Segundo Sumaya, muitas pessoas que participaram desse primeiro encontro seguem no grupo até hoje.
Sumaya Mattar e Alberto Roiphe, professor do Departamento de Didática da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e vice-coordenador do grupo, fizeram mestrado e doutorado juntos, na Faculdade de Educação (FE) da USP, sob orientação da professora Hercilia Tavares de Miranda.
É a professora Hercilia, que hoje participa do GMEPAE, que apresentou a Sumaya a perspectiva da criação didática, pedagógica. Hercilia discutia a figura do professor, sobretudo o de escola pública, como alguém capaz de renovar sua prática e criar aulas, como um artista cria suas obras.
O GMEPAE desde o começo busca acolher pesquisas de mestrado e doutorado, mas também professores que desejam renovar suas práticas de ensino e se aproximar da universidade. Ele ganha, assim, essa característica de não ser só um ambiente de estudo, mas também de oferecimento de atividades de extensão e de contato com a sociedade.
A criação do portal
O sonho começa a virar realidade com a chegada de Leandro de Oliva Costa Penha, doutorando orientado por Sumaya e pesquisador bolsista do CNPq. Ele estuda o ensino de arte na escola pública periférica com o território onde está inserida. Também é líder do Projeto Palco, que promove as artes entre pessoas em vulnerabilidade social.
Leandro de Oliva Costa Penha. Imagem: Reprodução/Lattes
Leandro já tinha experiência com a criação de portais acadêmicos por causa de sua participação na criação da plataforma Conexões USP periferias, parte do projeto Democracia, Arte e Saberes Plurais (DASP) da Cátedra Olavo Setubal de Artes, Cultura e Ciência do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. A plataforma agrega teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso sobre favelas e periferias.
Leandro se dedicou ao processo de pesquisa e curadoria para o portal GMEPAE. Estudou sites de outros grupos de pesquisa em arte-educação, levantou os materiais a serem incluídos no site e fechou a parceria com a VAR digital, empresa que cuidou gratuitamente da parte técnica da produção do site .
Sobre a importância do site, Sumaya destaca: “É necessário dar visibilidade para aquilo que, com muita dificuldade, a gente faz. Tanto para mostrar que é possível fazer, quanto para mostrar que precisa ser feito”. A pesquisadora também comenta a importância de duas bolsistas contempladas pelo Programa Unificado de Bolsas (PUB), que ajudam a abastecer o site do projeto.
A atuação do grupo
O GMEPAE tem buscado incluir nas discussões sobre o ensino de arte e a formação de professores pautas sobre questões étnico-raciais, de diversidades culturais e de gênero, buscando assumir uma perspectiva que se distancia da abordagem hegemônica tradicional.
Uma de suas ações nesse sentido é o Curso de Extensão Arte e Educação para Professores, projeto de extensão gratuito, oferecido a professores de escola pública. O curso é ministrado pelos próprios membros do grupo, que também criaram o programa de ensino.
“O cerne, o coração é exatamente um ensino de arte antirracista, decolonial, democrático , emancipatório, que reforce o comprometimento com a escola pública, com a educação pública de qualidade”, comenta Sumaya.
Outro projeto do grupo é o Matizes: diversidade na roda da arte educação. Criado pelos estudantes da licenciatura em Artes Visuais, surge a partir da necessidade de confrontar situações constrangedoras envolvendo questões étnico-raciais vividas por alunos.
Segundo Sumaya, esses estudantes perceberam a necessidade de ação político-pedagógica, que visasse mudar o currículo do curso para incluir tópicos ligados às etnias indígenas e afro-brasileiras. O grupo busca “inserir na formação do artista e do professor esses tópicos para que, quando eles forem atuar de fato, eles atuem já numa outra ‘chave’, que não seja uma chave racista, etnocentrista, ocidentalista, etc.”
Em maio de 2022, o Matizes realizou o encontro “Argila, Ancestralidade e Memórias”, acompanhado pela artista Priscila Leonel. Imagem: Reprodução/Site do GMEPAE
O GMEPAE conta também com o Acervo Múltiplas Vozes, projeto onde, através do método da história oral, estudantes recolhem diferentes narrativas. O projeto está vinculado à disciplina História do Ensino da Arte no Brasil: trajetória política e conceitual e questões contemporâneas, integrante da licenciatura em Artes Visuais.
Os estudantes escolhem uma pessoa para entrevistar e estudam seu universo, trazendo questões como arte e educação nas periferias, pautas LGBTQIA+, culturas afro-brasileiras e indígenas, questões ligadas à migração, às infâncias ou questões familiares.
Essa abordagem menos convencional dada à disciplina está de acordo com o “DNA” do GMEPAE, que busca trazer um novo olhar para arte e educação. Nas palavras da própria Sumaya:
“[Essas dinâmicas] podem não ter nada a ver diretamente com essa ideia de arte e educação que está consolidada, que está muito ligada a essa formação romântica deste artista. Mas quando a gente vai ver, existe muito de arte e muito de educação nessas histórias de vida”.